Acordo ortográfico a partir de janeiro mas sem consenso
O acordo ortográfico estabelecido em 1990 entre os sete países de língua oficial portuguesa, entra em vigor em janeiro em Portugal e terá um período de transição de seis anos. No Brasil, o acordo já está em vigor desde o início do ano e tem um período de transição de três anos.
Trata-se do acordo que estabelece normas ortográficas, ou seja, regras de como escrever palavras, mas não altera a pronúncia, não cria nem elimina qualquer palavra.
Grande parte dos linguistas portugueses consideram que existem razões históricas, defendendo que é chegado o momento de pôr termo a uma espécie de "guerra ortográfica" dos 100 anos. Por outro lado, entendem haver razões internacionais, pois permite que um único documento, numa grafia única, represente todos os países da Comunidade Portuguesa de Língua Portuguesa (CPLP) internacionalmente .
Finalmente, os especialistas consideram haver razões de natureza pedagógica, por entenderem que uma única ortografia facilita a aprendizagem no ensino do português como língua estrangeira.
A verdade é que com o acordo ortográfico, que não reúne o consenso entre escritores e professores de língua portuguesa, o vocabulário regista mais de 200 mil entradas.
As alterações abrangem o alfabeto, a utilização das maiúsculas e minúsculas, a acentuação gráfica, as consoantes mudas e o hífen.
O alfabeto passa de 23 para 26 letras (k,w,y) que passam a ser usadas em topónimos e antropónimos de origem estrangeira (ex: kosovo, kantiano, kosovar), em siglas (ex: www), símbolos, unidades de medida (ex: kg, km) e palavras de origem estrangeira de uso corrente (ex:yoga, kart).
Em relação à utilização de minúsculas, passam a escrever-se obrigatoriamente os dias de semana, os meses e as estações do ano, os axiónimos (ex: senhor doutor...), os pontos cardeais e colaterais e as formas (fulano, sicrano, beltrano).
Passam a escrever-se facultativamente com minúscula nos títulos de livros (exceto os nomes próprios neles contidos), hagiónimos (ex: santa Barbara) e nos domínios do saber, cursos e disciplinas (ex: português, matemática, anatomia).
Em relação às maiúsculas, passam a escrever-se facultativamente as categorizações de logradouros públicos, templos e edifícios (ex: palácio de São Lourenço ou Palácio de São Lourenço, rua da Alegria ou Rua da Alegria).
Na acentuação gráfica, é eliminado o acento gráfico no ditongo oi (ex: heróico passa a heroico) em palavras graves e nas formas verbais terminadas em -eem (ex:crêem, dêem, lêem passam a creem, deem, leem). Suprime-se ainda o acento agudo e circunflexo de palavras homógrafas (ex: pára, péla, pêlo passam a para, pela e pelo).
Neste caso há exceções, mantendo-se os acentos em pôde, pôr, dêmos, amámos, sujámos.
Ainda na acentuação gráfica, elimina-se o acento sobre a letra u nas terminações verbais que, gue, gui, quis (ex: argúi, delinquém, adeqúes passam a argui, delinquem, adeques).
Em relação às sequências consonânticas suprimem-se as consoantes mudas ou não articuladas, que se tinham conservado na variante europeia por razões etimológicas (ex: cc - colecionador, cç - correção, ct - atual, pc - excecional, pç, adoção, pt- ótimo). Conservam-se nos casos em que a consoante se pronuncia (ex: adepto, apto, réptil, eucalipto, inepto, rapto, compacto, convicto, pacto, factual, convicção, ficção, friccionar, erupção, núpcias).
Provavelmente, a alteração ortográfica que poderá gerar mais confusão, pelo menos no início da aplicação do acordo, é o hífen. Nas locuções substantivas e adjetivas (ex: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar, cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho). Exceções aplicam-se a locuções já consagradas pelo uso (ex: água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).
Aplica-se a regra geral, ou seja, todos os prefixos/radicais são aglutinados à palava-base (ex: eurodeputado, euroasiático, socioeconómico, psicossocial, contraindicação, antirrugas, minissaia, autoestrada).
