Hoje nasce o Público Mais                                                              
                                                      20.07.2011 - 21:11                             Por Bárbara Reis                             
                                                                                                                                                              O PÚBLICO é há mais de 20 anos um jornal  de referência em Portugal e no mundo de língua portuguesa, um jornal  reconhecido pela qualidade do seu jornalismo e pela sua independência. E  está — tal como os grandes jornais internacionais — a viver o impacto  da mudança de hábitos dos leitores em todo o mundo ocidental.
                                                                                                                                           O fundamental é a sociedade  reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a  democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente  verdadeiro (PÚBLICO)
                                                                      O fundamental é a sociedade  reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a  democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente  verdadeiro (PÚBLICO)                                                                                                                                                                    
                                                                                                                                                 Hoje, o leitor acorda e vê rapidamente as  notícias no telemóvel, chega ao trabalho e acompanha a actualidade ao  longo do dia, ouve um noticiário no carro a caminho de casa, vê  televisão depois do jantar e faz novo radar às notícias nos sites antes  de ir dormir. Pelo caminho, vai recebendo alertas de última hora no  telefone e, se estiver a viajar, descarrega o seu jornal em PDF.
O que sobra para ler no jornal impresso que no dia seguinte está à venda no quiosque?
Na verdade, muito.
O jornalismo tem mil definições. Há 15 anos que o 
think tank americano 
Committee of Concerned Journalists  desenvolve um fórum contínuo com jornalistas de costa a costa para  tentar fixar a essência do jornalismo. O resultado da pesquisa é o  retrato perfeito desta profissão: o compromisso com a verdade é o  principal propósito do jornalismo; a sua primeira lealdade é para com os  cidadãos; a verificação é a essência da sua disciplina; a independência  em relação às pessoas tratadas nas notícias é estrutural; o jornalismo  serve de indicador para as pessoas e instituições com poder; dá aos  cidadãos um fórum de crítica e compromisso; torna interessantes as  coisas importantes; e dá às notícias contexto e proporção.
Só  falta acrescentar uma coisa: isto custa muito dinheiro. Só uma redacção  forte, experiente e com jornalistas especializados conseguirá dar  resposta a este conjunto de fundamentos. Hoje, com a velocidade,  quantidade e superficialidade da informação — tantas vezes  frustrantemente monocórdica e repetitiva —, os jornais de referência são  ainda mais cruciais. A crescente falta de meios suscita aliás o risco —  ou até a tentação — de descaracterizar a matriz original dos jornais.
Cada  um escolherá ler, ver ou ouvir os conteúdos na plataforma — e na  máquina — que quiser. Isso hoje já é um detalhe. O fundamental é a  sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a  democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente  verdadeiro.
São os jornais de referência que escrutinam,  fiscalizam e verificam; que aprofundam, analisam e contextualizam o  nosso país e o mundo; que hierarquizam e dão a proporção certa ao que se  passa à nossa volta; que investem tempo e dinheiro numa reportagem na  Somália e numa investigação sobre o que polui o estuário do Tejo. E, por  isso, são os jornais de referência que geram a maioria das notícias  que, uma vez publicadas, alimentam rádios, televisões e sites, para não  falar dos blogues, do Google, do Twitter ou do Facebook.
O  escândalo das escutas no Reino Unido e a cultura que parece existir nos  tablóides de Rupert Murdoch mostram preto no branco o papel vital do  jornalismo de qualidade, independente, que não serve interesses, observa  a realidade, procura respostas, descobre algumas, verifica todas e  organiza a informação para o público.
Alguém dizia há uns anos,  entre o oceano de presságios pessimistas, que os jornais de qualidade,  tal como as grandes cidades, não vão mudar de lugar. Ou seja, vão  continuar a definir a agenda dos seus países. Nós acreditamos nisso.
A  venda de jornais no Ocidente, porém, está a cair 10% por ano, ano após  ano, desde 2007. Há apenas cinco anos, o PÚBLICO vendia acima de 50 mil  exemplares por dia; hoje, vendemos 30 mil. Nos últimos meses,  desapareceram do mercado português mais de seis mil compradores de  jornais diários. Aos novos hábitos juntam-se agora os efeitos da crise.
