quinta-feira, 21 de julho de 2011

Hoje nasce o Público Mais |

Hoje nasce o Público Mais

20.07.2011 - 21:11 Por Bárbara Reis

O PÚBLICO é há mais de 20 anos um jornal de referência em Portugal e no mundo de língua portuguesa, um jornal reconhecido pela qualidade do seu jornalismo e pela sua independência. E está — tal como os grandes jornais internacionais — a viver o impacto da mudança de hábitos dos leitores em todo o mundo ocidental.
O fundamental é a sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente verdadeiro O fundamental é a sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente verdadeiro (PÚBLICO)
Hoje, o leitor acorda e vê rapidamente as notícias no telemóvel, chega ao trabalho e acompanha a actualidade ao longo do dia, ouve um noticiário no carro a caminho de casa, vê televisão depois do jantar e faz novo radar às notícias nos sites antes de ir dormir. Pelo caminho, vai recebendo alertas de última hora no telefone e, se estiver a viajar, descarrega o seu jornal em PDF. O que sobra para ler no jornal impresso que no dia seguinte está à venda no quiosque? Na verdade, muito. O jornalismo tem mil definições. Há 15 anos que o think tank americano Committee of Concerned Journalists desenvolve um fórum contínuo com jornalistas de costa a costa para tentar fixar a essência do jornalismo. O resultado da pesquisa é o retrato perfeito desta profissão: o compromisso com a verdade é o principal propósito do jornalismo; a sua primeira lealdade é para com os cidadãos; a verificação é a essência da sua disciplina; a independência em relação às pessoas tratadas nas notícias é estrutural; o jornalismo serve de indicador para as pessoas e instituições com poder; dá aos cidadãos um fórum de crítica e compromisso; torna interessantes as coisas importantes; e dá às notícias contexto e proporção. Só falta acrescentar uma coisa: isto custa muito dinheiro. Só uma redacção forte, experiente e com jornalistas especializados conseguirá dar resposta a este conjunto de fundamentos. Hoje, com a velocidade, quantidade e superficialidade da informação — tantas vezes frustrantemente monocórdica e repetitiva —, os jornais de referência são ainda mais cruciais. A crescente falta de meios suscita aliás o risco — ou até a tentação — de descaracterizar a matriz original dos jornais. Cada um escolherá ler, ver ou ouvir os conteúdos na plataforma — e na máquina — que quiser. Isso hoje já é um detalhe. O fundamental é a sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente verdadeiro. São os jornais de referência que escrutinam, fiscalizam e verificam; que aprofundam, analisam e contextualizam o nosso país e o mundo; que hierarquizam e dão a proporção certa ao que se passa à nossa volta; que investem tempo e dinheiro numa reportagem na Somália e numa investigação sobre o que polui o estuário do Tejo. E, por isso, são os jornais de referência que geram a maioria das notícias que, uma vez publicadas, alimentam rádios, televisões e sites, para não falar dos blogues, do Google, do Twitter ou do Facebook. O escândalo das escutas no Reino Unido e a cultura que parece existir nos tablóides de Rupert Murdoch mostram preto no branco o papel vital do jornalismo de qualidade, independente, que não serve interesses, observa a realidade, procura respostas, descobre algumas, verifica todas e organiza a informação para o público. Alguém dizia há uns anos, entre o oceano de presságios pessimistas, que os jornais de qualidade, tal como as grandes cidades, não vão mudar de lugar. Ou seja, vão continuar a definir a agenda dos seus países. Nós acreditamos nisso. A venda de jornais no Ocidente, porém, está a cair 10% por ano, ano após ano, desde 2007. Há apenas cinco anos, o PÚBLICO vendia acima de 50 mil exemplares por dia; hoje, vendemos 30 mil. Nos últimos meses, desapareceram do mercado