Utiliza-se o hífen quando o prefixo liga-se à palavra-base sempre que esta começa por h (ex: anti-histamínico, circum-hospitalar, co-herdeiro, geo-história, imuno-hematologia, pré-história, super-homem). Utiliza-se o hífen quando o prefixo termina com a mesma letra com que inicia a base (ex: anti-infeccioso, auto-observação, contra-ataque, micro-ondas, pan-nacional, semi-interno, super-realista). Exceção para os prefixos co, re, pre, pro que se aglutinam à base mesmo que estas comecem por o ou e (ex: cooperante, cooperação, reentrar, reeleger, preencher, proeminente).
Utiliza-se o hífen quando o prefixo ex- tem sentido de anterioridade (ex: ex-presidente, ex-marido, ex-militar), sempre que o prefixo é acentuado graficamente (ex: pré-operatório, pós-parto, pró-independência) e quando a palavra-base é um estrangeirismo, um nome próprio ou uma sigla (ex: anti-apartheid, anti-Salazar, anti-MPLA).
Por outro lado, levm hífen as seguintes estruturas: verbo+nome (ex: conta-gotas, fica-pé, guarda-chuva, lambe-botas, para-quedas, porta-moedas), nome+nome (ex: camião-cisterna, cirurgião-plástico, comboio-fantasma, comício-festa, problema-chave, tenente-coronel), advérbio+advérbio/nome (ex: abaixo-assinado, além-Atlântico, aquém-mar, recém-casado). Exceção para as sequências com -não e -quase são escritas sem hífen (ex: não alinhado, não crente, quase estático e quase dito).
Não levam hífen as seguintes estruturas: adjetivo+nome (ex: segunda feira, alto comissário, alta fidelidade, primeiro ministro), nome+adjetivo (ex: assembleia geral, defesa central, guarda florestal, guarda noturno), adjetivo+adjetivo (ex: social democrata, surdo mudo), nome+preposição+nome (ex: caminho de ferro, casa de banho, fim de semana, sala de jantar).
Assim, vamos ver como será aplicado o acordo ortográfico a partir de janeiro. Os dados estão lançados e em breve vamos saber o que mais vai pesar na balança: os benefícios que os apoiantes dão como certos ou os danos que os opositores temem como prováveis.
Um século em busca da convergência
A ortografia da língua portuguesa é regida por um conjunto de normas oficiais materializadas em acordos ortográficos. No início do século XX quer em Portugal, quer no Brasil, surgiu a intenção de estabelecer um modelo de ortografia que pudesse ser usado como referência nas publicações oficiais e no ensino em ambos os países, iniciando-se assim um longo processo de tentativas de convergência das duas ortografias.
Em1943, realizou-se em Lisboa um encontro entre os dois países com o objectivo de uniformizar os vocabulários já publicados, o da Academia das Ciências de Lisboa, de 1940, e o da Academia Brasileira de Letras, de 1943. Deste encontro resultou o Acordo Ortográfico de 1945, que, no entanto, apenas tornou-se vigente em Portugal, não tendo sido ratificado pelo Brasil, que continuou a reger-se pelo Vocabulário de 1943. Em 1986 foi feita no Brasil uma nova tentativa de uniformização da ortografia, mas não se chegou a consenso.
Anos mais tarde, fruto de um longo trabalho desenvolvido pelas Academias de Portugal e Brasil, os representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, ao qual em 2004 adere o recém-independente Timor-Leste. O Acordo Ortográfico de 1990 entrou em vigor no início de 2009 no Brasil e agora prepara-se para entrar em Portugal.
Acordo só avança nas escolas com manuais actualizados
O acordo ortográfico vai avançar nas escolas portuguesas, mas apenas «no início de um ano lectivo» e quando todos os recursos estiverem adaptados.
A garantia foi deixada pela ministra de Educação, Isabel Alçada, que se escusou a apontar uma data concreta.
«O acordo vai avançar nas escolas, mas tem de avançar segundo um calendário seguro, para que haja uma adaptação dos recursos e uma informação clara sobre o assunto», afirmou Isabel Alçada, salientando a importância da «colaboração dos editores que publicam livros escolares».
