|   Na  recente comemoração do Dia de Portugal, na cidade de Pretória, tivemos  oportunidade de verificar, diga-se com alguma tristeza, a acentuada  divisão existente nas colectividades lusas da capital sul-africana, isto  comparado com o que um passado não muito distante nos havia habituado a  comemoração destas festividades em que se via entusiasmo, colaboração e  empenho colectivo em torno de um ideal comum de que todos nos devemos  orgulhar, como é respeitar o Dia Nacional.    Se já no decorrer das actividades cívicas e religiosas na manhã desse  10 de Junho, mormente na missa celebrada na igreja de Santa Maria,  sufragando a alma de todos os portugueses falecidos na África do Sul,  seguida de duas romagens para deposição de flores, uma ao cemitério de  Zandfontein na sepultura de José Jorge Afonso, um dos grandes  entusiastas pela fundação da Casa Social da Madeira na cidade de  Pretória, colectividade que chegou a liderar o seu executivo, e outra ao  monumento evocativo a Bartolomeu Dias, em homenagem a esse grande  navegador, além de Mário Ferreira da ACPP, e de Paula de Castro de “Os  Lusíadas”, só demos pela presença dos presidentes da Academia do  Bacalhau, Ivo de Sousa, e o do Marítimo, Manuel Furriel, este que por  sinal até ofereceu neste padrão alusivo aos descobrimentos um vinho do  Porto.
  No jantar de gala realizado como aliás praticamente sempre vem  acontecendo em cada 10 de Junho, no salão nobre da ACPP, nele marcado  presença o nosso embai-xador dr. Ramos Pinto, o secretário da embaixada,  dr. Pedro de Almeida, o coordenador do ensino de português na África  Austral, dr. Rui Azevedo, e o Frei comendador Gilberto Teixeira, das  nove colectividades e instituições lusas desta cidade, ACPP, Casa do  Porto, Casa Social da Madeira, Casa do Benfica, Sporting Clube de  Pretória, Marítimo, Academia do Bacalhau, Lusíadas e Liga da Mulher  Portuguesa, que nos apercebessemos só ali demos pela presença dos  líderes da ACPP, Mário Ferreira, e a de “Os Lusíadas”, Paula de Castro,  ou seja os responsáveis pela organização dos festejos.
  Da conjugação de esforços em que praticamente todas as instituições  através dos seus membros se envolviam neste Dia da Raça, passou-se a um  desinteresse que se vem acentuando de ano para ano, e por este andar se  não aparecer a curto prazo um líder que consiga apaziguar este estado de  coisas, e repor a confiança nas co-lectividades de modo a voltarem ao  que já foram, o que nos parece cada vez mais difícil, chegaremos a um  ponto que mesmo as poucas que ainda hoje vão apoiando ce-lebrações como  estas, acabem por perder o entusiasmo e entrar no malfadado comodismo do  deixa andar.
  Talvez o motivo que mais contribuiu para agravar este estado de coisas  a que vamos assistindo tenha a sua ori-gem no discurso do 10 de Junho  de 2007, em que alguém que o preparou, e os visados sabem quem foi,  acusou com alguma revolta o que a seu ver certos indivíduos que em  posições de relevo deviam servir de exemplo na defesa da união e  harmonia entre todos os portugueses, independentemente das suas origens,  optarem por atitudes e acções que a seu ver em nada dignificavam as  posições que ocupavam, e ainda mais grave essas atitudes e acções  estarem na base da divisão irresponsável da nossa comunidade, e como  nele era relatado, levados por motivos egoístas, possivelmente na busca  de glórias pessoais, em nada prestigiam a comunidade e acabam por  desrespeitar as pessoas que as colocaram nessas posições, desmotivar e  alienar os nossos jovens que aos poucos se vão afastando da nossa  comunidade.
  Essas afirmações, como na altura referimos, pouco próprias no  encerramento de uma celebração de tão grande significado para todos nós,  mais parecendo o desabafar de mágoas ou o denunciar de rixas pessoais,  que terão deixado ao chefe da missão diplomática, e simultaneamente  representante legal do governo português na Áfri-ca do Sul, como então  era o embaixador Paulo Barbosa, uma pálida e negativa imagem de uma  comunidade, que outrora e algo orgulhosa se apregoava um exemplo em  união, deram lugar a uns versos preparados por Damião de Freitas, em  resposta a essas acusações intitulados “A Canção dos Cobardes”, com a  letra baseada em “dores de cotovelo”, publicados na nossa edição de 18  de Junho de 2007.
