Segunda-feira, 27 de Junho de 2011
Em nome da família humana
 
  Recentemente recebi um email que me tocou muito:  conta a história de um menino paquistanês, Iqbal Masih, que com quatro  anos foi vendido pela família, por 12 dólares, para uma fábrica de  tapetes. Aos 10 anos fugiu e criou um movimento em que denunciava a  escravatura infantil, e fê-lo pelo mundo inteiro. Aos 12 anos foi vítima  de assassinato no seu próprio país, pelos seus próprios “donos”.
    Este exemplo, esta história fez-me questionar. Mas que sociedade somos  nós? Que espécie de pessoas somos nós? Porque é que existem atrocidades  destas?
    Talvez porque existam pessoas como nós, europeus, árabes,  norte-americanos, cujo nível económico elevado é absurdo, ao ponto de se  desenvolverem gostos exigentes e pagarmos fortunas por objectos, que  não nos servem para nada e esvaziam vidas de seres humanos.
    É o nosso consumismo desenfreado que escraviza a vida de pessoas. Para  nós nos vestirmos bem e barato, calçarmos bem, comermos bem, acumularmos  coisas ridículas, estão crianças, homens e mulheres privados da sua  dignidade e, quem sabe, até da luz do sol.
    Não quero o barato das lojas dos chineses e de marcas made in China,  Paquistão, India, porque sei que os operários são vítimas de uma  exploração atroz. Não quero! 
    Não quero que o meu bem-estar cause o sofrimento do outro.
    Quero outro mundo para todos nós. 
   Quero respeito, quero justiça, quero estar atenta,  quero saber a origem dos produtos que compro. Quero comprar um produto,  que poderá ser mais caro, mas quero saber se quem o fez vive  condignamente.
    Enquanto, não tivermos a consciência de que todos somos um, que todos  somos responsáveis pelo outro, que aquele menino é da nossa família  humana, vão sempre existir situações destas.
    A solução desta mudança está nas nossas mãos, ou seja, nos nossos actos,  na nossa atitude. Não deixemos mais que uma criança pague com a sua  vida a nossa irresponsabilidade, a nossa ignorância, a nossa  inconsciência.
         Olga Dias, in Grão de Mostarda