Um eleitorado suficiente maduro,
esclarecido e habituado às especificidades, incluindo as folclóricas,
subjacentes a qualquer processo eleitoral já sabe que eleições em
sondagens não são verdadeiramente eleições. E sabe também que, regra
geral, há um lugar-comum quando os políticos são interrogados pelos
jornalistas em busca de reacções: sondagens são sondagens e valem o que
valem”. Ou seja, se os resultados lhes interessam, valorizam-nas, se
pelo contrário defraudam expectativas, são remetidas para o lixo, pior
do que o das agências de rating! O problema é que em meu entender deviam
existir regras obrigatórias que credibilizassem as sondagens, evitando
este frenesim todo na apresentação de trabalhos sem consistência, e sem
representatividade, independentemente do facto de algumas delas até
poderem acertar. E quando falo em regras falo, por exemplo, e entre
outras, na obrigatoriedade de um universo mínimo, na recusa de
percentagens de resposta inferiores a 7 ou 10% dos contactados, e na
definição clara de métodos obrigatórios de consulta. Credibilizar e dar
uma amplitude e noticiosa a sondagens (e esclareço que não estou a
referir-me especificamente à da TVI nem a outras relacionadas com as
eleições regionais, porque as reconheço que as empresas da
especialidade, que estão concentradas no continente (Lisboa ou Porto)
têm dificuldades acrescidas, até pelo desconhecimento da realidade
regional nas suas múltiplas componentes, em estar no terreno nas regiões
insulares) que não cumpram essas regras, muitas vezes com universos
reduzidos de consulta – porque tudo tem a ver com os recursos
financeiros disponíveis para este tipo de trabalho – e que não têm
rigorosamente nada de esclarecedor, podendo, ao invés disso,
desmobilizar as pessoas que eventualmente se deixem iludir e caíam logro
de pensarem que tudo está resolvido. Não está, nunca está.
O que se deseja, em todas as eleições, para além dos resultados que
interessam óbvia e especificamente aos partidos, é a mais ampla
participação dos eleitores num acto de cidadania que alguns entendem
dever ser obrigatório, impondo essa ida às urnas, que devia ser um acto
de liberdade e de convicção, consentâneo com a consciência de cada homem
ou mulher, jovem ou adulto. Confesso que fui sempre, e continuo a ser
um opositor da imposição do voto. Mas tenho a consciência que aumenta a
pressão, na Europa, para que se siga por esse caminho. E isto porquê?
Porque se não se discute a legitimidade dos eleitos em qualquer acto
eleitoral, tenha ele a taxa de participação que tiver, já se pode
questionar, em última instância a representatividade dos eleitos, por
exemplo num universo caracterizado por fortes abstenções. Não só
fragiliza a vitória dos vencedores, passemos a expressão, como
fragilizar o acto eleitoral em si mesmo. Depois há o caricato,
particularmente da parte dos partidos que perdem, que nunca têm a
coragem de assumir a derrota, que nunca reconhecem as más escolhas de
pessoas que fazem, refugiando-se todos na alegação de que a abstenção os
penaliza, menos a quem é mais votado. Ou seja, a abstenção é
“propriedade” de quem perdeu – vejam bem esta teoria! – mas nunca de
quem venceu. E já nem falo nos argumentos de alguns políticos (?) – como
ainda há dias ouvi um deles fazê-lo com grande desplante – que garantem
que sozinhos não vão o parlamento, ao qual concorre, recusando ocupar o
lugar por alegada inexistência de condições políticas para o fazer. Ou
seja, mesmo antes de conhecer o veredicto das pessoas, já as condena, já
as pressiona, já as critica. Ou votam para que pelo menos um par deles
sejam eleitos, ou aquele candidato em concreto, mesmo que venha a ser
eleito – não acredito que seja – não ocupa o lugar porque não tem
pachorra, porque acha que não existem condições políticas democráticas,
porque não sei o que mais. Não teria sido mais fácil pura e simplesmente
não se candidatar, neste caso? Há coisas que se podem pensar
obviamente, mas não se dizem, ou melhor dizendo, não se dizem da forma
como muitas vezes são ditas, porque fica sempre a dúvida de que há uma
coacção a ser exercida sobre quem vota.
