sábado, 21 de novembro de 2009

Balada de Neve

Batem leve, levemente,como quem chama por mim.Será chuva? Será gente?Gente não é, certamentee a chuva não bate assim. É talvez a ventania:mas há pouco, há poucochinho,nem uma agulha buliana quieta melancoliados pinheiros do caminho… Quem bate, assim, levemente,com tão estranha leveza,que mal se ouve, mal se sente?Não é chuva, nem é gente,nem é vento com certeza. Fui ver. A neve caíado azul cinzento do céu,branca e leve, branca e fria…. Há quanto tempo a não via!E que saudades, Deus meu! Olho-a através da vidraça.Pôs tudo da cor do linho.Passa gente e, quando passa,os passos imprime e traçana brancura do caminho… Fico olhando esses sinaisda pobre gente que avança,e noto, por entre os mais,os traços miniaturaisduns pezitos de criança… E descalcinhos, doridos…a neve deixa inda vê-los,primeiro, bem definidos,depois, em sulcos compridos,porque não podia erguê-los!… Que quem já é pecadorsofra tormentos, enfim!Mas as crianças, Senhor,porque lhes dais tanta dor?!…Porque padecem assim?!… E uma infinita tristeza,uma funda turbaçãoentra em mim, fica em mim presa.Cai neve na Naturezae cai no meu coração. Augusto Gil