segunda-feira, 18 de julho de 2011

ALBERTO JOÃO JARDIM Entender a Festa autonomista do Chão da Lagoa Na Madeira, o Povo pagou caro se conformar com a estrutura sócio-económica, feita de senhorios por um lado, de colonos e de servos por outros, que durante séculos dominou e estratificou a sociedade madeirense. Errados estão os povos que julgam que o progresso e a justiça social, por si sós, lhes serão deparados sem um mínimo de luta. Na Madeira, o Povo pagou caro se conformar com a estrutura sócio-económica, feita de senhorios por um lado, de colonos e de servos por outros, que durante séculos dominou e estratificou a sociedade madeirense. O Povo pagou caro a forma como o Estado português, a Monarquia primeiro, a República depois, também durante séculos impôs a sua autoridade e sacou em seu favor a maior parte do produto do suor dos Madeirenses. Caracterizando assim um regime colonial puro que, no século XX e para não se confundir com o sistema colonial em África, era denominado, numa habilidade de linguagem oficial, como «ilhas adjacentes». «Adjacentes» a 900 quilómetros e a uma hora e meia de avião a jacto de Lisboa, estão a ver!... Quando Portugal viveu o seu colapso do vergonhoso «período revolucionário em curso» – sobretudo uma vergonha na História para as Instituições que o promoveram e consentiram – o implodir, num ano, de um império centralizado de cinco séculos e meio, questionava também o futuro das «ilhas adjacentes». Valeu a estas não serem povoadas por africanos, e as opções dos respetcivos Povos serem claramente contra o marxismo pateta em voga, para que os sicários do «finis patriae»(morte da Pátria) aqui travassem as alienações de território. Valeu aos Açores o interesse dos norte-americanos (hoje, com o evoluir das tecnologias, muito menor), os quais no seu raciocínio de «estupidez matemática» consideravam que a Madeira, a sul da bôca do Mediterrâneo, podia muito bem se ir nas Tordesilhas modernas, idiotice dos Kennedys, onde a influência em África privilegiava os soviéticos e na América Central e do Sul adocicava os «yankees». É um «estória» para ser contada outro dia... Valeu à Madeira e aos Açores, então os Partidos democráticos terem compreendido que os dois arquipélagos eram indispensáveis à Resistência e à Consolidação democrática em todo o País. Então foi compreendido que o consenso Lisboa-Funchal-Ponta Delgada passava pelo reconhecimento da vontade legítima dos povos insulares em ser posto termo ao regime colonial nos arquipélagos e na institucionalização constitucional de uma Autonomia Política, traduzida em poder legislativo próprio. Num quadro de Unidade Nacional e não de «Estado unitário» como, depois, fraudulentamente, se inscreveu e mantém na Constituição. Compreendeu-se que a inevitável dialética Estado-Regiões Autónomas se iria compondo no tempo, pois era preciso corrigir o estatuto colonial anterior, bem como o saque de séculos sobre o produzido nos Açores e na Madeira. E viveu-se, de facto, um clima construtivo e de Unidade Nacional, até que... Até que a inflação de universidades e a deflação do Pensamento português em termos de entender e de cultivar a própria Identidade Nacional, acarretaram o triunfo dos tecnocratas e orçamentalistas, estes de fraca preparação humanística, histórica e política. Simultaneamente ao colapso do comunismo europeu, o que ainda empurrou mais para a estupidez do capitalismo selvagem e para os inerentes assaltos de especulação financeira, quer no mundo, quer em Portugal, estando todos nós a sofrer as consequências. Com o anedótico de, no caso português e noutros, o colapso ter vindo sob as bandeiras de partidos ditos «socialistas». Ora, com estes «yupies» tecnocratas do monetarismo, mas de fraca preparação fora dos seus cânones estritamente académicos – a nova «universidade»! – voltou uma certa arrogância do passado, feita também de ignorância sobre as Regiões Autónomas, ao ponto de se pretenderem impor à Opinião Pública nacional através do snobismo de uma guerra sem sentido contra Estas, apoiados numa comunicação social feita mistura de «interesses», de «esquerda», de «sociedades secretas» e de aldrabices nomeadamente contra a Madeira pela oposição desta ao Sistema político-constitucional e pela independência dos seus dirigentes em relação a tudo aquilo. E, assim, chego à Festa do Chão da Lagoa, cujo «nervoso» e «incómodo» que provoca em Lisboa, comprova tudo o que acima escrevi. Precisamente porque, mais importante ainda, foi a luta do Povo Madeirense para conquistar a sua Autonomia. E essa luta, entre muitas outras coisas, fez-se também, todos os anos, com o Chão da Lagoa. Far-se-à este ano, no domingo 31 de Julho. Artigo de Opinião de : Alberto João Jardim