Os etruscos instalaram-se no
centro da Itália por volta do ano 1000
a.C. Uma das poucas coisas que se
conhece deste povo é sua escrita,
baseada no alfabeto grego. Por volta
de 700 a.C., os etruscos começaram
a escrever, adaptando à sua língua o
alfabeto grego de 21 caracteres que,
com o tempo, chegou a ter 26 letras.
O documento mais antigo que
deixaram é o Cippus Perusianus, do
século V a.C.
Aos etruscos sucederam os
romanos. Roma foi fundada em 753
a.C. e desde sempre manteve
vínculos com os gregos. A República
Romana começou em 509 a.C. e, em
451 a.C., foi escrita a Lei das Doze
Tábuas. A mais antiga inscrição
conhecida em latim foi feita em
bustrofedom e gravada na “Pedra
Preta” do Fórum Romano, por volta
do ano 600 a.C.
Dos 26 caracteres etruscos, os
romanos passaram a usar apenas 21
letras. Algumas sofreram
modificações na forma gráfica e,
sobretudo, no valor fonético. Depois
que houve uma mudança fonética
A Origem do Alfabeto Luiz Carlos Cagliari
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significativa no latim, distinguindo
fonemicamente os sons k e g, a letra
C, que originariamente representava
o g, passou a representar o k; a letra
K, que representava o k, caiu em
desuso e foi substituída pela letra C.
Para representar, então, o som de g,
os romanos passaram a anotar a
letra C com uma pequena barra
vertical na parte inferior, no final da
curva, dando origem, assim, à letra
G. A invenção do G foi atribuída a
Spurius Carvilius Ruga (230 a.C.), Do
ipsilon grego, os romanos ficaram
apenas com a forma V,
representando um segmento labial
consonantal ou vocálico.
Posteriormente, com a distinção
fonêmica entre estas duas
realizações, a letra V ficou para o
segmento consonantal e a forma
arredondada U para a vogal. A forma
grega do Y limitou-se à escrita de
palavras de origem grega. Alguns
eruditos e até imperadores, como
Cláudio, tentaram inventar letras
para se tornarem famosos, mas
nenhuma dessas tentativas deu
certo.
Os romanos usavam um
diacrítico chamado apex para marcar
vogais ou consoantes longas
(geminadas). Tal uso não era, porém,
obrigatório. Esse diacrítico era um
acento ou uma vírgula sobre a letra: Í
= ii, S = ss. A partir do século II
torna-se mais comum o uso da
compendia, ou seja, da ligadura
para unir duas letras, como A+E –
Æ, O + E – OE.
As formas gráficas da escrita
cursiva desenvolvida pelos romanos
alteraram bastante as letras capitais
de seus monumentos. Documentos
com esse tipo de escrita, chamado
pugillares, foram encontrados em
Pompéia em 1875. Em 1973, muitas
tabuinhas com a mesma forma de
escrita foram descobertas no poço de
um forte romano em Vindolândia, no
norte da Inglaterra.
Com o objetivo de seguir o
princípio acrofônico já mencionado,
os romanos modificavam os nomes
das letras. Se a chave para a
decifração das letras está em seus
nomes, uma vez perdido totalmente o
caráter icônico das formas gráficas,
já não se precisava mais de nomes
com significados especiais para as
letras, como no alfabeto dos semitas.
Por outro lado, não havia
necessidade de adaptar esses nomes
à língua, como fizeram os gregos. O
mais prático era designar as letras
por monossílabos iniciados com o
som mais representativo de cada
uma delas.
Foi assim que as letras
passaram a se chamar a, bê, cê, dê,
etc. e o alfabeto passou a ter outro
nome, em português: “abecê”. Na
época de varrão (116-27 a.C.), havia
duas maneiras de dizer os nomes de
algumas letras: a antiga e uma nova,
com um E inicial, seguindo-se o som
da consoante, como em EF, EL, EM,
EN, ER e ES.