O  problema é que, ao contrário dos tablóides, cujas vendas sobem, o  jornalismo de qualidade não encontrou ainda o modelo de negócio que lhe  permita auto-suficiência e saúde financeira.
                        Aumentámos o tráfego no nosso site — 40% nos  últimos oito meses e acabámos de ultrapassar, em Junho, a barreira dos  40 milhões de 
pageviews num só mês. Mas quando pomos num prato da  balança as receitas de vendas do jornal impresso e a sua publicidade e,  no outro prato, as receitas das assinaturas digitais e a sua  publicidade, os pratos ficam ainda muitíssimo desequilibrados.Estamos a  fazer uma travessia do deserto e sentimos, diariamente, que o fim da  odisseia ainda vai longe.
Foi neste contexto que a direcção editorial do PÚBLICO criou um novo projecto: o Público Mais.
Como  o nome mostra, o objectivo é “fazer mais PÚBLICO”. Queremos desenvolver  um jornalismo de excelência e fazer trabalhos que, sendo essenciais  para o conhecimento, estão a desaparecer dos jornais.
Mantendo os  valores intocáveis de rigor e independência, o Público Mais quer  contribuir para o conhecimento e desenvolvimento da sociedade em quatro  áreas: Reportagem; Cultura; Ciência/Ambiente, e Multimédia. Aprendemos  com os grandes mestres da filosofia que o conhecimento é poder. Dar  poder aos cidadãos para que participem de forma activa nas suas  comunidades (“
it takes a village…”). Sabemos que com mais  conhecimento os cidadãos são mais livres e mais cultos. O que faz o  jornalismo? Converte informação em conhecimento. Com graça e pontaria,  Bill Kovach, fundador do 
Committee of Concerned Journalists, diz que as redacções dos bons jornais são “
think tanks de construção de cidadania”.
Ao  fim de um ano e depois de reuniões com muitas empresas e instituições, o  Público Mais recebeu o apoio de seis empresas, às quais agradecemos  hoje, e assim o faremos uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos —  a duração deste projecto.
Estas seis empresas — EDP, Galp,  Mota-Engil, Banco Santander Totta, REN e Vodafone — mostram deste modo o  seu perfil filantrópico e acreditam, como nós, na importância do  jornalismo de qualidade. E uma última coisa: revelam ser empresas de  grande maturidade. Aceitaram o princípio da independência total,  aceitaram que não vão discutir nem saber com antecedência como o PÚBLICO  vai usar os recursos deste novo fundo, aceitaram receber prestação das  contas (onde fomos, fazer que trabalhos e gastando exactamente quanto)  apenas no fim de cada ano.
Estas empresas sabem que o PÚBLICO não  fará jornalismo nem mais nem menos simpático sobre qualquer tema de  Portugal ou do mundo, incluindo as suas próprias empresas. Não foi  preciso sermos nós a dizê-lo, foram os próprios presidentes dos  conselhos de administração destas seis empresas que o disseram. Não há  contrapartidas.
Sabemos que não somos a Grã-Bretanha ou os  Estados Unidos, onde a filantropia atravessa a sociedade com uma  naturalidade extraordinária. Nesses países não é aliás raro ver os  media, públicos ou privados, serem financiados por empresas ou  instituições privadas. Há casos como o 
Financial Times, que tem  cadernos especiais financiados por empresas, a histórica PBS,  respeitadíssima televisão pública americana, ou o novo jornal online 
Huffington Post, cuja fundadora faz campanhas de recolha de fundos e recebe doações de cinco milhões de dólares num só ano.
Em  Portugal não há esta tradição. Mas as empresas que participam neste  fundo estão, com este gesto de cidadania, a quebrar a norma e a  acreditar na inovação.
Por tudo isto, agradecemos aos mecenas o  apoio a esta causa. E esperamos que os leitores do PÚBLICO — os melhores  e mais exigentes críticos — beneficiem e gostem dos trabalhos que vão  nascer a partir de hoje.
