terça-feira, 18 de agosto de 2009

O ALFABETO ROMANO DEPOIS DO LATIM

A EXPANSÃO DAS LÍNGUAS LATINAS
A forma misturada de dizer o nome das letras em latim passou, mais tarde, para as línguas neolatinas, como o português. Essa mudança alterou, em parte, o princípio acrofônico. Posteriormente, com a introdução de novas letras, o princípio acrofônico nem sempre foi respeitado. Assim a letras H, que os romanos chamavam de adspiratio, passou a se chamar agá em português. Desde sua origem mais remota, ela tem sido usada como uma espécie de “curinga”, representando sons diversos ou, mais freqüentemente, modificando o valor fonético da letra anterior e formando dígrafos. A letra W, em Portugal chamada A Origem do Alfabeto Luiz Carlos Cagliari 7 de “duplo vê” e no Brasil de “dábliu”, já aparece em documentos insulares em 692 e veio, como o nome português indica, da escrita de dois V. Sua difusão deve-se ao extenso uso que teve em manuscritos da Alemanha nos séculos XI e XII. No século XVII, passou a representar uma consoante diferente, tornandose assim uma letra a mais no alfabeto. A letra J é também uma invenção da Idade Média. Surgiu quando os escribas perceberam que, escrevendo dois ii góticos juntos, pareciam estar escrevendo um H. Para distinguir os dois casos, o segundo I da seqüência passou a ser grafado com uma pequena curva virada para a esquerda, originandose assim a letra J. O pingo do J começou a aparecer no século XIV, tornando essa letra mais fácil de ser reconhecida na escrita gótica. Foi Louis Meigret quem colocou no alfabeto francês o J como letra independente, em 1542. A escrita minúscula passou a ter a barra vertical do t aumentada, cortando a barra horizontal, em 1467. O alfabeto inglês antigo tinha duas letras novas, o thorn ð e o winn þ. A letra winn veio do alfabeto rúnico, também derivado do romano, e apareceu pela primeira vez num documento do ano de 811. A letra C representava o som inicial da palavra child, escrita cild. A letra S passou a ter duas formas gráficas: ƒ e S, e as duas formas amalgamadas aparecem na escrita alemã fracture como ß. A letra Ç surgiu na península Ibérica, quando as línguas neolatinas começavam a ser escritas, para representar o mesmo som grafado pelos antigos ingleses com as letras thorn e wynn. A forma gráfica mais antiga do Ç era um C com um pequeno Z subscrito. Algumas línguas procuraram modificar a forma gráfica básica de certas letras para obter novos caracteres e assim representar sons que não tinham letras próprias no alfabeto romano. O tcheco, por exemplo, incluiu letras como C C; o rumeno, T; o norueguês, Æ Ø; o sueco, Ä Å; o espanhol, Ñ etc. O uso dos acentos para diferenciar qualidades vocálicas diferentes em português vem da influência árabe e já aparece no português arcaico. Convém lembrar também que os alfabetos de algumas línguas deixaram de lado certas letras do alfabeto romano. O italiano não possui as letras J, K, W, X e Y. O iorubá não tem as letras C, Q, V e Z. Finalmente, as letras do alfabeto romano foram assumindo estilos diferentes, com a produção de livros manuscritos e, sobretudo, depois do surgimento das tipografias (1456). A forma gráfica das letras foi se modificando criando-se, assim, novos alfabetos. A escrita monumental romana deu origem às letras de forma maiúsculas e a escrita carolíngia deu origem às letras de forma minúsculas, no século IX. No século XII, surgiram as letras góticas (ou pretas) e as escritas cursivas caligráficas. Folheando-se, hoje, uma página de jornal ou de revista, constatamos uma infinidade de alfabetos. Mas o princípio alfabético permanece constante: a ortografia define o valor funcional das letras, mesmo quando o aspecto gráfico vai gerando novos alfabetos que, por serem usados para transcrever uma mesma língua e valerem como substitutos do alfabeto romano primitivo (letras de forma maiúsculas), são, para nós, simples variantes de um mesmo alfabeto. Na verdade, no mundo de escrita em que vivemos, lidamos com inúmeros alfabetos, além de contarmos, ainda, com caracteres não alfabéticos, como os pictogramas modernos, a escrita A Origem do Alfabeto Luiz Carlos Cagliari 8 ideográfica dos números, das abreviaturas, siglas, logotipos e inúmeras marcas e sinais que completam o nosso sistema de escrita. O alfabeto, hoje, é apenas uma parte do sistema de escrita que usamos, mas as letras ainda são a parte mais importante deste sistema.