quinta-feira, 3 de março de 2011

Os Gêmeos

Era muito criança, quando perdi minha mãe, tinha apenas nove anos, e, minha irmã, treze, ficamos com nosso pai; quando tinha catorze anos, estava no segundo ano do ensino médio, minha irmã já tinha dezessete, ela começava a namorar um rapaz que morava perto da nossa casa, era de gente da nossa amizade, minha irmã arrumou um emprego numa loja. Eu tomava conta da casa de manhã e, à tarde, ia à escola.

Tinha uma amiga muito querida, Lia, estávamos sempre juntas. Havia um rapaz que trabalhava numa farmácia, ele, sempre que eu passava em frente, ficava me olhando, comecei a gostar dele. Uma tarde, Lia me disse:

“Sabe quem pediu pra você ir ao jardim depois das seis horas?”

“Quem?” – perguntei.

“O Augusto, aquele rapaz que trabalha na farmácia.” Respondeu ela.

“Ai! Eu tenho vergonha.” - Disse eu.

“Você é boba mesmo, vai fazer 15 anos, e, além do mais, ele gosta de você.” -Retrucou ela.

“Eu também gosto dele.” - respondi.

“Então eu vou com você.” – disse minha amiga.

Comecei a conversar com ele escondido da minha família. Cinco meses depois, minha irmã soube e me chamou à atenção, eu disse que estava gostando dele. Ela contou para meu pai, minha irmã disse que era um bom rapaz e que eu já tinha quinze anos, meu pai deu seu consentimento para continuar a me encontrar com ele, só me pediu para ter juízo.

Um dia meu pai teve um desmaio no trabalho, e levaram ele para o hospital, foram feitos alguns exames, e o médico disse que ele estava sofrendo do coração, que não podia fazer esforço nem carregar peso e nem se aborrecer. Continuou a trabalhar, mas com os devidos cuidados.

Um dia disse a Lia que queria conversar com ela e lhe contei que tinha feito o que não podia fazer com Augusto, ela ficou assustada e disse:

-“E se você ficar grávida?”

Eu disse que ele queria casar comigo, era só arrumar um emprego melhor. Só uma vez não vou ficar grávida, ele gosta de mim. Mas se passaram vinte dias... Lia veio assustada dizer que Augusto tinha sido atropelado e que tinha sido levado para o hospital, fomos correndo para lá. Chegando, fomos informadas que ele estava sendo operado, demorou duas horas a cirurgia. Chamaram o pai dele, e veio a notícia que ele havia falecido. Ficamos todos desesperados.

Fiquei muito triste por tempos, emagreci, não conseguia estudar, só chorava. Alguns dias depois comecei a me sentir mal, vomitando. Lia me disse:

-“Você precisa ira ao médico, eu estou cismada com esses enjôos. Porque você pode estar grávida.”

Fiquei apavorada, achava que era por causa da minha tristeza, e pensava "meu Deus, o que vou fazer se for gravidez? Augusto está morto e meu pai não pode se aborrecer, minha irmã vai ficar muito brava comigo!"

Procurei esconder deles a minha situação até onde pude, passaram três meses e ninguém sabia da minha gravidez, eu chorava muito sem saber o que fazer. Um dia o patrão do meu pai veio nos buscar para ir ao hospital, pois tinham levado meu pai para lá, fomos chorando, pressentia que algo ruim estava para acontecer. Meu pai tinha tido um enfarte fulminante, nem tinha me recuperado da morte de Augusto, agora meu pai também estava morto, e nós, sozinhas, neste mundo, os amigos nos ajudavam como podiam. Passados uns dias, vi que precisava contar à minha irmã o que se passava comigo. Ela ficou desesperada e choramos muito, abraçadas, pensamos o que íamos fazer de nossas vidas, sem meu pai e com uma criança para sustentar.

-“Precisamos entregar a nossa casa que não vai dar para pagarmos os aluguéis.” – pensamos.

Fomos morar num quartinho na casa de Lia. Passaram os meses e deixei de ir à escola, passei a vender algumas roupas para a vizinha da Lia para poder ganhar algum dinheiro. No nono mês de gravidez estava bem gorda e minha irmã me levou ao médico, ele disse que eu estava grávida de gêmeos, quase desmaiamos, pois a situação ficava mais complicada ainda, a enfermeira que estava nos acompanhando disse que havia tantas mulheres querendo um filho e eu naquela situação. Fomos para casa e, à noite, já deitada, minha irmã me disse o que iríamos fazer. Ela me sugeriu que déssemos as crianças. Disse que eu era nova e que podia casar e ter quantos filhos quisesse.