Outra técnica, absolutamente pacóvia, mas que revela a outra face de um
processo eleitoral, onde a mediocridade e o oportunismo muitas vezes
caminham de braço-dado, tem a ver com a forma como se regem as relações
entre partidos (e candidatos) e meios de comunicação social (mas sobre
este tema teríamos muito a dizer) no que diz respeito, e vou-me, limitar
a isso, às “vendas” de pretensos resultados de estudos de opinião e
“sondagens” realizados pelos próprios partidos e que não passam de
embustes, porque apontam sempre para as conclusões que eles pretendem e
que melhor lhes servem. São telefonemas, faxes, SMS, pressões de toda a
espécie para que esses “resultados”, obviamente convenientes, sejam
vendidos e transformados em notícia. A questão aqui reside apenas na
seriedade, no distanciamento e na forma como o jornalista e/ou no meio
de comunicação social e respectivas motivações subjacentes, a um e a
outro, gerem todos os factos relacionados com um acto eleitoral em
concreto. Garanto-vos, sem falsas modéstias, que aos anos que acompanho
os processos eleitorais regionais, com os dados todos computorizados que
tenho, de todos os actos eleitorais realizados na Madeira, com a
percepção que tenho daquelas que são as chamadas freguesias-tipo, embora
sem grande convicção no que a este item diz respeito porque não existem
situações claramente incontestáveis, considerando a tradição eleitoral
regional, a chamada média real e a tradição sentimental do eleitorado,
seria capaz de fazer uma projecção para 9 de Outubro, correndo riscos é
certo, mas provavelmente mais próxima do que os resultados de embustes e
de falsas “sondagens” realizadas pelos partidos, que chegam a favorecer
as duplas ou triplas intenções dos autores de tais “façanhas”. Mas que
ganham a dimensão de “notícia” de primeira página! O problema reside nos
perigos resultantes do facto da desfaçatez – e é disso que falamos –
transformar uma aldrabice partilhada numa “notícia”. A partir deste
momento tudo muda, porque entramos no domínio da credibilidade, da falta
de rigor ético e deontológico, da seriedade e do sectarismo de
entidades que pela sua natureza, devem (deviam) estar distantes de tudo
isso. Mas não estão, aliás há muito que não estão.
Por isso, quando se fala em sondagens, e sobretudo tendo em vista as
regionais de 9 de Outubro – sabendo-se, outro lugar-comum, que a grande
sondagem é aquela que resulta da vontade livre e democrática dos
cidadãos nas urnas – em meu entender há três quetsões importantes que
opinião pública em geral, políticos, jornalistas e sobretudo os
fazedores de sondagens não podem esquecer:
a) A lei eleitoral regional que vigora desde 2007, foi adoptada pela
primeira vez há quarto anos, não havendo nenhuma possibilidade de
comparação com actos eleitorais anteriores. Passou a vigorar um círculo
eleitoral único em vez dos anteriores 11 círculos municipais
correspondentes aos 11 concelhos da Madeira. Uma mudança que tem
repercussões na própria mobilização eleitoral concelho a concelho,
freguesia a freguesia;
b) O PSD da Madeira obteve em Maio de 2007 um resultado anormal – mais
de 90 mil votos – num acto eleitoral rodeado de imensos factos políticos
inéditos e que foi fortemente influenciado pelo caso da lei de finanças
regionais que ditou ao PS um dos seus piores resultados eleitorais de
sempre – quase o pulverizou do parlamento. Os protagonistas desse
desaire estão lá todos agora, uma vez mais, o que demonstra que a
memória colectiva dos partidos é um mito. Significa isto que, gostem ou
não, os resultados dos partidos serão sempre apenas uma referência
comparativa para efeitos contabilísticos e outras curiosidades;
c) A terceira questão tem a ver com o universo dos eleitores e com a
abstenção, e o impacto que este item tem no processo eleitoral. Nas
regionais de 2007 estavam inscritos nos cadernos eleitorais 232.052
eleitores tendo-se registado uma abstenção de cerca de 39,5%. Nas
legislativas nacionais de 5 de Junho, a Madeira tinha 255.928 eleitores e
obteve uma abstenção de cerca de 45,7%. Para as regionais de 9 de
Outubro, e segundo a DGAI, estão inscritos 256.481 eleitores. Sabem o
que isto significa? Entre as regionais de 2007 e as regionais de 2011
existem 24.429 novos eleitores, uma média de mais de 6.107 novos
eleitores por ano. Pergunto: qual a influência destes quase 25 mil
eleitores, que votarão pela primeira vez numas regionais, nas eleições
de domingo?
Não tenho resposta. Sei é que me garantem que cerca de 8 mil estudantes
fora da Região e mais 35 mil emigrantes, antigos ou mais recentes, mas
uns e outros recenseados, não votam porque ausentes. Será? |
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