É difícil perceber hoje o que
aconteceu a certos anjos políticos selvagens nas semanas que antecederam
as eleições. Houve gestos, atitudes, acções e muita, mas mesmo muita
mentira e ofensa pessoal e cívica. Isto demonstra que há quem saiba
chorar convulsivamente, despertando a piedade alheia, depois de ter
vivido dias, meses, anos, adormecido pelo dinheiro fácil que ganhou, de
forma resignada à situação, e acomodado que nem um insidioso fascista.
Cansados de serem duplos ou segundos planos, viraram a casaca, tornaram
num inferno a vida deles, e por despeito, ódio e raiva de quem não é
capaz de trabalhar seriamente e afirmar-se no seio desta comunidade,
infantilmente, e de modo desesperado e inócuo, falhos de coragem,
dedicam-se à mascarada ignóbil. Passaram a ser detestáveis, uns
pequeninos monstros, cuja aura de antipatia concita apenas a admiração
de outros falhados ou invejosos. Os conscientes desprezam.
Quiseram que a ilha à custa deles se transformasse em Região subalterna
de Portugal, com essa preciosa ajuda das televisões nacionais, que
perante visões ideologicamente contrárias dos seus chefes, vieram aos
magotes, mostrar que são diferentes dos magarefes que estão nas
instalações de Santo António. A RTP trouxe vários elementos que
produziram ao longo de semanas, repetidas cenas e acontecimentos, tudo
sob a capa de critérios jornalísticos objectivos. Custa1 milhão de
euros/dia.
Alguém na dita esquerda ficou inteiramente satisfeito e tranquilo com as
reportagens realizadas? Será que eles deram a ajuda pretendida para
desviar votos de Alberto João para outros? Não se sabe. Ninguém consegue
saber o que agradou mais aos madeirenses na hora de votar. Se as
mentiras descaradas duma oposição infrene e sucessivamente desmentidas
pelos visados (governo e outras instituições), se o estilo deste ou
daquele candidato, se as características pessoais dos concorrentes, ou
se pela imagem pública de alguns, condicionada por opções e factos da
sua vida particular? Ninguém sabe. Os sociólogos também não explicam.
Houve anjos políticos selvagens, entre anjolas de todo o género.
Sinceramente, também não percebi a falta de actuação da PSP para exigir o
cumprimento da lei, a candidatos desordeiros, que se atreveram a
colocar a viatura em que se faziam transportar, em cima dos passeios, ou
nas placas da Avenida Arriaga. Tenho bons olhos para a PSP, mas
confesso que até explicarem este atropelo, vejo aquela corporação com
outros olhos.
Atenção que não me aqueceu, nem arrefeceu, o facto de haver pessoas que
disseram coisas desagradáveis, atacando, como seria lógico esperar, as
figuras do Governo, particularmente o Presidente do Governo Regional,
que não sendo santo, teve momentos em que se excedeu. Cada um seduziu o
eleitorado conforme quis e lhe apeteceu, e isso transbordou para as
televisões e para as páginas dos jornais, conforme a lisura de
tratamento dos que são comunicadores sociais por excelência ou
ideologia.
A relação mais correcta entre a PSP e a população, nomeadamente nestas
situações é evitar confrontos e rebeldias. Mas pactuar com atropelos à
lei, não contribui para a confiança que nos merece a Polícia, pelos
relevantes serviços que presta, e pela forma objectiva de servir as
pessoas, e garantir-lhes isenção e segurança, não pactuando com actos
incorrectos.
Espero que haja reflexão séria e mudança de comportamentos. Quem foi
eleito não se pode permitir a devaneios ou desvios de linguagem. A
Assembleia Legislativa da Madeira acolhe a partir de agora,
representantes de partidos políticos com responsabilidades acrescidas.
Irreflectidamente, alguém disse que não apresentava propostas, porque
não acreditava na Assembleia que é a verdadeira casa da democracia e da
Autonomia.
Bem sei que há eleitores mais politizados que outros. Mas o absurdo
eleitoral existe para mal dos nossos pecados, e aquilo que foi o
apuramento deve ser aceite sem rebuço. Afinal o povo sabe o que faz. Na
Madeira existe um só grande partido. Os restantes são fragmentações, que
os próprios, um dia, perceberão que lhes compete diagnosticar o que os
diferencia, e não o que são semelhanças.
Temos quatro anos para definir e decidir quem são as figuras de primeiro
plano de cada um dos partidos representados no Parlamento Regional, na
medida em que estas tendem a ser apagadas. O drama das substituições não
se coloca em nenhum partido. Existem os Congressos e as Convenções para
decidir quem é líder quando esse tempo chegar. Será sempre encontrado
um homem carismático para ocupar a liderança seja de que partido for. Há
descontentamento à esquerda, à direita ou ao centro.
Não queremos uma Região aparentemente democrática. Queremos uma Região
Autónoma, verdadeiramente democrática, onde os representantes do povo
terão de realizar os seus programas sem ofensas indesejáveis,
intolerâncias ou abusos de qualquer espécie. Cabe aos líderes moderar a
agressividade da linguagem, porque foram eles que exacerbaram os debates
em campanha eleitoral. O fulcro de todas as atenções esteve na Madeira,
muito mais tempo que o necessário. Há discursos demagógicos que só
servem para inflamar os ânimos. E humorismos descabidos.
Vivemos uma era diferente, com essências diferentes. As gerações são
outras, pelo que as referências também são outras. Há que viver com
realismo e sem excessos de nenhuma espécie. Basta de confrontos imbecis.
De palhaçadas que retiram dignidade a quem as concretiza pelo facto de
estarem culturalmente bestializados. |
Artigo de Opinião de : Gilberto Teixeira
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