|                                                                                                 |                                                     |  Aliás, a Madeira possui mais uma originalidade.
É a única zona do País, para não falar da Europa democrática, onde, nos  Partidos da Oposição, os que perdem eleições há trinta anos nunca se  demitem.  |  |                                                      | Entre alguns que se dizem democratas, existe uma tendência para serem enganados pelas intrujices do «politicamente correcto».
E, pior, gente que  se diz de Direita ou do Centro, nada querendo ter a  ver com a Esquerda. Ou então aqueles para quem o conceito de  «independente» não se limita à não pertença a um Partido político, mas  se traduz numa posição de «dar para tudo», conforme o mapa das marés.
Como se alguém pudesse ser «independente», indiferente aos Valores que fazem a vida e constroem uma sociedade!
Ora, o «politicamente correcto» é uma maneira de se manter à tona de  água, não tomar posições que acarretem adversários ou hostilidades  acentuadas...mesmo da parte dos que são efectivamente adversários e, se  calhar, nem estão preocupados em ser «politicamente correctos».
É, até, um  medo da solidão. O receio de estar só nas suas convicções ou  apenas inserido num grupo pequeno. É o conforto dos grandes grupos, a  terapêutica para a insegurança pessoal.
No fundo, conclui-se, uma certa forma de abdicação, de auto-desarme.
Ora, uma das intrujices habituais que são enfiadas pelos «politicamente  correctos», é a de que o conceito de Resistência apenas deve referir  comportamentos tidos por «de esquerda», escandalosamente mesmo quando  visam objectivos totalitários, anti-democráticos, contra os Direitos,  Liberdades e Garantias individuais.
Como se ao Centro e à Direita, não houvesse Resistência!...
Esta intrujice anda a par com outra tontaria nesses mesmos meios do  Centro e da Direita que, às vezes, vão ao ponto de se preocupar em se  dizer «de esquerda», ou em demonstrar que algumas suas atitudes, vá lá,  têm algo «de esquerda»!... Pobres complexos!...
Ao longo de todos estes anos, a Maioria que governou a Região Autónoma da Madeira foi Resistência.
Apesar de uma Reforma Agrária que entregou a terra a quem a trabalha,  apesar do maior número «per capita» de habitação social, apesar de uma  efectiva concertação e paz sociais durante decénios, apesar da Saúde,  dos equipamentos culturais e sociais, da educação, das acessibilidades,  etc., tudo generalizado ao nível autárquico mais pequeno, etc. Por aí  fora, nunca foi preciso se dizer «de esquerda».
Engraçado é que, pacificamente, se destruiu a velha sociedade feudal,  herarquizada socialmente, pobre, rural, do arquipélago, acarretando o  PSD, como em nenhuma outra área do País, o ódio militante de certa  Direita, da extrema-direita e dos antigos senhorios das ilhas.
E compreende-se que a Esquerda também não tenha gostado. Porque foi a  política que a Esquerda gostaria de ter podido fazer, mas que o  radicalismo do seu discurso não permitia        sócio-culturalmente, e  que a incompetência pessoal das suas figurinhas locais tornava  absolutamente impossível.
Aliás, a Madeira possui mais uma originalidade.
É a única zona do País, para não falar da Europa democrática, onde, nos  Partidos da Oposição, os que perdem eleições há trinta anos nunca se  demitem. Com o engraçadíssimo de exigir, sim, a demissão dos que vêm  ganhando sempre as eleições, e com o argumento de que...já estão há  muito tempo!
Obviamente que ninguém estranhará o PSD da Madeira muito agradecer esta nunca regeneração dos Partidos da Oposição.
Mas, neste quadro, é igualmente possível demonstrar que a Maioria madeirense foi simultaneamente Resistência.
E nisto se identificou mais com uma importante percentagem do Povo  português, do que propriamente com os dirigentes dos Partidos do  Sistema.
É Resistência  ao próprio Sistema político-constitucional, não só quanto  ao conteúdo, mas  mantendo o discurso da ilegitimidade deste por falta  de referendo soberano e da proibição sobre o Povo de referendar qualquer  norma constitucional, e ainda defendendo  um regime democrático  mais  puro.
É Resistência às situações de não transparência do regime, contra  poderes ocultos, dependências inadmissíveis, subordinações a  oligarquias. Independência que tem pago bem caro.
Foi sempre Resistência efectiva e militante contra a Esquerda, sempre  que esta no Governo da República, mesmo quando cedências estranhas ou  abdicações incompreensíveis pululavam em Lisboa. Preço que também pagou  duramente.
Resiste, defendendo a descentralização política  do território do  Continente, em solidariedade com todos os Portugueses lesados pelo  centralismo tradicional.
É Resistência quando defende os Valores civilizacionais que  evolutivamente os Portugueses acumularam culturalmente durante séculos,  contra o Relativismo irracional que vem fracturando em termos de  decadência.
Creio que esta Resistência merece mais respeito.
Primeiro, pela coragem de o ser, como outras quaisquer, mas, no caso, por um Portugal e uma Democracia melhores.
Segundo, por parte dos Portugueses que não são trocas-tintas e que ainda acreditam em Princípios.
Terceiro, por todos aqueles que, Companheiros de percurso político, ou  que dizem sê-lo, nos viram sempre, sem falsos pudores, na primeira linha  de luta. |  
                                                 
                          Artigo de Opinião de : Alberto João Jardim  |