quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Nasce uma flor

Desvalida, sangrando, exangue, Está minha Princesa.... Aos prantos, choram Seus filhos, Desesperados, Sua dor e de tanta tristeza!... Mas a Princesa é forte!... Dissabores não a amedrontam... Sua têmpera rija Deu a genética inquebrantável de seus filhos! Das suas veias dilaceradas Nascerá uma flor... Fortalecida pela coragem e a dor... Nestas horas tristes, desesperadas, Uma aurora de ouro, aconchegante, Trará sonhos e confiança Que regarão a flor da Esperança!.... De cor rubra, brilhante, Na placidez do azul do mar Navegará a Cruz de Cristo!.... Me seguro a este símbolo augusto Da minha princesa idolatrada, Entre outras mil, Minha terra adorada!.... Eleutério Gouveia Sousa

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Uma palavra sobre as línguas angolanas

A filosofia ensina que a língua é a expressão material do pensamento e do sentimento. Todo conhecimento, pensamento ou sentimento é exteriorizado através da língua. A função fundamental desta é a de servir de meio de comunicação entre as pessoas.Por razões históricas, nomeadamente a fixação de povos de vários reinos no território que se denominou Angola e a própria colonização portuguesa, falamos hoje várias línguas tais como o português, kimbundu, umbundu, nganguela, fiote, tchokwé, kwanyama e outras.Logo após a independência nacional, o Governo angolano definiu como língua oficial do Estado o português. Esta medida continua a parecer-nos acertada, porquanto nas nossas condições multilinguísticas seria muito difícil optar por mais de uma língua oficial.Por exemplo, se se adoptasse duas ou mais línguas oficiais seria obrigatório introduzi-las nas escolas, na função pública, nas forças armadas e noutros sectores da vida social. Daí se imagina o caos na comunicação que aquela decisão provocaria. E mais: se se opta pelo umbumdu ou kikongo como línguas oficiais, independentemente da proporção de falantes destas, estaríamos a ser injustos com as demais.A língua portuguesa, além de ser oficial é, quanto a nós, também língua nacional. Afirmamos isso, porque de facto ela é falada e escrita em todo país há mais de quinhentos anos. Este período é bastante para considerarmos a língua portuguesa como parte da nossa própria cultura. Ela é a língua que mais nos une.Designamos o umbundu, kimbundu, fiote, tchokwé e outras, como línguas nacionais, por terem origem nos povos bantus ou em nós próprios africanos e não nos colonizadores, ou denominamos língua nacional aquela falada a nível nacional? Pensamos que o conceito língua nacional se aplica mais a esta última condição. Então, poderíamos designar o kimbundu, umbundu, kikongo, nganguela, fiote, tchokwé, kwanyama e outras como línguas ancestrais, tradicionais ou regionais.E sobre estas, importa interrogar-nos sobre qual o seu lugar e papel nos nossos dias e no futuro? Existem muitas pessoas que defendem a sua valorização e promoção, a ponto de se iniciarem projectos para a sua introdução no sistema do ensino primário. Aliás a própria Constituição da República, recentemente aprovada, estabelece no ponto 2 do artigo 19º que “O Estado valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilização das demais línguas de Angola, bem como das principais línguas de comunicação internacional”.Entretanto, o ensino oficial das línguas regionais suscita-nos muitas dúvidas. Uma dessas dúvidas é a seguinte: que utilidade prática, científica e técnica terá a aprendizagem das línguas regionais?Desde logo, cremos que no ensino primário, fase escolar muito importante, devem ser bem consolidados os conhecimentos de gramática portuguesa como base para a aprendizagem de qualquer outra língua e de outros conhecimentos científicos.O vocabulário das línguas regionais parece-nos ser muito pobre e não condizente com as necessidades comunicativas da ciência e tecnologia.Parece-nos que é preferível deixar a aprendizagem das nossas línguas regionais ao voluntarismo de cada cidadão, fora do sistema normal de ensino. Pode-se estimular as pessoas a aprendê-las fora do sistema oficial de ensino. Podem ser criadas instituições de ensino das nossas línguas fora do sistema oficial.Haverá, certamente, outras formas de valorização e preservação das demais línguas de Angola que não se restrinjam ao seu ensino nas escolas oficiais.Talvez não estivéssemos a errar se afirmássemos que a maior parte dos angolanos que fala as nossas línguas as aprenderam por via da transmissão oral de seus progenitores (pais, avós). Ou seja, em muitos casos, as nossas línguas eram usadas no dia-a-dia em casa, na sanzala, no bairro.Nos nossos dias, será que poderíamos estimular os progenitores a se comunicarem, em casa, na língua de que são originários para que os seus filhos a aprendessem? E como seria nos casos em que o pai e a mãe fossem de regiões diferentes ou não falassem nenhuma delas?Outras dúvidas suscitadas pelo ensino das línguas regionais, derivam dos seguintes cenários possíveis: o aluno aprenderá a língua da região em que estiver a estudar? O aluno, independentemente da região/província em que residir, poderá optar pela aprendizagem de uma das seis principais línguas? O aluno será obrigado a aprender as seis principais línguas regionais? O aluno poderá rejeitar a aprendizagem de todas línguas regionais?No primeiro cenário, pode acontecer que o aluno esteja a aprender uma língua de uma região que não lhe será plenamente útil na sua região de origem. No segundo, estaríamos provavelmente a criar um ambiente de muitas subdivisões entre alunos da mesma turma. O terceiro cenário é impraticável no ensino primário. No quarto cenário, o aluno terá menos uma disciplina, o que lhe dará mais tempo de estudo das demais, dando-lhe vantagem em relação aos outros colegas, o que pode desinteressar estes pela aprendizagem das línguas angolanas. Ademais, vale dizer que se aprendermos apenas umbundu só poderemos comunicar-nos nessa língua com pessoas que falam umbundu e se aprendermos kimbundu só poderemos comunicar-nos com pessoas que falam kimbundu. Então será uma aprendizagem para uso relativamente restrito. É preciso evitar que as nossas línguas regionais se transformem em factores propiciadores de tribalismo ou regionalismo.Interrogamo-nos também sobre se ensinar as línguas regionais apenas no nível escolar primário será suficiente para se ter conhecimentos consolidados delas?Uma abordagem profunda sobre as nossas línguas deve incluir o método de análise estatística. Isto é, há dados estatísticos que devem ser recolhidos e analisados: qual a proporção de angolanos que não fala português? E destes, qual a estrutura por idade, profissão, sexo, moradia (urbana/rural)? Qual a percentagem, idade, sexo e localização de falantes de cada uma das seis principais línguas regionais? Qual a percentagem das famílias que se comunica em casa em língua regional? Qual a percentagem da população angolana que não sabe falar nenhuma língua regional?Este exercício pode nos fornecer o quadro estatístico das nossas línguas e permitirá aferir sobre a tendência do seu uso. Igualmente fornece as bases para a elaboração e implementação de programas de valorização e promoção das línguas. Além disso, com base naquele estudo deduziríamos mais facilmente as vantagens e desvantagens do ensino das nossas línguas no ensino oficial.Quando se aborda a questão língua, é preciso não perder de vista o facto, comprovado ao longo da evolução da humanidade, de que elas evoluem (não são estáticas), fundem-se, influenciam-se e extinguem-se. Portanto, actuar sobre a tendência do desenvolvimento da língua não é tarefa fácil. * Licenciado em Ciências Sociais