Segundo a ministra da educação, «quando o acordo for apresentado como a nova forma de utilizar a Língua Portuguesa escrita» não pode haver «recursos que ainda não estão adaptados, professores que ainda não estão informados».
Tal como referiu «tudo tem de ser afinado, mas isso exige estudo e exige tempo».
Segundo afirmou: «Não pode acontecer o acordo já estar em vigor e ainda estarmos a usar livros com a ortografia anterior».
Sobre a hipótese de o acordo entrar em vigor nas escolas em outubro de 2010, Isabel Alçada escusou-se a dar garantias, alegando que nunca anuncia nada antes de estar feito. «Não gosto muito de falar daquilo que está em curso, gosto de falar daquilo que está completado. Gosto de ser clara e, muitas vezes, quando um processo está em curso, a clareza não é possível», declarou, garantindo apenas que a tutela da educação está a «trabalhar com as editoras» para agilizar o processo.
Diário da República com acordo ortográfico
Garantida está a impressão do Diário da República segundo o novo acordo ortográfica. Aliás, a Assembleia da República prepara-se para aplicar o acordo ao nível dos diplomas e das intervenções.
Alguns deputados e ministros já adoptaram o novo acordo ortográfico nas suas intervenções públicas, tal como aconteceu com Teixeira dos Santos, na recente discussão do Orçamento Rectificativo.
O Governo da República pretende com a entrada em vigor do novo acordo, em janeiro, refletir sobre uma futura Academia de Língua Portuguesa.
Na Madeira, pouco se sabe sobre a aplicação do acordo quer ao nível público, quer ao nível do ensino. Porém, os dados estão lançados e nos próximos seis anos de adaptação, veremos como decorre a aplicação ao nível do hífen, dos acentos e das duplas grafias.
Acordo no Parlamento - A Assembleia da República vai aplicar o acordo ortográfico a partir de janeiro em todos os seus diplomas e na publicação do Diário da República. Também a partir de janeiro a Agência Lusa vai passar a escrever as suas notícias com base no novo acordo ortográfico. O jornal desportivo Record já aplica o acordo há mais de um ano. |
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Nova Ortografia
domingo, 13 de dezembro de 2009
“Gloria in excelcis Deo” (Glória a Deus nas alturas)
Provavelmente, continuam os viandantes de hoje à procura de um abrigo. Com certeza, alguma mulher grávida estará procurando um lugar para que seu filho nasça com dignidade. Mas, com indiferença, continuam as pessoas de hoje a fazer pouco caso das necessidades alheias e, quando muito, chamam a polícia para levar as grávidas desavisadas até o pronto socorro.
Temos notícias diárias de policiais parteiros. Homens duros, acostumados a combater o mal, seus rostos iluminam-se quando ajudam uma vida a vir ao mundo. É muito mais alegria do que, por exemplo, “ajudar” a eliminar vidas!... (abortos, etc...)
Mas, vamos ao tema principal... Maria estava nos momentos delicados que a faria personagem central da história humana; dar à luz o Filho de Deus. Desprovido de tudo, menos do amor infinito de sua mãe, na ocasião do nascimento de Jesus, apareceram os anjos entoando o cântico: “Glória in excelris Deo”. Os pastores, avisados, foram as primeiras pessoas a prestar louvor ao Rei que acabara de nascer!
Somente pessoas com desprendimento total poderiam ver naquele menino a figura do Salvador!
Se nós, neste Natal, soubermos nos despojar de tudo que impeça o progresso espiritual e colocar nossas imperfeições no altar da vida, que venha o Príncipe da Paz e nos abençoe! Que nossa vida seja um contínuo Natal de bons propósitos, realizações e felicidade diária!
Bom Natal!