No dia seguinte voltamos ao hospital e com dor no coração, disse à enfermeira:

-“Você acha que vou encontrar alguém que possa criar bem meus filhos?” “Com certeza,” disse ela.

-“Deixe comigo que vou arrumar quem possa dar a eles uma vida melhor do que você,”continuou.

Fui muito triste para casa, mas não via outra saída. Uma tarde ela foi em casa e me disse que havia encontrado quem até ia pagar o parto e dar um dinheiro para que eu pudesse me sustentar por algum tempo, só que não queriam que eu soubesse quem eram. Aceitei, e assim aconteceu...

Tive parto normal e só vi os meninos no parto. No dia seguinte a enfermeira entrou no quarto e me entregou uma quantia em dinheiro e me disse para não contar a ninguém, era perigoso, nem o médico podia saber que tinha dado as crianças, comecei a chorar, tinha a impressão que estava vendendo meus filhos, mas não podia recusar o dinheiro, pois a minha situação era muito difícil, minha irmã me abraçou chorando e me disse:

- “Você terá outros filhos, fortes e lindos, Deus te recompensará, Ele está vendo seu sofrimento.”

Fomos para casa, chorei muito. Passado um mês arrumei um emprego numa loja e com o dinheiro que recebera alugamos três cômodos perto da loja, eu e minha irmã agradecemos muito à mãe da Lia e fomos para nossa casa. Passaram cinco meses, minha irmã marcou casamento e fiquei muito triste, pois não queria ser um estorvo na sua vida. Uma tarde Lia veio afobada e me disse:

-“Preciso te contar o que descobri; vi a tal mulher, aquela que levou seus filhos e eu a segui e sei onde ela mora!”

Meu coração parecia que ia sair pela boca.

-“Ela mora no outro bairro. Amanhã à tarde na hora da sua folga eu te levo lá.”

Nem dormi direito aquela noite e no dia seguinte pedi pra sair mais cedo e o patrão concordou. Lia já estava me esperando na calçada, tomamos o ônibus e fomos; era uma boa casa e muito bonita, ficamos um tempão do outro lado da rua vendo se conseguíamos ver as crianças, já estava anoitecendo quando uma mulher saiu no portão com uma criança no colo, ele era lindo, quis me aproximar mais um pouco, mas Lia me puxou e eu disse:

-“Não vou fazer nada, só quero ver mais de perto.”

Quando a senhora nos chamou e perguntou:

-“Vocês não conhecem alguém de confiança que queira trabalhar de doméstica?”

Olhei para Lia e já tinha decidido, respondi:

-“Estou desempregada, se a senhora quiser eu posso fazer uma experiência”. Ela me respondeu:

-“Que bom, estou passando apertada, pois não consigo tomar conta de meu filho e fazer o serviço de casa.”

-“A senhora não vai se arrepender, farei tudo para que a senhora confie e goste de mim” – disse eu.Voltei para casa tão feliz que comecei a chorar de alegria, Lia me disse:

- “Veja o que vai fazer, cuidado para não estragar tudo.!”

Fui ate à loja e expliquei que não podia mais trabalhar lá, o Sr Antônio estranhou e perguntou se alguém tinha me ofendido, eu respondi que não. È que precisava ajudar uma amiga que estava doente. Na manhã seguinte fui cedo para lá. Ela me recebeu muito bem e me explicou o serviço, comecei com muita disposição. Disse a ela:

- ”Seu filho é lindo, como ele se chama?”

Ela me respondeu:

- “Rafael”.

- “Que nome bonito! Eu gosto muito de criança,” - respondi.

Ela disse:- “Que bom!” “Pois poderá me ajudar a tomar conta dele, quando chega a noite estou cansada”.

À tarde, na hora da saída, ela me disse:

- “Gostei de você e do seu trabalho; você é caprichosa como eu gosto...” Sorri e disse:

- “Até amanhã!”

