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Artigo de Opinião de : Luís Filipe Malheiro
                          | No mesmo dia em que Passos Coelho na 
RTP cortou (definitivamente?) com o PSD da Madeira, colocando a 
estrutura regional numa espécie de "clandestinidade" institucional; no 
mesmo dia em que Passos Coelho na RTP cedeu às pressões, provavelmente, 
quiçá por partir do pressuposto, errado mas sempre aliciante (Sócrates 
pensou o mesmo e já era...), de que se falar grosso contra a Madeira e 
dar "porrada" em João Jardim ganha votos no Continente; no mesmo dia em 
que Passos Coelho na RTP demonstrou que teme as pressões políticas da 
oposição e da comunicação social; no mesmo dia em que Passos Coelho na 
RTP falou da Madeira mas ignorou as 675 (num total de 678) facturas do 
Instituto de Desporto de Portugal – numa situação denunciada no próprio 
dia e que em termos procedimentais é rigorosamente igual ao que 
aconteceu na Madeira – sem apontar culpados nem denunciar 
responsabilidades; no mesmo dia em que Passos Coelho quase fez crer aos 
portugueses que a culpa da falência do país foi apenas dos dois governos
 socialistas e que durante o reinado dos governos social-democratas só 
tivemos "anjinhos” que também ajudaram o regabofe que nos levou ao 
estado em que estamos; no mesmo dia em que Passos Coelho na RTP quase 
levou os portugueses a acreditarem que se não fossem os "buracos" da 
Madeira e Portugal seria uma espécie de Alemanha da Península Ibérica, a
 verdade é que muitas notícias, esclarecedoras notícias, foram 
publicadas nesse mesmo dia, as quais, apesar de “esquecidas” que 
demonstram a hipocrisia que vai por esse país fora, o embuste e a 
mentira que tentam agra montar num novo circo, mais não seja para ao 
menos justificarem eleições de Junho passado.
 Vamos a factos para que os madeirenses fiquem com a memória sempre viva e
 actualizada. Vamos a factos para que os madeirenses percebam, que uma 
dívida regional não justifica uma campanha, orquestrada, manipulada, 
assente na mentira e no conluio entre várias entidades políticas, não 
justifica que se coloque em causa a dignidade do nosso povo, se 
branqueiem responsabilidades bandalhas de um passado recente, contra a 
Madeira e o seu Povo (factos julgados nas regionais de Maio de 2007, que
 não podem ser esquecidos e que tiveram então os mesmos protagonistas 
que traíram a Madeira mas que se sentam hoje, todos, à volta do mesmo 
tacho, como se nada se tivesse passado). A Madeira está consciente do 
que se passou, tem a noção do que foi feito – e do que não devia ter 
sido feito em condições normais – tem obra realizada, não acredito que 
ninguém andasse a roubar indiscriminadamente. A Madeira sabe quem é o 
elo mais fraco neste contexto e perante esta situação, sabe que os 40 
mil milhões de dívidas de um sector público falido, os 6 mil milhões de 
euros espatifados no BPN, os 4.000 milhões de euros de dívida dos 
Açores, os 3.500 de dívida dos municípios, os mais de 15 mil milhões que
 nos custarão as SCUTs e outras tretas negociadas no quadro das PPP 
rodoviárias, etc, são situações diferentes que obviamente exigirão 
negociação e tratamento diferenciado com vista à sua resolução. Não 
vamos pensar que a Madeira tem que pagar as favas todas. Mas em nenhuma 
circunstância, tal como a “troika” não humilhou Portugal, a Madeira pode
 ser humilhada, tal como os Açores, os municípios e as empresas públicas
 não o podem ser. E nem mesmo o facto de termos eleições regionais a 9 
de Outubro – a causa de toda a agitação histérica que por aí vai, 
independentemente de motivos para crítica que logicamente nos podem ser 
assacados, e temos que o reconhecer – justifica esta sistemática 
aldrabice espelhada na comunicação social nacional (e…) como se a 
Madeira fosse uma espécie de demónio, mais escuro que o breu, rodeada 
por “anjos” bem lavadinhos e de branco vestidos mas todos eles com o 
rabo preto escondido sob as vestes e à vista de todos.
 Reflictamos então sobre esse país esburacado que esteve “ausente” da 
entrevista de Passos Coelho à RTP, o chamado país real que as notícias 
nesse mesmo dia nos retrataram, de uma forma esclarecedora e que não 
pode ser atirado para debaixo do tapete por conveniências seja de quem 
for:
 