  Com o individualismo a substituir o colectivismo que se desejava, e ao  contrário a divisão cada vez mais acentuada nas agremiações de  Pretória, alguém para evitar a derrocada que se avizinhava, terá  sugerido uma reunião entre os responsáveis pelas colectividades da  capital, a fim de se poder ultrapassar esse impasse e se chegar ao  entendimento que se pretendia, já que de costas voltadas só piorava a  situação, reunião essa que acabou por ser realizada a 13 de Setembro de  2007 na ACPP, convidando-se para moderador o comendador Jaime Margarido,  de Joanesburgo, que além de neutro, era pessoa com larga experiência  nestas andanças clubistas, e por conseguinte ideal para conseguir  apaziguar, ou pôr água na fervura de uma ebulição que parecia crescer a  olhos vistos.
  Tudo muito bem, cada qual se pronunciando sobre o ponto de vista que a  seu ver provocara esse mal-estar e divergência a que se chegara e  sugestões para as solucionar, só que não passou de fogo-de-vista, já que  em vez de pelo menos estacionar, tudo infelizmente se foi deteriorando,  ao ponto de como se verifica, cada qual fazer as suas festas ou  convívios com a prata da casa como se costuma dizer, apenas com os seus  directores, associados e simpatizantes, ao contrário do que no passado  acontecia, em que se via entendimento, colaboração e se ajudavam uns aos  outros, daí e para que tudo funcio-nasse em perfeita sintonia, nascer o  calendário de festas, que passou a ser respeitado na íntegra, em  obediência à vontade de todos em se evitar festas simultâneas,  passando-se a ver os salões repletos.
  Tal iniciativa a resultar em cheio, terá pelo seu significado criado  uma espécie de inveja noutras comunidades, já que era a única a revelar a  união, compreensão, amizade e entendimento saudável, levando a ser  classificado de exemplo e apontada de espelho da comunidade, inclusive  em opinião dos políticos que nos visitavam.
  Embora esse calendário anual de festas continue a vi-gorar, só que  como se verifica e salvo raras excepções, apenas por uma questão de se  evitar o simultâneo, e não com qualquer outro propósito ou finalidade,  muito menos à espera de retribuição a comparências de directores umas  das outras, especialmente nas três principais, por-que isso é chão que  já deu uvas, levando que cada uma subsista por si própria, e não a  pensar em afluências que possam ter de pessoas ligadas às restantes  congéneres, porque à espera disso bem podiam fechar as portas.
  Como se todas estas contrariedades a que vimos fazendo alusão não  bastassem, ainda apareceu recentemente outra a aumentar a fricção às já  débeis e frias relações entre estas colectividades lusas de Pretória,  como na al-tura demos conta e voltamos a descrever:
  Para se tentar formar uma comissão da comunidade portuguesa de  Pretória, que durante os próximos dois anos chamasse a si, ou  directamente colaborasse em eventos a promover na comunidade, entre os  quais a celebração do Dia de Portugal, a reunião realizada a 10 de Março  último na ACPP, neste caso a terceira para o efeito, nada fi-casse  decidido, face às alegadas divergências com a forte oposição dos  representantes da ACPP e não só, a essa medida e consequente exagerada  verba, que segundo os planos para esses festejos implicariam, os  intervenientes abandonassem a reunião, com alguns dos ânimos exaltados,  dando com isso motivo a que a mesma fosse de imediato encerrada, sem que  mais nada fosse debatido, nem sequer a marcação de outra para data a  indicar, clara mostra de oposição da maioria dos presentes a essa  pretensão, assim como rejeição a todo o dispendioso esquema artístico  apresentado.
