terça-feira, 23 de agosto de 2011

Alberto João Jardim O respeito pela Resistência
Aliás, a Madeira possui mais uma originalidade. É a única zona do País, para não falar da Europa democrática, onde, nos Partidos da Oposição, os que perdem eleições há trinta anos nunca se demitem.
Entre alguns que se dizem democratas, existe uma tendência para serem enganados pelas intrujices do «politicamente correcto». E, pior, gente que se diz de Direita ou do Centro, nada querendo ter a ver com a Esquerda. Ou então aqueles para quem o conceito de «independente» não se limita à não pertença a um Partido político, mas se traduz numa posição de «dar para tudo», conforme o mapa das marés. Como se alguém pudesse ser «independente», indiferente aos Valores que fazem a vida e constroem uma sociedade! Ora, o «politicamente correcto» é uma maneira de se manter à tona de água, não tomar posições que acarretem adversários ou hostilidades acentuadas...mesmo da parte dos que são efectivamente adversários e, se calhar, nem estão preocupados em ser «politicamente correctos». É, até, um medo da solidão. O receio de estar só nas suas convicções ou apenas inserido num grupo pequeno. É o conforto dos grandes grupos, a terapêutica para a insegurança pessoal. No fundo, conclui-se, uma certa forma de abdicação, de auto-desarme. Ora, uma das intrujices habituais que são enfiadas pelos «politicamente correctos», é a de que o conceito de Resistência apenas deve referir comportamentos tidos por «de esquerda», escandalosamente mesmo quando visam objectivos totalitários, anti-democráticos, contra os Direitos, Liberdades e Garantias individuais. Como se ao Centro e à Direita, não houvesse Resistência!... Esta intrujice anda a par com outra tontaria nesses mesmos meios do Centro e da Direita que, às vezes, vão ao ponto de se preocupar em se dizer «de esquerda», ou em demonstrar que algumas suas atitudes, vá lá, têm algo «de esquerda»!... Pobres complexos!... Ao longo de todos estes anos, a Maioria que governou a Região Autónoma da Madeira foi Resistência. Apesar de uma Reforma Agrária que entregou a terra a quem a trabalha, apesar do maior número «per capita» de habitação social, apesar de uma efectiva concertação e paz sociais durante decénios, apesar da Saúde, dos equipamentos culturais e sociais, da educação, das acessibilidades, etc., tudo generalizado ao nível autárquico mais pequeno, etc. Por aí fora, nunca foi preciso se dizer «de esquerda». Engraçado é que, pacificamente, se destruiu a velha sociedade feudal, herarquizada socialmente, pobre, rural, do arquipélago, acarretando o PSD, como em nenhuma outra área do País, o ódio militante de certa Direita, da extrema-direita e dos antigos senhorios das ilhas. E compreende-se que a Esquerda também não tenha gostado. Porque foi a política que a Esquerda gostaria de ter podido fazer, mas que o radicalismo do seu discurso não permitia sócio-culturalmente, e que a incompetência pessoal das suas figurinhas locais tornava absolutamente impossível. Aliás, a Madeira possui mais uma originalidade. É a única zona do País, para não falar da Europa democrática, onde, nos Partidos da Oposição, os que perdem eleições há trinta anos nunca se demitem. Com o engraçadíssimo de exigir, sim, a demissão dos que vêm ganhando sempre as eleições, e com o argumento de que...já estão há muito tempo! Obviamente que ninguém estranhará o PSD da Madeira muito agradecer esta nunca regeneração dos Partidos da Oposição. Mas, neste quadro, é igualmente possível demonstrar que a Maioria madeirense foi simultaneamente Resistência. E nisto se identificou mais com uma importante percentagem do Povo português, do que propriamente com os dirigentes dos Partidos do Sistema. É Resistência ao próprio Sistema político-constitucional, não só quanto ao conteúdo, mas mantendo o discurso da ilegitimidade deste por falta de referendo soberano e da proibição sobre o Povo de referendar qualquer norma constitucional, e ainda defendendo um regime democrático mais puro. É Resistência às situações de não transparência do regime, contra poderes ocultos, dependências inadmissíveis, subordinações a oligarquias. Independência que tem pago bem caro. Foi sempre Resistência efectiva e militante contra a Esquerda, sempre que esta no Governo da República, mesmo quando cedências estranhas ou abdicações incompreensíveis pululavam em Lisboa. Preço que também pagou duramente. Resiste, defendendo a descentralização política do território do Continente, em solidariedade com todos os Portugueses lesados pelo centralismo tradicional. É Resistência quando defende os Valores civilizacionais que evolutivamente os Portugueses acumularam culturalmente durante séculos, contra o Relativismo irracional que vem fracturando em termos de decadência. Creio que esta Resistência merece mais respeito. Primeiro, pela coragem de o ser, como outras quaisquer, mas, no caso, por um Portugal e uma Democracia melhores. Segundo, por parte dos Portugueses que não são trocas-tintas e que ainda acreditam em Princípios. Terceiro, por todos aqueles que, Companheiros de percurso político, ou que dizem sê-lo, nos viram sempre, sem falsos pudores, na primeira linha de luta.

Artigo de Opinião de : Alberto João Jardim