Além disso, o significado
dessas palavras devia se associar
diretamente a hieróglifos egípcios que
pudessem ser usados para
representar os sons iniciais. A
primeira palavra da lista era aleph
(boi) e para representá-la foi
escolhido o hieróglifo que era o
desenho de uma cabeça de boi.
A segunda palavra foi beth
(casa), que ficou associada ao
hieróglifo que representava uma
casa. Obviamente, em egípcio, esses
hieróglifos estavam associados às
mesmas idéias mas não aos mesmos
sons. Por exemplo “casa” em egípcio é
per e não beth.
Feita a tabela com os caracteres,
os significados e os nomes, estava
criado o alfabeto. Agora, o hieróglifo
egípcio que representava “casa” e que
era associado às consoantes PR,
passou a ser o caracter que
representava apenas o som de “B”
inicial da palavra beth, a qual
passou, por sua vez, a ser o nome da
letra. Esse procedimento estendeu-se
a todas as palavras da relação,
surgindo deste modo o alfabeto.
O novo sistema de escrita assim
constituído, além de escrever só
consoantes, tomou-se uma forma de
escrita puramente fonética. Agora,
para escrever, era preciso decompor
as sílabas em seus elementos
consonantais e vocálicos, registrando
com os novos caracteres apenas os
elementos consonantais. Um
princípio acrofônico era a chave para
decifrar e escrever o alfabeto: bastava
saber o nome das letras, reconhecer o
som consonantal e usar o caracter
correspondente para escrever as
consoantes que iam sendo detectadas
nas palavras a serem escritas.
A idéia parecia boa demais e de
fato iria servir de modelo, muitos
séculos depois, para que os lingüistas
criassem os alfabetos fonéticos e
pudessem registrar e ler os sons de
todas as línguas do mundo, mesmo
daqueles que nunca tinham sido
escritas. Porém do ponto de vista do
uso, como veremos adiante, esse
novo sistema encontrou um
obstáculo intransponível na variação
dialetal da fala das pessoas. Teve
então que sofrer uma modificação
básica, justamente no aspecto que
parecia mais promissor, a
representação fonética dos sons da
fala.
Formas derivadas da escrita
fenícia foram encontradas em muitas
regiões do Mediterrâneo. Documentos
provenientes da Espanha (El Pendo),
da França (Glozel), de Portugal
(Alvão), da Itália e até da Iugoslávia
têm inscrições (não decifradas) em
caracteres cuja forma gráfica lembra
de perto a escrita fenícia. Em outros
lugares, como na Líbia, na
Mesopotâmia, na Turquia e na
Grécia, a escrita fenícia foi adaptada
às línguas locais e passou a ter um
amplo uso social.