segunda-feira, 8 de abril de 2013

Incompetência costumeira..



O que sucedeu




Paul Krugman escreveu que «durante os últimos anos, a comparação entre os desenvolvimentos económicos na Europa e nos Estados Unidos tem se assemelhado a uma corrida entre os mancos e os coxos – ou, se preferirmos, um concurso para ver quem consegue asneirar mais na resposta à crise».
A Europa estabeleceu uma moeda comum entre vários Estados. Com a vantagem de baixar os custos económicos e assim facilitar o planeamento económico, mas com a desvantagem de cada um desses Estados não poder esgrimir a desvalorização da sua moeda para se ajustar a um choque económico como actualmente se vive.
Mais. Só faz sentido os países terem uma moeda comum, se houver um grande volume de trocas comerciais entre si.
De facto os Estados do euro fazem sessenta por cento do seu comércio entre si, mas falharam outros dois critérios importantes, a integração orçamental e a mobilidade laboral.
De início, as dívidas dos países do sul europeu eram consideradas quase tão seguras como as dos nórdicos. Os custos dos empréstimos foram tão favoráveis que o que parecia um grande «boom» económico logo se transformou num «boom» desastroso.
Porquê? Porque os bancos do sul não tinham depósitos suficientes para sustentar todos os empréstimos que passaram a fazer, indo buscar esse dinheiro, por empréstimo, ao núcleo financeiro forte europeu. Saíram enormes massas de dinheiro do norte e centro europeus, para um sul então em expansão económica.
Como explica Paul Krugman, «estas entradas de capital alimentaram «booms» que por sua vez conduziram à subida dos salários: dez anos após a criação do euro, os custos Unitários da mão-de-obra (salários ajustados pela produtividade) subiram cerca de 35% no sul da Europa, em comparação com uma subida de uns meros 9% na Alemanha. A produção no sul da Europa deixou de ser competitiva, o que por sua vez levou os países que estavam a atrair gigantescos influxos de dinheiro a começarem a incorrer em défices comerciais igualmente gigantescos. E, de repente, o euro teve de enfrentar um gigantesco choque assimétrico que se agravou ainda mais devido à ausência de uma integração orçamental (...).
As receitas baixaram imenso, juntamente com baixas na produtividade e no emprego; os gastos com os subsídios de desemprego dispararam; e os Governos ficaram na difícil situação de precisarem de efectuar dispendiosos resgates bancários, já que tinham garantido não só os depósitos mas também, em muitos casos, as dívidas em que os seus bancos tinham incorrido junto de outros bancos em países credores. Por conseguinte, a dívida pública e os défices dispararam e os investidores começaram a ficar nervosos». Fim de citação.
O mesmo Krugman fala da «grande Ilusão da Europa»: a crença de que a crise foi especialmente causada pelos enormes défices orçamentais e pelo grande endividamento.
Ora, a crise resulta da ausência de integração orçamental na zona euro, da pouca mobilidade territorial na Europa dos seus mercados laborais e da falta de uma moeda própria.
Mas nem o Banco Central Europeu quis emitir muito mais moeda para o ajustamento económico europeu, nem a Alemanha aceitou qualquer processo inflacionista que até lhe poderia permitir chegar ao pleno emprego também pela via do aumento da procura exterior das sua produções.
A Islândia sobreviveu ao desastre financeiro porque tinha moeda própria, desvalorizou-a na altura oportuna (25% em relação ao euro) e recuperou a competitividade pela baixa dos salários via inflação, sem lhes tocar.
Isto já não podem fazer os países em crise na zona euro, por falta de moeda própria, com os défices a disparar, a mergulharem na deflação e recessão, sujeitos às consequências do pânico generalizado dos investidores que se querem salvar de um incumprimento da dívida.
E volto ao Professor Krugman: «Os Governos dependem da sua capacidade de renovar grande parte desta dívida, vendendo novas obrigações para pagar as anteriores. Se, por alguma razão, os investidores se recusassem a comprar novas obrigações, mesmo um Governo basicamente solvente poderia cair no incumprimento.(...)
(...) Poderia acontecer a qualquer um dos países que agora fazem parte da zona euro, que não podem contar com o Banco Central Europeu para lhes prover dinheiro numa emergência. E se um país da zona euro se visse forçado ao incumprimento por causa deste tipo de escassez de dinheiro, poderia nunca mais conseguir pagar a totalidade das suas dívidas.
Isto cria imediatamente a possibilidade de uma crise autorrealizável, na qual os receios dos investidores quanto a um incumprimento em resultado da escassez de dinheiro, os levariam a evitar adquirir obrigações desse país, desencadeando assim a própria escassez de dinheiro que tanto receiam». Fim de citação.
Claro que qualquer país romper agora com o euro:
-apanhava com uma corrida insustentável aos seus bancos;
-o regresso da moeda nacional acarretaria prejuízos graves em relação ao valor dos depósitos, às dívidas e aos contratos em euros;
-comprometeria o futuro da Europa e algumas das suas próprias democracias.
Para evitar isto:
-o Banco Central Europeu (BCE) tem de produzir mais moeda e intervir mais, sobretudo comprando obrigações dos Governos da zona euro, para garantir que não haverá pânico nos mercados porque, assim, os Governos não vão ficar insolventes;
-mais competitividade, com um aumento da procura de bens por parte dos países com excedentes orçamentais, sobre os países com défices orçamentais;
-uma inflação moderada (nunca superior a 5%);
-mais disciplina orçamental nos países em dificuldade, cortando nas «gorduras do Estado», em vez de diminuir a capacidade da procura.
E termino, voltando a transcrever Paul Krugman: «os casos mais extremos - Grécia, Portugal e Irlanda – continuam impedidos de aceder aos mercados de capital privado. Por conseguinte, têm dependido de uma série de programas de empréstimo criados de improviso pela «troika» constituída por governos europeus mais fortes, pelo BCE e pelo Fundo Monetário Internacional. Infelizmente a «troika» tem fornecido pouquíssimo dinheiro e demasiado tardiamente. E, em resultado destes empréstimos de emergência, tem-se exigido aos países deficitários que imponham programas imediatos e draconianos de cortes nos gastos e subidas de impostos, programas que os afunda em recessões ainda mais profundas e que são insuficientes mesmo em termos puramente orçamentais à medida que os economias encolhem e causam uma baixa de receitas fiscais.
Entretanto, nada tem sido feito para providenciar um ambiente em que os países deficitários possam dispor de um caminho plausível rumo à recuperação da sua competitividade. E à medida que os países deficitários são empurrados para uma austeridade selvagem, os países excedentários têm-se empenhado em programas próprios de austeridade, minando assim as esperanças de um crescimento das exportações. E, longe de aceitar a necessidade de uma inflação ligeiramente superior, o Banco Central Europeu ainda subiu as taxas de juro na primeira metade de 2011 para evitar a ameaça de inflação que existia nas mentes dos seus dirigentes, só posteriormente invertidas essas taxas, após grandes danos causados».