  Face ao que se passara, o dr. Pedro de Almeida que vinha presidindo às  reuniões, e tem demonstrado com a sua assídua presença nos eventos  promovidos pelas nossas colectividades, ser sua intenção acompanhar de  perto as actividades da comunidade, o que só o dignifica e enaltece,  disponibilizou-se a colaborar com quem se dispusesse a organizar o Dia  de Portugal na cidade de Pretória, e tal como já na reunião anterior  Mário Ferreira deixara clara a intenção da ACPP que lidera, continuar a  manter o jantar de gala a 10 de Junho, e se alguém o acompanhasse,  promover outras actividades, não sendo a seu ver por falta de apoio da  ACPP que as comemorações viessem a ficar pelo caminho, começando a  partir daí a planear o programa para as festividades, para o que contou  com a cooperação de “Os Lusíadas”.
  A todos estes contratempos há a lamentar ainda o afastamento da maior  parte da nossa juventude, que na actualidade procura frequentar outros  ambientes, por pouco ou nada lhes dizendo os nossos clubes, muito menos a  nossa cultura, a começar pelo desprezo à riqueza da língua de Camões,  muitos deles por em suas casas infelizmente o português ser substituído  na conversação pelo inglês, especialmente nos casais mais jovens.
  O mal é de todos e não é de ninguém, mas sim talvez originado pelo que  o tempo nos vai mostrando com as mudanças a que constantemente vamos  assistindo, levando com isso a que tudo se vá transformando,  infelizmente e a nosso ver em certas circunstâncias para pior, já que  põe em causa sentimentos muitos nobres e de grande valor, para dar lugar  a ganâncias desmedidas, procedimentos menos dignos, cada qual puxar a  brasa à sua sardinha, ao salve-se quem puder, ao desenrascate, ao quero  posso e mando e os outros que se lixem, etc, etc. É isto que o tempo a  fazer esquecer no associativismo esta e outras iniciativas válidas,  infelizmente nos vai mostrando. E diremos mais, há líderes que se não  forem eles os da ideia de se fazer isto ou aquilo, escusam de lhes bater  à porta, já lá não estão para ajudar em nada, afastam-se completamente.     * Com Mário Silva nunca por nunca estas coisas chegariam a este ponto      Por outro lado e a nosso ver, já que depois de lhe ser concedida a  aposentação e resolver ir viver para Portugal, esta comunidade parece  ter ficado à deriva, a falta que hoje aqui faz o vice-cônsul Mário  Silva, um incansável defensor da nossa língua, da união entre as  colectividades, do bem-estar da comunidade, e das celebrações do Dia de  Portugal, para si de prioridades, sendo sua preocupação, disso ninguém o  pode negar, convocar ao entrar-se no mês de Março os líderes de cada  colectividade para reunião na secção consular que chefiava, a fim de a  tempo e horas se iniciarem os preparativos com vista a essa comemoração,  acompanhando a par e passo os assuntos que se iam debatendo nas que  periodicamente se efectuavam noutros locais, dando opinião e ouvindo  pareceres, para que ao mais pequeno pormenor tudo fosse analisado e  resolvido a contento de todos, dai os sucessos que ano após ano se foram  repetindo em Pretória, e ainda neste último 10 de Junho foi lembrado  por alguns, face à reduzida assistência, a revelar falta de interesse,  verificada nas referidas actividades cívicas e religiosas, antes vividas  com maior afluência e de forma muito digna.
  Sei de antemão às críticas a que fico sujeito de uma pequena e  insignificante minoria, ou seja daqueles que pela frente se diziam  amigos tentando disfarçados acarinhá-lo com umas palmadinhas nas costas,  e por traz lhe cortavam na casaca, por se mostrarem incomodados ao  verem invocado este nome, - porque para beber água não preciso que me  assobiem -, certamente dizendo lá está ele outra vez a louvá-lo e a  defendê-lo, mas é a força da razão em reconhecimento ao seu grande  trabalho no apoio em muitos anos à comunidade que a isso me obriga, e  não por qualquer outro motivo, muito menos passar graxa a quem não  precisa dela, ciente de que neste caso estará comigo a esmagadora  maioria não só de Pretória, como de Joanesburgo, esta que muitas vezes  interrogava “o que iria ser desta comunidade sem Mário Silva”. O tem-po  se encarregará de dar razão ao que afirmamos.
VICENTE DIAS   |