20.07.2011 - 21:11                             Por Bárbara Reis                             

 
 
                                                                                                                                                                                O PÚBLICO é há mais de 20 anos um jornal  de referência em Portugal e no mundo de língua portuguesa, um jornal  reconhecido pela qualidade do seu jornalismo e pela sua independência. E  está — tal como os grandes jornais internacionais — a viver o impacto  da mudança de hábitos dos leitores em todo o mundo ocidental.
                                                                                                                                           O fundamental é a sociedade  reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a  democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente  verdadeiro (PÚBLICO)
                                                                      O fundamental é a sociedade  reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a  democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente  verdadeiro (PÚBLICO)                                                                                                                                                                    
                                                                                                                                                 Hoje, o leitor acorda e vê rapidamente as  notícias no telemóvel, chega ao trabalho e acompanha a actualidade ao  longo do dia, ouve um noticiário no carro a caminho de casa, vê  televisão depois do jantar e faz novo radar às notícias nos sites antes  de ir dormir. Pelo caminho, vai recebendo alertas de última hora no  telefone e, se estiver a viajar, descarrega o seu jornal em PDF.
O que sobra para ler no jornal impresso que no dia seguinte está à venda no quiosque?
Na verdade, muito.
O jornalismo tem mil definições. Há 15 anos que o 
think tank americano 
Committee of Concerned Journalists  desenvolve um fórum contínuo com jornalistas de costa a costa para  tentar fixar a essência do jornalismo. O resultado da pesquisa é o  retrato perfeito desta profissão: o compromisso com a verdade é o  principal propósito do jornalismo; a sua primeira lealdade é para com os  cidadãos; a verificação é a essência da sua disciplina; a independência  em relação às pessoas tratadas nas notícias é estrutural; o jornalismo  serve de indicador para as pessoas e instituições com poder; dá aos  cidadãos um fórum de crítica e compromisso; torna interessantes as  coisas importantes; e dá às notícias contexto e proporção.
Só  falta acrescentar uma coisa: isto custa muito dinheiro. Só uma redacção  forte, experiente e com jornalistas especializados conseguirá dar  resposta a este conjunto de fundamentos. Hoje, com a velocidade,  quantidade e superficialidade da informação — tantas vezes  frustrantemente monocórdica e repetitiva —, os jornais de referência são  ainda mais cruciais. A crescente falta de meios suscita aliás o risco —  ou até a tentação — de descaracterizar a matriz original dos jornais.
Cada  um escolherá ler, ver ou ouvir os conteúdos na plataforma — e na  máquina — que quiser. Isso hoje já é um detalhe. O fundamental é a  sociedade reconhecer que o bom jornalismo é um bem público, vital para a  democracia, e que isto, parecendo um cliché, é incontornavelmente  verdadeiro.
São os jornais de referência que escrutinam,  fiscalizam e verificam; que aprofundam, analisam e contextualizam o  nosso país e o mundo; que hierarquizam e dão a proporção certa ao que se  passa à nossa volta; que investem tempo e dinheiro numa reportagem na  Somália e numa investigação sobre o que polui o estuário do Tejo. E, por  isso, são os jornais de referência que geram a maioria das notícias  que, uma vez publicadas, alimentam rádios, televisões e sites, para não  falar dos blogues, do Google, do Twitter ou do Facebook.
O  escândalo das escutas no Reino Unido e a cultura que parece existir nos  tablóides de Rupert Murdoch mostram preto no branco o papel vital do  jornalismo de qualidade, independente, que não serve interesses, observa  a realidade, procura respostas, descobre algumas, verifica todas e  organiza a informação para o público.
Alguém dizia há uns anos,  entre o oceano de presságios pessimistas, que os jornais de qualidade,  tal como as grandes cidades, não vão mudar de lugar. Ou seja, vão  continuar a definir a agenda dos seus países. Nós acreditamos nisso.
A  venda de jornais no Ocidente, porém, está a cair 10% por ano, ano após  ano, desde 2007. Há apenas cinco anos, o PÚBLICO vendia acima de 50 mil  exemplares por dia; hoje, vendemos 30 mil. Nos últimos meses,  desapareceram do mercado português mais de seis mil compradores de  jornais diários. Aos novos hábitos juntam-se agora os efeitos da crise.