Não contei nada à minha irmã, que estava trabalhando na casa do meu filho com medo dela não gostar, ficou em segredo entre eu e a Lia. Um dia perguntei à minha patroa: Ela me respondeu:

- “sim.”

À noite, eu comentei com Lia:

- “Mas o outro, onde será que está? Será que morreu? Não tenho como saber.” Lia me disse:

- “Fique contente com esse, depois vamos esperar para saber o que aconteceu com o outro.”

Já fazia um mês que estava trabalhando, todo tempo que eu tinha, ia brincar com Rafael, podia sair ou descansar mais. Eliana era uma pessoa muito boa, eu passei a gostar muito dela e de seu marido, era simpático e gentil comigo, era um homem sério.

Ela perguntou da minha família. Eu disse que tinha perdido minha mãe aos nove anos e meu pai aos dezesseis anos, e só havia restado uma irmã com quem morava, morava em três cômodos em outro bairro.

-“Mas minha irmã vai se casar dia vinte e dois, no sábado, até gostaria que a senhora me dispensasse mais cedo pra poder ir ao casamento dela.”

Ela me disse:

-“pode ir sossegada.”

O casamento foi muito simples, mas muito bonito, ela ficou uma noiva muito bonita. Quando nos despedimos, ela me abraçou e começamos a olhar, não sei que sentimento nos envolvia se era de alegria ou tristeza, pois íamos nos separar, ela ia morar em outro bairro do outro lado da cidade. Ela queria que eu fosse morar com ela, mas na circunstância em que eu me encontrava, não seria bom eu ir.

Naquela noite Lia foi dormir comigo, ela ficou preocupada em me deixar sozinha, me convidou pra eu ir morar com ela. Disse que iria pensar.

Na segunda feira D. Eliana me perguntou sobre o casamento. Eu comentei que tinha sido bom, simples, mas minha irmã estava feliz.

”Ela gosta muito do meu cunhado, pena que não vou poder estar sempre com ela porque vai morar num bairro do outro lado da cidade.”

-“Você vai também?” Perguntou ela.

Eu respondi:- “Não, eu gosto deste emprego.”

-“Aonde você vai ficar?”-Perguntou.

-“Não sei, sem a ajuda de minha irmã não vou poder pagar o aluguel.”

Na hora de ir embora D. Eliana me chamou e disse:

- “Eu conversei com Júlio e resolvemos te convidar para morar aqui, assim você não precisa tomar ônibus todos os dias para ir embora.”

-“Verdade? Meu Deus que coisa boa, não esperava esse convite!”- Disse eu.

D. Eliana concluiu:

-“Além do mais, você morando aqui, posso de vez em quando sair à noite para jantar ou num cinema, meu marido vai gostar.”

Rafael se apegou a mim, me sentia feliz só que estava sempre pensando no outro gêmeo, que será que teria acontecido com ele? Será que estava vivo? Deve ser parecido com Rafael; não sabia como procurar. D. Eliana perguntou:

-“Em que série você parou de estudar? Você não gostaria de continuar? Poderia estudar à noite, sem estudo não se vai a lugar nenhum. Rafael já está grandinho, não dá trabalho, se quiser, por mim está tudo certo.”

-“Verdade?” - Disse eu encabulada.

-“Claro, gostamos muito de você, queremos ver você em boa situação e sem estudo fica mais complicado.”- Disse ela.

-“Obrigada. A escola não fica longe daqui, vou ver como posso fazer, quando abrir a matrícula, eu farei.” Respondi eu.

Comecei a freqüentar as aulas, o tempo passava e eu na luta de todos os dias. Rafael crescia cada vez mais. Começou a ir para o jardim da infância, depois pré-primário... Via sempre minha amiga Lia e de vez em quando ia à casa de minha irmã, que já estava com dois filhos, o primeiro era um menino depois uma menina, ela estava muito feliz.

Dora não sabia que estava junto de meu filho, não quis contar a ninguém, só Lia sabia, era o nosso segredo.

Levávamos nossa vida alegre, D. Eliana e seu marido me consideravam muito e eu fazia minha parte para agradá-los.

Nos finais de semana eles saiam para jantar fora ou dançar. Eu gostava de ficar sozinha com Rafael, me sentia mais mãe.

Um dia D. Eliana brincou comigo dizendo:

- “Você precisa arrumar um namorado se não vai acabar ficando para titia, você é bonita sabe se arrumar tão bem, impossível que ninguém se interesse por você.”