português mais de seis mil compradores de jornais diários. Aos novos hábitos juntam-se agora os efeitos da crise. O problema é que, ao contrário dos tablóides, cujas vendas sobem, o jornalismo de qualidade não encontrou ainda o modelo de negócio que lhe permita auto-suficiência e saúde financeira. Aumentámos o tráfego no nosso site — 40% nos últimos oito meses e acabámos de ultrapassar, em Junho, a barreira dos 40 milhões de pageviews num só mês. Mas quando pomos num prato da balança as receitas de vendas do jornal impresso e a sua publicidade e, no outro prato, as receitas das assinaturas digitais e a sua publicidade, os pratos ficam ainda muitíssimo desequilibrados.Estamos a fazer uma travessia do deserto e sentimos, diariamente, que o fim da odisseia ainda vai longe. Foi neste contexto que a direcção editorial do PÚBLICO criou um novo projecto: o Público Mais. Como o nome mostra, o objectivo é “fazer mais PÚBLICO”. Queremos desenvolver um jornalismo de excelência e fazer trabalhos que, sendo essenciais para o conhecimento, estão a desaparecer dos jornais. Mantendo os valores intocáveis de rigor e independência, o Público Mais quer contribuir para o conhecimento e desenvolvimento da sociedade em quatro áreas: Reportagem; Cultura; Ciência/Ambiente, e Multimédia. Aprendemos com os grandes mestres da filosofia que o conhecimento é poder. Dar poder aos cidadãos para que participem de forma activa nas suas comunidades (“it takes a village…”). Sabemos que com mais conhecimento os cidadãos são mais livres e mais cultos. O que faz o jornalismo? Converte informação em conhecimento. Com graça e pontaria, Bill Kovach, fundador do Committee of Concerned Journalists, diz que as redacções dos bons jornais são “think tanks de construção de cidadania”. Ao fim de um ano e depois de reuniões com muitas empresas e instituições, o Público Mais recebeu o apoio de seis empresas, às quais agradecemos hoje, e assim o faremos uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos — a duração deste projecto. Estas seis empresas — EDP, Galp, Mota-Engil, Banco Santander Totta, REN e Vodafone — mostram deste modo o seu perfil filantrópico e acreditam, como nós, na importância do jornalismo de qualidade. E uma última coisa: revelam ser empresas de grande maturidade. Aceitaram o princípio da independência total, aceitaram que não vão discutir nem saber com antecedência como o PÚBLICO vai usar os recursos deste novo fundo, aceitaram receber prestação das contas (onde fomos, fazer que trabalhos e gastando exactamente quanto) apenas no fim de cada ano. Estas empresas sabem que o PÚBLICO não fará jornalismo nem mais nem menos simpático sobre qualquer tema de Portugal ou do mundo, incluindo as suas próprias empresas. Não foi preciso sermos nós a dizê-lo, foram os próprios presidentes dos conselhos de administração destas seis empresas que o disseram. Não há contrapartidas. Sabemos que não somos a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos, onde a filantropia atravessa a sociedade com uma naturalidade extraordinária. Nesses países não é aliás raro ver os media, públicos ou privados, serem financiados por empresas ou instituições privadas. Há casos como o Financial Times, que tem cadernos especiais financiados por empresas, a histórica PBS, respeitadíssima televisão pública americana, ou o novo jornal online Huffington Post, cuja fundadora faz campanhas de recolha de fundos e recebe doações de cinco milhões de dólares num só ano. Em Portugal não há esta tradição. Mas as empresas que participam neste fundo estão, com este gesto de cidadania, a quebrar a norma e a acreditar na inovação. Por tudo isto, agradecemos aos mecenas o apoio a esta causa. E esperamos que os leitores do PÚBLICO — os melhores e mais exigentes críticos — beneficiem e gostem dos trabalhos que vão nascer a partir de hoje.