Eleutério Sousa
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
NATAL
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Uma mulher especial
sábado, 21 de novembro de 2009
Balada de Neve
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Testemunhos de Fé
TESTEMUNHO no 2º dia da presença da Imagem Peregrina na Paróquia do Porto Moniz – 31 de Out. 2009
O calmo lusco-fusco da manhã deu timidamente lugar a um céu azul e rosa, que se iluminava com a luz dourada do sol, anunciando um novo dia. Não um dia qualquer, mas um dia em que tínhamos o privilégio de ter connosco a Imagem de Maria.
Por volta das sete das manhã, os passarinhos no seu chilrear, prolongavam em pleno Outono um dia de Verão tardio e já muitos voluntários colaboravam na azáfama de fazer perdurar a beleza da decoração da Igreja e retocar o tapete de flores para mais um dia de festa.
As nove horas eram anunciadas pelo rebate dos sinos e à Igreja acorriam homens e mulheres que, na sua simplicidade e fé, viam como precioso cada minuto de permanência de Maria junto de nós e como tal queriam começar o dia cantando e orando com e para Ela.
Durante toda a manhã e tarde, com horas distribuídas pelos diferentes sítios, por entre oração, cânticos e meditação, foi tempo de cada um colocar aos pés de Maria a sua vida, como oferenda singela, mas plena de simbolismo e significado. Foi tempo de partilhar com Ela angústias, preocupações, receios e alegrias.
Num profundo silêncio de quem contempla, os olhos de cada um viraram-se para Maria, vendo nela o Modelo de todos os Cristãos.
Em clima de festa, o dia culminou com a realização das cerimónias litúrgicas, enriquecidas pelo espírito de união gerado em torno da vontade de ajudar a paróquia a tornar o mais significativa possível a passagem da Imagem.
De olhos postos em Maria, todos os presentes se associaram aos cânticos de louvor, como que querendo que eles fossem entendidos pela Mãe como prece de filhos reconhecidos pela dádiva de A contemplar de tão perto.
O fim do dia traz consigo a vontade de fazer mais e melhor por Maria no dia derradeiro da presença da Virgem entre nós. Essa vontade é forte ao ponto de esconder por completo o cansaço e conferir energias para a preparação da actividade a realizar com as crianças no dia seguinte.
De regresso a casa todos se sentem de alma reconfortada e coração repleto da Paz que brota do rosto da Imagem da Mãe de Jesus.
Obrigado Maria, por estares entre nós!
Natália Nunes e Sandra Rodrigues
Testemunho da Imagem Peregrina
TESTEMUNHO – 3º dia, o da partida - A Imagem partiu, Maria e a sua mensagem permanecem! – Porto Moniz, 1 de Nov. de 2009
Qualquer Domingo é, por excelência, um dia especial para qualquer Cristão mas este Domingo, 1 de Novembro, trazia consigo mais duas razões para ser ainda mais especial que qualquer outro Domingo: era Dia de Todos os Santos e iríamos vivê-lo na presença da Imagem de Maria.
Como forma especial de acompanhar a Mãe, a manhã foi preenchida com a Exposição e Adoração do Santíssimo pelos Irmãos da Confraria e já no período da tarde coube aos cursistas prestar-Lhe a devida e merecida homenagem.
As crianças são sem dúvida as que olham para a Imagem de Maria com mais curiosidade mas, ao mesmo tempo, com expressões faciais que revelam terem a noção de que aquela “Senhora” não é uma “Senhora” qualquer e por isso a presença da Imagem Peregrina serviu de mote para falar às crianças de modo mais especial sobre o papel de Maria e sobre as suas aparições aos pastorinhos, também eles crianças que olharam para Maria com fascínio.
Aproximava-se a passos largos a hora da cerimónia litúrgica que iria marcar a despedida da Imagem de Maria e nos rostos começava a vislumbrar-se a nostalgia de quem queria ver adiada o mais possível a partida da Virgem.
A cerimónia, em que todos se juntaram para comungar na presença de Maria o “Pão de Deus” teve o seu início com a distribuição de um “Pão-por-Deus” simbólico a cada uma das muitas crianças presentes.
O restante rito eucarístico teria sido semelhante ao de qualquer cerimónia de liturgia dominical, não fosse ser visível um espírito de união e uma harmonia indescritíveis e que pareciam emanar de cada um, recebidos directamente de Maria.