- “Não estou interessada, no momento, talvez mais pra frente, estou ligada nos estudos, quero acabar a faculdade depois faço o que for melhor pra mim.” Disse-lhe.

Assim chegou o dia da formatura de pedagogia, estava muito feliz, todos foram na entrega do meu diploma.

Quatorze anos tinham se passado, mas não queria ir embora, eles gostavam muito de mim e eu deles.

Numa manhã D. Eliana me chamou e disse:

-“Telefone ao Júlio para me levar ao médico, pois não estou passando bem.” Ele chegou assustado e levou-a. Rafael estava na escola, pude ir com eles. Seu Júlio estava muito aflito, chegamos ao hospital, o médico levou pra fazer exames. Eu precisava ir pra casa, era hora de Rafael chegar da escola. Disse a ele que D. Eliana tinha ido para o hospital fazer exames, pois não estava muito bem. Ele quis ir junto deles. Depois de certo tempo, o médico chamou Seu Júlio para conversar. Quando saiu de dentro do consultório, estava muito triste, parecia que tinha chorado. Fiquei preocupada, não quis fazer perguntas, esperei ele estar mais calmo, mas Rafael perguntou, ele disse ainda estão fazendo mais exames, quando chegamos em casa, Rafael foi para o quarto estudar. Ele me chamou e disse, é muito grave.

-“O que D. Eliana tem, posso saber, senhor Júlio?”

-“Você pode, mas Rafael não convém. É câncer. Meu Deus, nos dê força a todos!” Disse o senhor Júlio.

D. Eliana veio para casa depois de ter sido operada e ter ficado muitos dias no hospital.

Teve melhoras, mas continuava o tratamento em casa. Quando piorava, voltava para o hospital. Foi assim por mais de seis meses, era um sofrimento só, para ela e para nós que, como eu, a amávamos tanto. Até que um dia, foi para o hospital e não voltou mais para casa. Assim Deus a livrou daquele sofrimento. Ficamos todos tristes, Rafael estava inconformado, chorávamos todos juntos. Um período difícil para todos nós, mas tínhamos que prosseguir a caminhada, quando uma estava mais para baixo o outro ajudava a reerguer. Tinha muito pena do Sr.. Júlio, ele se absorvia no trabalho. Do escritório pra casa, não saía, estava sempre triste.

Às vezes procurava confortá-lo, dar ânimo. Assim passaram dois anos.

Um dia, ele me disse:

-“Se não fosse você não sei o que teria sido de nós, te devo muito, por isso considero da minha família, não me chame mais de senhor, não sou tão velho assim!”

O tempo foi passando, começou outra fase. Melhoravam os nossos ânimos, podíamos sorrir mais, e foram crescendo os sentimentos entre nós com muito respeito. Um dia Rafael nos disse:

-“Não seria bom vocês se casarem e sermos uma família de verdade?”

Fiquei sem saber o que dizer. Um mês depois Júlio me disse:

-“Você se casaria comigo?”

Fiquei encabulada, e respondi:

-“Será que daria certo?”

- “Poderíamos tentar, se você aceitar.”-Disse ele.

No dia seguinte contei para Rafael, que vibrou, me deu um abraço e disse:

- “Não poderia ser melhor!”

Uma noite antes do nosso casamento, Rafael tinha saído, chamei Júlio e disse:

- “Eu não quero me casar com você sem que saiba o meu segredo.”

contei desde o começo tudo para ele, ficou pasmo, quieto, parado mesmo, acho que não sabia o que dizer. Pensando, me disse:

- “Você é muito digna e corajosa pelas suas atitudes. Gosto ainda mais de você. Nunca soube do outro gêmeo?”

- “Não, nunca soube.”-Respondi.

Como advogado, vou tentar investigar o caso.

- “Não sei se ele está vivo ou morto. Meu coração dói muito ao lembrar do outro.” – disse eu.

-“Admiro muito você nunca ter deixado transparecer este acontecimento, Eliana morreu sem saber e você se submeteu ao trabalho da casa, com Rafael, sem reclamar de nada, e vou fazer de tudo para desvendar a verdade sobre seu filho.” Comentou ele.

-“Que bom que você compreendeu a minha situação.”- Respondi.