O  problema é que, ao contrário dos tablóides, cujas vendas sobem, o  jornalismo de qualidade não encontrou ainda o modelo de negócio que lhe  permita auto-suficiência e saúde financeira.
                        Aumentámos o tráfego no nosso site — 40% nos  últimos oito meses e acabámos de ultrapassar, em Junho, a barreira dos  40 milhões de 
pageviews num só mês. Mas quando pomos num prato da  balança as receitas de vendas do jornal impresso e a sua publicidade e,  no outro prato, as receitas das assinaturas digitais e a sua  publicidade, os pratos ficam ainda muitíssimo desequilibrados.Estamos a  fazer uma travessia do deserto e sentimos, diariamente, que o fim da  odisseia ainda vai longe.
Foi neste contexto que a direcção editorial do PÚBLICO criou um novo projecto: o Público Mais.
Como  o nome mostra, o objectivo é “fazer mais PÚBLICO”. Queremos desenvolver  um jornalismo de excelência e fazer trabalhos que, sendo essenciais  para o conhecimento, estão a desaparecer dos jornais.
Mantendo os  valores intocáveis de rigor e independência, o Público Mais quer  contribuir para o conhecimento e desenvolvimento da sociedade em quatro  áreas: Reportagem; Cultura; Ciência/Ambiente, e Multimédia. Aprendemos  com os grandes mestres da filosofia que o conhecimento é poder. Dar  poder aos cidadãos para que participem de forma activa nas suas  comunidades (“
it takes a village…”). Sabemos que com mais  conhecimento os cidadãos são mais livres e mais cultos. O que faz o  jornalismo? Converte informação em conhecimento. Com graça e pontaria,  Bill Kovach, fundador do 
Committee of Concerned Journalists, diz que as redacções dos bons jornais são “
think tanks de construção de cidadania”.
Ao  fim de um ano e depois de reuniões com muitas empresas e instituições, o  Público Mais recebeu o apoio de seis empresas, às quais agradecemos  hoje, e assim o faremos uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos —  a duração deste projecto.
Estas seis empresas — EDP, Galp,  Mota-Engil, Banco Santander Totta, REN e Vodafone — mostram deste modo o  seu perfil filantrópico e acreditam, como nós, na importância do  jornalismo de qualidade. E uma última coisa: revelam ser empresas de  grande maturidade. Aceitaram o princípio da independência total,  aceitaram que não vão discutir nem saber com antecedência como o PÚBLICO  vai usar os recursos deste novo fundo, aceitaram receber prestação das  contas (onde fomos, fazer que trabalhos e gastando exactamente quanto)  apenas no fim de cada ano.
Estas empresas sabem que o PÚBLICO não  fará jornalismo nem mais nem menos simpático sobre qualquer tema de  Portugal ou do mundo, incluindo as suas próprias empresas. Não foi  preciso sermos nós a dizê-lo, foram os próprios presidentes dos  conselhos de administração destas seis empresas que o disseram. Não há  contrapartidas.
Sabemos que não somos a Grã-Bretanha ou os  Estados Unidos, onde a filantropia atravessa a sociedade com uma  naturalidade extraordinária. Nesses países não é aliás raro ver os  media, públicos ou privados, serem financiados por empresas ou  instituições privadas. Há casos como o 
Financial Times, que tem  cadernos especiais financiados por empresas, a histórica PBS,  respeitadíssima televisão pública americana, ou o novo jornal online 
Huffington Post, cuja fundadora faz campanhas de recolha de fundos e recebe doações de cinco milhões de dólares num só ano.
Em  Portugal não há esta tradição. Mas as empresas que participam neste  fundo estão, com este gesto de cidadania, a quebrar a norma e a  acreditar na inovação.
Por tudo isto, agradecemos aos mecenas o  apoio a esta causa. E esperamos que os leitores do PÚBLICO — os melhores  e mais exigentes críticos — beneficiem e gostem dos trabalhos que vão  nascer a partir de hoje.