domingo, 16 de outubro de 2011

Cuidado com as especulações

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CUIDADO COM AS ESPECULAÇÕES *
Andam muito atarefados em busca de castigos para quem ganhou as eleições à custa de inaugurações (batota eleitoral, diziam eles) e insistem em especular com teorias de medo em termos de pagamento da dívida da Madeira. Nada do que dizem é correcto e em artigos anteriores procurei dar uma ideia que jamais poderia o governo da República impor seja o que for à Madeira. Tudo é negociado e negociável à luz da Constituição da República e do Estatuto Político Administrativo.
O que está negociado com a troika pelo governo de José Sócrates e com o aval do PSD e do CDS, que estão agora no Governo da República, já impõe cortes nas transferências para a Madeira e em termos de fiscalidade também já estamos solidariamente a pagar mais IVA em diversos produtos, como vamos ser contribuintes com uma parte do 13.º mês, como qualquer português. O resto é conversa para se fazer depois do Governo Regional tomar posse lá para Novembro, ainda que possa haver entendimentos a incluir no Orçamento de Estado.
O que se possa dizer é pura especulação. Os madeirenses não vão pagar taxas moderadoras, nem portagens, nem perderão direitos. Há um só País, mas, aqui manda somos nós. Como disse o vencedor das eleições dr. Alberto João Jardim, tem de funcionar o princípio dos benefícios e sacrifícios iguais entre todos os portugueses. E Passos Coelho nas poucas declarações que fez acerca do assunto nunca referiu coisa diferente.
Os perdedores estão com uma cachola enorme. Foi uma vergonha o que se passou, e é simples de explicar. O PSD da Madeira é autónomo do PSD nacional. Não se submete aos ditames dos marajás que proliferam no laranjal continental. Não recebe ordens de Lisboa. Daí que Alberto João Jardim repita milhares de vezes que o seu partido é a Madeira. E é por isso que ganha eleições. Com os restantes, não se passa nada assim. Hierarquicamente dependem de Lisboa. Não têm autonomia nenhuma. Com a excepção dos novos partidos, cuja fundação, é continental, caso contrário não podiam concorrer a actos eleitorais, mas que desconheço programa, princípios, propostas, e estatutos.
O caso do Partido Socialista é catastrófico, anormal, com laivos de indigência política. Foi um descalabro de estratégia, incoerente, ilógica, sem qualidade política no conteúdo das propostas, nem das mensagens. Para além de dar a ideia de que o Partido foi tomado de assalto por um determinado grupo, sem respeito pelos dirigentes actuais, legitimamente eleitos, mas forçados a ceder o seu lugar e o seu papel moderador e mobilizador a estranhos, ainda houve o desplante de avançar com slogans simplesmente deploráveis.
Publicitar uma frase do Ministro Gaspar sobre a dívida da Madeira, teve um efeito perverso. A esmagadora maioria do povo que vota, não vê televisão, não ouve rádio, muito menos lê jornais. À hora em que os políticos trabalham, o povo trabalhador está na cama a dormir. Porque se levantam à hora em que os políticos se deitam. Fiar-se no eleitorado urbano, muito volátil e interesseiro, que dá palmadinhas nas costas e aplica porrada no voto, é ignorar o que pensam os madeirenses de outros madeirenses, sobretudo os pobres dos ricos, os desempregados dos que têm emprego, os que vivem (ainda) em habitações degradadas, dos que usufruem de um lar com todas as comodidades.
Passear pelas ruas do Funchal a distribuir sorrisos, é o mesmo que deitar um punhado de notas de 20 euros, ao ar, no meio de uma multidão. Apanha quem apanhar, o resto fica desconsolado. Só que quem assim procedeu e sabendo que errou e prejudicou o seu partido e os seus apoiantes, não assume as suas responsabilidades, ou seja, demitirem-se.
Eles falaram dos outros criticaram os outros, mostraram-se salvadores da Madeira, mas no fundo o que queriam era salvar o seu lugarzinho de deputado, que se é bom para o PSD e para o CDS também é bom para eles. Os de Lisboa vieram cá fazer o quê? Só prejudicar. Faço uma excepção para Jerónimo de Sousa. O resultado do PCP foi uma surpresa. Mas eles sabem dar um passo atrás para depois dar dois adiante.
Indesculpável aquilo que se passou no Bloco de Esquerda. Lá se foi uma vida de trabalho de Paulo Martins e Guida Vieira, sobretudo o combate e a luta pelos direitos das bordadeiras como de outros trabalhadores. Não atribuo culpas a Roberto Almada. Ele trabalhou que nem um doido. Não importa como geriu esse combate e que estratégia o aconselharam a seguir. Perdeu por culpa dos donos das ideias de Lisboa. Dos azeitados que andam sempre com os azeites e são dos mais antigos dirigentes partidários deste País.
Devem um pedido de desculpas aos indefectíveis da UDP. E devem no meio daquela arrogância de sabedoria continental, penitenciar-se perante Paulo Martins e Guida Vieira, por se intrometerem num território político que não é o deles. Porque não o conhecem. A Madeira tem especificidades de todo o género. Não é só um espaço insular, nem uma terra com terço de terreno habitável. É gente com garra, com convicções, de luta e de combate, com humildade, vigor, determinação e coragem.
Paulo Martinho e Guida Vieira, estão para Louçã, como a Madeira está para os escribas desorientados que nos vêm de fora. Ofendidos, humilhados e se calhar, caridosamente, concedendo perdão a quem deixou que a obra erguida com sacrifício e solidariedade de camaradas em todas as frentes de batalha, fosse arrasada pelo terramoto da ignorância enriquecida! *Gilberto Teixeira