 - O Sector Empresarial do Estado, sem a CGD, aumentou os prejuízos em 
mais de 12.000% em 2010. As dívidas do Sector Empresarial do Estado 
chegaram, no final do ano passado, aos 32.388 milhões de euros, com o 
endividamento a crescer 10,8%. Este é um aumento, em termos absolutos, 
de 3.149 milhões face a 2009. As empresas públicas ultrapassaram, de 
acordo com o relatório anual divulgado pela Direcção-Geral do Tesouro e 
Finanças, o limite de 7% endividamento traçado pelo anterior Governo. Já
 este ano a dívida deverá crescer 8,2%. A estimativa é da Comissão 
Europeia, no seu primeiro relatório de avaliação do programa de ajuda 
financeira a Portugal, e baseia-se nos planos de corte de custos 
entregues pelas empresas. No relatório, com a data de Julho mas que só 
há poucos dias disponível no ‘site' da DGTF, a Estradas de Portugal 
surge como a empresa que, sujeita a um limite de endividamento, mais 
aumentou a sua dívida: 33%, chegando aos 2.005 milhões de euros. Mas há 
casos mais graves. A dívida da Parque Escolar disparou 379,8% para 665 
milhões de euros. Também fora dos limites ficaram a Parpública, Águas de
 Portugal, ANA, Empordef, EDM, APDL e Rave por serem "estruturalmente 
não deficitárias". Mas é este conjunto de empresas que mais faz aumentar
 a dívida do SEE, contribuindo com um crescimento de 22,7%;
 
 - Os juros das dívidas das dez empresas públicas não financeiras com 
maiores passivos custaram, só no ano passado, cerca de 804 milhões de 
euros. A gestora da rede ferroviária nacional, Refer, teve de pagar 
cerca de 280 milhões de euros só em juros, seguida da ‘holding' estatal 
Parpública, que destinou 270 milhões de euros, em 2010, para os juros 
cobrados pelo endividamento. Em terceiro lugar neste ‘ranking' do Sector
 Empresarial do Estado está a transportadora ferroviária nacional, CP, 
que teve de pagar quase 151 milhões de euros. O Metropolitano de Lisboa 
pagou quase 89 milhões de euros e a Metro do Porto 77 milhões de euros 
para pagamento de juros de dívida ao longo de 2010;
 
 - No último ano, as empresas públicas não-financeiras somaram um passivo
 de 32,4 mil milhões de euros. A dívida da Refer ultrapassou seis mil 
milhões de euros no último ano, o que representa já cerca de 19% do 
total do endividamento das empresas públicas não-financeiras, que é de 
cerca de 32,4 mil milhões de euros. O endividamento da gestora de 
infra-estruturas ferroviárias, que é o maior do Sector Empresarial do 
Estado – exceptuando a Parpública, que é uma gestora estatal de 
participações sociais –, subiu 8,8% no ano passado, desrespeitando o 
limite de 7% de aumento do endividamento do sector público imposto pelo 
anterior Governo. De acordo com o relatório do SEE relativo a 2011, só 
no ano passado a dívida da Refer aumentou mais de 486 milhões de euros, 
uma evolução que, em termos absolutos, nas empresas públicas 
não-financeiras, só foi superada pelas Estradas de Portugal, com um 
crescimento da dívida de 497 milhões de euros. Este crescimento de 33% 
face ao final de 2009 elevou a empresa para uma dívida com mais de dois 
mil milhões de euros. Quer a Refer, quer a Estradas de Portugal 
ultrapassaram o limite de 7% de aumento de endividamento, mas nenhuma 
delas tinha beneficiado de um tratamento de excepção.
 Amanhã há mais. Assusta? Claro. Mas o bombo-da-festa é a Madeira…
 
 http://ultraperiferias.blogspot.com
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