Nosso casamento foi simples, com poucos amigos e familiares nossos, estávamos todos felizes. Uma noite Júlio disse:

-“É hora de contarmos tudo a Rafael. Ele tem que saber que você é sua mãe biológica, e contar também sobre seu irmão gêmeo.”

Fomos ao quarto dele. Júlio começou a contar tudo que se passou comigo, ele ficou quieto, abismado, ouvindo com toda atenção, depois começou a me abraçar, chorando, e nós também. Ele disse:

-“Você sabe que sempre te amei como mãe, embora sem saber. Que bom, tenho um irmão!”

-“Não sei se está vivo ou morto. Nem sei como encontrá-lo, não temos nenhuma pista.”- Respondi eu

. -“Mas se estiver vivo nós o encontraremos, não é, mãe?”

Comecei a soluçar ao ouvi-lo me chamar de mãe, abracei-o com toda força do meu amor.

Júlio começou a investigação. Começou pelo hospital, disseram que aquela enfermeira já tinha morrido, e como ela fez escondido do médico e do hospital ninguém sabia de nada.

Passado algum tempo, Júlio chegou todo contente, contando que tinha achado uma pista do gêmeo, quase desmaiei. Deu-me um copo com água. Quando estava mais calma começou a falar:

-“Hoje fui ao centro da cidade, entrei num bar, pedi um salgado e um refrigerante. Estava sentado, distraído, quando entrou um rapaz, eu chamei: Rafael o que você esta fazendo aqui?”

Ele sorriu e me disse:

-“Não me chamo Rafael, o senhor está enganado, me chamo Vitor.”

Eu levei um susto, meu coração disparou.

-“Me perdoe, meu filho é muito parecido com você!”

Ele riu. Eu pedi a Vitor que sentasse comigo.

-“Gostei muito de você, quero te conhecer. Meu nome é Júlio, sou advogado, moro num bairro não longe daqui.”

-“Eu já me apresentei, Vitor Bernardes.”

Ele sentou e começou a conversar; perguntei como chamava seu pai, conheço uma família Bernardes. Ele disse:

-“Meu pai se chamava Adir Bernardes, não deve ser dessa família.”

-“Chamava, por quê?”

-“Porque ele morreu há quatro anos num acidente, ele e minha mãe.”

-“Nossa? E você tem irmãos?”

-“Não, depois do acidente quis morar sozinho, mas a irmã de minha mãe, não deixou, fiquei muito descompensado com a morte deles. Moro com meus tios.”

-“Era só você de filho?”

-“Era filho de criação, pois minha mãe havia tido um aborto complicado e não podia ter mais filhos. Mas o amor que sentia era o mesmo, eu os amava muito.”

-“Eu entendo, pois aconteceu o mesmo comigo e minha mulher, amamos muito o filho que criamos.”

-“Gostei muito de você, gostaria de encontrá-lo mais vezes. Vou deixar o meu cartão, faço questão de recebê-lo em minha casa, eu acho que teremos uma boa amizade.”

-“Também gostei muito do senhor, é muito simpático. Vou deixar meu endereço e meu telefone.”

-“Abracei-o com carinho porque tenho certeza que é irmão de Rafael." - Comentou o dr. Júlio.

Ficamos tão felizes naquela noite que não conseguimos dormir de ansiedade. Júlio abraçando- me, disse:

-”Agora você pode dormir sossegada que tenho certeza que ele é seu filho, e foi bem criado.Ainda vamos ter muitas alegrias se Deus quiser, temos o endereço dele.”

Quando chegou no sábado eu disse a Júlio:

-“Não agüento mais de ansiedade por conhecer Vitor.”

Júlio me disse:

- “vou arriscar telefonar.”

Fiquei do lado dele, do outro lado uma voz de mulher, que atendeu.

-“É da casa do senhor Vitor?”

-“É sim senhor.”

-“Ele está?”

- “Sim, vou chamá-lo.” Ele atendeu:

-“Pois não!”

-“Aqui é Júlio, que nos encontramos no bar da cidade.”

-“Sei, como vai o senhor?”

-“Tudo bem, Vitor. É que você não me telefonou, achei que tivesse me esquecido.”

-“Não! Eu gostei muito do senhor. É que estive muito ocupado esse final de semana.”