20.07.2011 - 21:11 Por Bárbara Reis

O PÚBLICO é há mais de 20 anos um jornal de referência em Portugal e no mundo de língua portuguesa, um jornal reconhecido pela qualidade do seu jornalismo e pela sua independência. E está — tal como os grandes jornais internacionais — a viver o impacto da mudança de hábitos dos leitores em todo o mundo ocidental.
O fundamental é a sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente verdadeiro O fundamental é a sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente verdadeiro (PÚBLICO)
Hoje, o leitor acorda e vê rapidamente as notícias no telemóvel, chega ao trabalho e acompanha a actualidade ao longo do dia, ouve um noticiário no carro a caminho de casa, vê televisão depois do jantar e faz novo radar às notícias nos sites antes de ir dormir. Pelo caminho, vai recebendo alertas de última hora no telefone e, se estiver a viajar, descarrega o seu jornal em PDF. O que sobra para ler no jornal impresso que no dia seguinte está à venda no quiosque? Na verdade, muito. O jornalismo tem mil definições. Há 15 anos que o think tank americano Committee of Concerned Journalists desenvolve um fórum contínuo com jornalistas de costa a costa para tentar fixar a essência do jornalismo. O resultado da pesquisa é o retrato perfeito desta profissão: o compromisso com a verdade é o principal propósito do jornalismo; a sua primeira lealdade é para com os cidadãos; a verificação é a essência da sua disciplina; a independência em relação às pessoas tratadas nas notícias é estrutural; o jornalismo serve de indicador para as pessoas e instituições com poder; dá aos cidadãos um fórum de crítica e compromisso; torna interessantes as coisas importantes; e dá às notícias contexto e proporção. Só falta acrescentar uma coisa: isto custa muito dinheiro. Só uma redacção forte, experiente e com jornalistas especializados conseguirá dar resposta a este conjunto de fundamentos. Hoje, com a velocidade, quantidade e superficialidade da informação — tantas vezes frustrantemente monocórdica e repetitiva —, os jornais de referência são ainda mais cruciais. A crescente falta de meios suscita aliás o risco — ou até a tentação — de descaracterizar a matriz original dos jornais. Cada um escolherá ler, ver ou ouvir os conteúdos na plataforma — e na máquina — que quiser. Isso hoje já é um detalhe. O fundamental é a sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente verdadeiro. São os jornais de referência que escrutinam, fiscalizam e verificam; que aprofundam, analisam e contextualizam o nosso país e o mundo; que hierarquizam e dão a proporção certa ao que se passa à nossa volta; que investem tempo e dinheiro numa reportagem na Somália e numa investigação sobre o que polui o estuário do Tejo. E, por isso, são os jornais de referência que geram a maioria das notícias que, uma vez publicadas, alimentam rádios, televisões e sites, para não falar dos blogues, do Google, do Twitter ou do Facebook. O escândalo das escutas no Reino Unido e a cultura que parece existir nos tablóides de Rupert Murdoch mostram preto no branco o papel vital do jornalismo de qualidade, independente, que não serve interesses, observa a realidade, procura respostas, descobre algumas, verifica todas e organiza a informação para o público. Alguém dizia há uns anos, entre o oceano de presságios pessimistas, que os jornais de qualidade, tal como as grandes cidades, não vão mudar de lugar. Ou seja, vão continuar a definir a agenda dos seus países. Nós acreditamos nisso. A venda de jornais no Ocidente, porém, está a cair 10% por ano, ano após ano, desde 2007. Há apenas cinco anos, o PÚBLICO vendia acima de 50 mil exemplares por dia; hoje, vendemos 30 mil. Nos últimos meses, desapareceram do mercado português mais de seis mil compradores de jornais diários. Aos novos hábitos juntam-se agora os efeitos da crise. O problema é que, ao contrário dos tablóides, cujas vendas sobem, o jornalismo de qualidade não encontrou ainda o modelo de negócio que lhe permita auto-suficiência e saúde financeira. Aumentámos o tráfego no nosso site — 40% nos últimos oito meses e acabámos de ultrapassar, em Junho, a barreira dos 40 milhões de pageviews num só mês. Mas quando pomos num prato da balança as receitas de vendas do jornal impresso e a sua publicidade e, no outro prato, as receitas das assinaturas digitais e a sua publicidade, os pratos ficam ainda muitíssimo desequilibrados.Estamos a fazer uma travessia do deserto e sentimos, diariamente, que o fim da odisseia ainda vai longe. Foi neste contexto que a direcção editorial do PÚBLICO criou um novo projecto: o Público Mais. Como o nome mostra, o objectivo é “fazer mais PÚBLICO”. Queremos desenvolver um jornalismo de excelência e fazer trabalhos que, sendo essenciais para o conhecimento, estão a desaparecer dos jornais. Mantendo os valores intocáveis de rigor e independência, o Público Mais quer contribuir para o conhecimento e desenvolvimento da sociedade em quatro áreas: Reportagem; Cultura; Ciência/Ambiente, e Multimédia. Aprendemos com os grandes mestres da filosofia que o conhecimento é poder. Dar poder aos cidadãos para que participem de forma activa nas suas comunidades (“it takes a village…”). Sabemos que com mais conhecimento os cidadãos são mais livres e mais cultos. O que faz o jornalismo? Converte informação em conhecimento. Com graça e pontaria, Bill Kovach, fundador do Committee of Concerned Journalists, diz que as redacções dos bons jornais são “think tanks de construção de cidadania”. Ao fim de um ano e depois de reuniões com muitas empresas e instituições, o Público Mais recebeu o apoio de seis empresas, às quais agradecemos hoje, e assim o faremos uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos — a duração deste projecto. Estas seis empresas — EDP, Galp, Mota-Engil, Banco Santander Totta, REN e Vodafone — mostram deste modo o seu perfil filantrópico e acreditam, como nós, na importância do jornalismo de qualidade. E uma última coisa: revelam ser empresas de grande maturidade. Aceitaram o princípio da independência total, aceitaram que não vão discutir nem saber com antecedência como o PÚBLICO vai usar os recursos deste novo fundo, aceitaram receber prestação das contas (onde fomos, fazer que trabalhos e gastando exactamente quanto) apenas no fim de cada ano. Estas empresas sabem que o PÚBLICO não fará jornalismo nem mais nem menos simpático sobre qualquer tema de Portugal ou do mundo, incluindo as suas próprias empresas. Não foi preciso sermos nós a dizê-lo, foram os próprios presidentes dos conselhos de administração destas seis empresas que o disseram. Não há contrapartidas. Sabemos que não somos a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos, onde a filantropia atravessa a sociedade com uma naturalidade extraordinária. Nesses países não é aliás raro ver os media, públicos ou privados, serem financiados por empresas ou instituições privadas. Há casos como o Financial Times, que tem cadernos especiais financiados por empresas, a histórica PBS, respeitadíssima televisão pública americana, ou o novo jornal online Huffington Post, cuja fundadora faz campanhas de recolha de fundos e recebe doações de cinco milhões de dólares num só ano. Em Portugal não há esta tradição. Mas as empresas que participam neste fundo estão, com este gesto de cidadania, a quebrar a norma e a acreditar na inovação. Por tudo isto, agradecemos aos mecenas o apoio a esta causa. E esperamos que os leitores do PÚBLICO — os melhores e mais exigentes críticos — beneficiem e gostem dos trabalhos que vão nascer a partir de hoje.