sábado, 22 de outubro de 2011

Os anjos políticos selvagens


GILBERTO TEIXEIRA
Os anjos políticos selvagens
 

É difícil perceber hoje o que aconteceu a certos anjos políticos selvagens nas semanas que antecederam as eleições. Houve gestos, atitudes, acções e muita, mas mesmo muita mentira e ofensa pessoal e cívica. Isto demonstra que há quem saiba chorar convulsivamente, despertando a piedade alheia, depois de ter vivido dias, meses, anos, adormecido pelo dinheiro fácil que ganhou, de forma resignada à situação, e acomodado que nem um insidioso fascista.
Cansados de serem duplos ou segundos planos, viraram a casaca, tornaram num inferno a vida deles, e por despeito, ódio e raiva de quem não é capaz de trabalhar seriamente e afirmar-se no seio desta comunidade, infantilmente, e de modo desesperado e inócuo, falhos de coragem, dedicam-se à mascarada ignóbil. Passaram a ser detestáveis, uns pequeninos monstros, cuja aura de antipatia concita apenas a admiração de outros falhados ou invejosos. Os conscientes desprezam.
Quiseram que a ilha à custa deles se transformasse em Região subalterna de Portugal, com essa preciosa ajuda das televisões nacionais, que perante visões ideologicamente contrárias dos seus chefes, vieram aos magotes, mostrar que são diferentes dos magarefes que estão nas instalações de Santo António. A RTP trouxe vários elementos que produziram ao longo de semanas, repetidas cenas e acontecimentos, tudo sob a capa de critérios jornalísticos objectivos. Custa1 milhão de euros/dia.
Alguém na dita esquerda ficou inteiramente satisfeito e tranquilo com as reportagens realizadas? Será que eles deram a ajuda pretendida para desviar votos de Alberto João para outros? Não se sabe. Ninguém consegue saber o que agradou mais aos madeirenses na hora de votar. Se as mentiras descaradas duma oposição infrene e sucessivamente desmentidas pelos visados (governo e outras instituições), se o estilo deste ou daquele candidato, se as características pessoais dos concorrentes, ou se pela imagem pública de alguns, condicionada por opções e factos da sua vida particular? Ninguém sabe. Os sociólogos também não explicam.
Houve anjos políticos selvagens, entre anjolas de todo o género. Sinceramente, também não percebi a falta de actuação da PSP para exigir o cumprimento da lei, a candidatos desordeiros, que se atreveram a colocar a viatura em que se faziam transportar, em cima dos passeios, ou nas placas da Avenida Arriaga. Tenho bons olhos para a PSP, mas confesso que até explicarem este atropelo, vejo aquela corporação com outros olhos.
Atenção que não me aqueceu, nem arrefeceu, o facto de haver pessoas que disseram coisas desagradáveis, atacando, como seria lógico esperar, as figuras do Governo, particularmente o Presidente do Governo Regional, que não sendo santo, teve momentos em que se excedeu. Cada um seduziu o eleitorado conforme quis e lhe apeteceu, e isso transbordou para as televisões e para as páginas dos jornais, conforme a lisura de tratamento dos que são comunicadores sociais por excelência ou ideologia.
A relação mais correcta entre a PSP e a população, nomeadamente nestas situações é evitar confrontos e rebeldias. Mas pactuar com atropelos à lei, não contribui para a confiança que nos merece a Polícia, pelos relevantes serviços que presta, e pela forma objectiva de servir as pessoas, e garantir-lhes isenção e segurança, não pactuando com actos incorrectos.
Espero que haja reflexão séria e mudança de comportamentos. Quem foi eleito não se pode permitir a devaneios ou desvios de linguagem. A Assembleia Legislativa da Madeira acolhe a partir de agora, representantes de partidos políticos com responsabilidades acrescidas. Irreflectidamente, alguém disse que não apresentava propostas, porque não acreditava na Assembleia que é a verdadeira casa da democracia e da Autonomia.
Bem sei que há eleitores mais politizados que outros. Mas o absurdo eleitoral existe para mal dos nossos pecados, e aquilo que foi o apuramento deve ser aceite sem rebuço. Afinal o povo sabe o que faz. Na Madeira existe um só grande partido. Os restantes são fragmentações, que os próprios, um dia, perceberão que lhes compete diagnosticar o que os diferencia, e não o que são semelhanças.
Temos quatro anos para definir e decidir quem são as figuras de primeiro plano de cada um dos partidos representados no Parlamento Regional, na medida em que estas tendem a ser apagadas. O drama das substituições não se coloca em nenhum partido. Existem os Congressos e as Convenções para decidir quem é líder quando esse tempo chegar. Será sempre encontrado um homem carismático para ocupar a liderança seja de que partido for. Há descontentamento à esquerda, à direita ou ao centro.
Não queremos uma Região aparentemente democrática. Queremos uma Região Autónoma, verdadeiramente democrática, onde os representantes do povo terão de realizar os seus programas sem ofensas indesejáveis, intolerâncias ou abusos de qualquer espécie. Cabe aos líderes moderar a agressividade da linguagem, porque foram eles que exacerbaram os debates em campanha eleitoral. O fulcro de todas as atenções esteve na Madeira, muito mais tempo que o necessário. Há discursos demagógicos que só servem para inflamar os ânimos. E humorismos descabidos.
Vivemos uma era diferente, com essências diferentes. As gerações são outras, pelo que as referências também são outras. Há que viver com realismo e sem excessos de nenhuma espécie. Basta de confrontos imbecis. De palhaçadas que retiram dignidade a quem as concretiza pelo facto de estarem culturalmente bestializados.


Artigo de Opinião de : Gilberto Teixeira