A comunidade paroquial rezou o Pai-Nosso de mãos dadas, como que formando uma corrente humana em torno de Maria, mostrando-lhe que por sua intercessão se vivia naquele templo um clima de união fraterna.
No momento da despedida os pedidos e as mensagens para a Mãe foram enviados em direcção ao céu, em balões azuis e brancos que ajudavam a dizer adeus a Maria quando a emoção fazia das palavras um meio impossível de utilizar para comunicar com Ela.
Sentia-se que cada um se despedia dela em silêncio e lhe agradecia o privilégio de ter usufruído da sua companhia, com a certeza de que a Imagem se ia embora, mas que a luz deixada por Maria continuava bem acesa dentro do coração de cada um.
Esta pequena caminhada com Maria continuará a ter reflexos nas caminhadas da vida de cada um de nós. Jamais nos esqueceremos que estivemos tão junto d’Ela, que a sua companhia nos confortou como não nos conseguiria confortar o abraço mais apertado.
Todos nos sentimos envolvidos e protegidos pela brancura do manto de Maria e temos a certeza que, como Mãe, ela continuará a envolver-nos com a sua candura e a proteger-nos intercedendo por nós junto do seu Filho Jesus.
A Imagem partiu, Maria e a sua mensagem permanecem!
Natália Nunes e Sandra Rodrigues
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
“FAZER O BEM E NÃO OLHAR A QUEM”
sábado, 31 de outubro de 2009
A Escola de Sagres
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Primeira Conferência Municipal de Cultura de Cambará
sábado, 17 de outubro de 2009
Thank you, Braille writing! Thank you, Braille writing!
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Expedição às Índias
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
A Lágrima
No terreno ressequido, uma flor minúscula lutava pela sobrevivência. Uma estiagem inclemente havia reduzido a folhas secas toda uma plantação. Junto de um arbusto protetor restava a última planta, a última flor, esmaecida, estiolada, definhando-se, desejando que uma gota de orvalho viesse embeber sua raiz e dar-lhe um alento de vida.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
A Pátria é a familia amplificada
E a família, divinamente constituída, tem por elementos orgânicos a honra, a disciplina, a fidelidade, a benquerença, o sacrifício. É uma harmonia instintiva de vontades, uma desestudada permuta de abnegações, um tecido vivente de almas entrelaçadas. Multiplicai a célula, e tendes o organismo.
Multiplicai a família, e tereis a pátria. Sempre o mesmo plasma, a mesma substância nervosa, a mesma circulação sangüínea. Os homens não inventaram, antes adulteraram a fraternidade, de que Cristo lhes dera a fórmula sublime, ensinando-os a se amarem uns aos outros: “Diliges proximum turum sicut ipsum”.
Dilatai a fraternidade cristã, e chegareis das afeições individuais às solidariedades coletivas, da família à nação, da nação à humanidade. Objetar-me-eis com a guerra!
Eu vos respondo com o arbitramento. O porvir é assaz vasto para comportar esta grande esperança. Ainda entre as nações, independentes, soberanas, o dever dos deveres está em respeitar nas outras os direitos da massa.
Aplicai-o agora dentro das raias desta: é o mesmo resultado; benqueiramo-nos uns aos outros, como nos queremos a nós mesmos. Se o casal do nosso vizinho cresce, enrica e pompeia, não nos amofine a ventura, de que não compartimos. Bendigamos, antes, na rapidez de sua medrança, no lustre da sua opulência, o avulsar da riqueza nacional, que se não pode compor da miséria de todos.
Por mais que os sucessos nos elevem, nos comícios, no foro, no parlamento, na administração, aprendamos a considerar no poder um instrumento de defesa comum, a agradecer nas oposições as válvulas essenciais da segurança da segurança da ordem, a sentir no conflito dos antagonismos descobertos a melhor garantia da nossa moralidade.
Não chamemos jamais de inimigos da pátria aos nossos contendores. Não averbemos jamais de traidores à pátria os nossos adversários mais irredutíveis.
A pátria não é ninguém: são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação.