Segundo Heródoto, um fenício chamado
Cadmos insta
lou-se na Boécia,
onde fundou Tebas e começou a
escrever grego com 16 caracteres
fenícios. Conta-se também que,
durante a guerra de Tróia, surgiram
quatro novas letras, introduzidas por
Palamedes. O alfabeto grego teria
sido completado pelo poeta
Simônides de Ceos (556-468 a.C.)
com mais quatro letras. É difícil
distinguir a história da lenda.
O fato de colocar letras
representando consoantes e vogais,
umas ao lado das outras, compondo
as sílabas, deu ao sistema de escrita
o verdadeiro alfabeto. É por isso que
muitos estudiosos dizem que o
alfabeto propriamente dito foi
inventado pelos gregos. Esta
afirmação dá ênfase à função das
letras na representação dos
segmentos das sílabas e deixa de
lado, de certo modo, a própria
natureza das letras, tal qual existia
na escrita semítica. São duas
concepções diferentes do que é uma
escrita alfabética.
No esforço para adaptar à sua
língua o sistema de escrita já
estabelecido para os fenícios, os
gregos seguiram o mesmo princípio
acrofônico da escrita fenícia.
Começaram adaptando os nomes das
letras lendo-os à moda grega. Assim,
ale passou a se chamar alfa, beth
passou a se chamar beta, e assim
por diante. O conjunto das letras
recebeu um nome composto pela
soma das duas primeiras, ou seja,
alfabeto. Algumas letras dos fenícios
representavam sons inexistentes em
grego. Passaram então, a representar
sons que existiam em grego mas não
nas línguas semíticas. As novas
letras inventadas baseavam-se no
estilo gráfico das já existentes.
O alfabeto grego passou mesmo
a ter letras para mais de um
segmento fonético das sílabas, como
_ = [dz], _ =[ts], _ = [ks], _ [ps]. É
curioso notar que o grego arcaico
começou distinguindo a aspiração de
sua não-ocorrência através de
dígrafos, escrevendo __ para [th] e
somente depois a letra _ passou a
representar sozinha o som [th],
ficando a letra _ para representar [t].
A distinção entre _ e _ diferenciava
[k] e [kh]. Sutilezas fonéticas também
surgiram nas vogais, com letras
diferentes para as breves _ e as
longas _ _.
O documento mais antigo que
temos é a inscrição no vaso Dipylon
(entre os séculos IX e X a.C.). Outros
exemplos são as inscrições de
Yehimelek, Tera, Melos e Creta.
Somente no século IV a.C. foram
uniformizados os diferentes usos das
letras num alfabeto de 24 letras, com
uma ortografia estabelecida,
formando a escrita do grego clássico.
As marcas de acento e alguns
sinais de pontuação, acompanhando
a escrita das palavras, foram
introduzidas por Aristófanes de
Bizâncio (250-180 a.C.) e pelo grande
Aristarco. O documento mais antigo
com essas marcas é o papiro
Bacchylides, que data do século I
a.C., mas os sinais diacríticos só se
tornariam obrigatórios na escrita a
partir do século IX de nossa era. O
tipo atual dos caracteres gregos foi
lançado em 1660 por Wetstein na
Antuérpia.
Os antigos costumavam escrever
as palavras sem separação,
emendando umas nas outras. Para
evitar ambigüidades, ou
simplesmente destacar palavras,
usavam um ponto separando-as. Os
semitas escreviam em geral da direita
para a esquerda. Os gregos
começaram a escrever na forma
bustrofedom (em grego, “caminho do
boi”), compondo uma linha da
esquerda para a direita e a seguinte
da direita para a esquerda,
invertendo a direção dos caracteres, e
assim sucessivamente a cada nova
linha.