-“Se você estiver mais folgado e quiser dar a honra da sua visita, venha almoçar conosco amanhã, vai conhecer minha família.”

-“Está bem, obrigada pelo convite para o almoço, irei com todo prazer. A que horas devo estar aí?”

-“Venha às onze horas, para podermos conversar com mais tempo.

-“Estarei as onze, obrigado.”

Meu coração batia desordenadamente, precisei fazer o impossível para me acalmar.

Comecei cedo o almoço e caprichei mais que pude. Estávamos tão felizes.!Rafael disse ao pai:

- “Será que ele é mesmo meu irmão?”

Júlio disse: -“Eu diria que tenho certeza, mas o impossível é Deus errar. Como dizem, vamos esperar os acontecimentos.”

Às onze horas e dez minutos a campainha tocou, não conseguia disfarçar minha ansiedade. Júlio foi atender.

-“Entre, meu rapaz!”

-“Com licença!”

Quando o vi, não tive dúvidas ele era igual a Rafael, só o cabelo que penteava diferente. Júlio me apresentou, minha vista escureceu, sentei-me numa cadeira que estava próxima.

-"Desculpe-me, estou contente por conhecê-lo.”

Rafael vinha vindo, eles se olharam.

-“Meu Deus! Não é que nos parecemos mesmo?”

Sentamos e começamos a conversar, os meninos olhavam um para o outro, e riam, acho que era de alegria. Victor disse:

- “Como podemos ser tão parecidos?”

Júlio disse:

- “Sabe, Victor, estamos achando que você é gêmeo de Rafael.”

-“Como? Que história e essa?”

-“Você me disse que era adotado e minha mulher teve um parto de gêmeos, e por circunstâncias dolorosas precisou dar seus filhos, no hospital eles separaram os gêmeos.”

-“Meu Deus! Minha mãe me contou que me pegou em um hospital, mas não disse que eu tinha um irmão gêmeo.”

-“Nem seus pais, nem eu e nem a minha primeira mulher sabíamos. Depois de ver vocês dois juntos, não tenho duvida de que vocês sejam gêmeos.”

Eu o abracei e todos nós nos abraçamos, chorando, foi grande a emoção que sentimos, quando nos acalmamos, ele me abraçou e começamos a chorar de novo. Júlio disse:

- “A sua mãe por acaso contou em que hospital você nasceu?”

-“Sim, Santa Adelaide.”

-“Agora temos certeza.”.

-“Amei muito meus pais, foram bons e me amaram também.”

Eu disse:

- “Fico aliviada e dou graças a Deus. Eu descobri o Rafael porque uma amiga minha seguiu D. Eliana, ela precisava de empregada e eu me candidatei, e fiquei até agora junto deles.”

Foi o dia mais feliz de minha vida, nem que eu vivesse por mil anos, não iria esquecer a alegria daquele domingo. Contei toda minha vida para ele, era muita emoção.

Ele foi embora prometendo que sempre estaria junto de nós, ia trazer os tios para nós conhecermos, assim que nos despedimos, comecei a chorar, ele me abraçou e disse:

- “Mãe, não se preocupe, não moro longe daqui, estarei sempre junto de vocês.”

Chorei mais ainda por ter ouvido dos lábios do Victor a palavra mãe, pois não esperava mais encontrar o outro gêmeo. Victor trouxe seus tios para nos conhecer. Estavam admirados com tudo.

Ficamos muito amigos. Eles sempre nos visitavam e meu filho estava sempre em casa, ele era um rapaz muito alegre, feliz e nos dava muita alegria vivendo todos como uma só família

Fiz tratamento para engravidar, meu desejo era dar um filho a Júlio que foi sempre um bom pai para Rafael e agora excelente marido, eu era muito grata a ele por toda minha vida. Quando disse a ele que estava desconfiada que estava grávida, ele ficou parado como se não tivesse entendido, e quando voltou do susto ele disse :

- “Será que é verdade? Você já esta com trinta e cinoc anos, não será perigoso?”

-“Já consultei com Dr.Rubens ele me disse que já passei por um parto e não sou tão velha assim. Vou marcar exames ainda hoje.”

-“Eu quero ir com você.

-Tudo bem.”

Dois dias depois fomos ao hospital, quando o resultado deu positivo ele me pegou no colo, me beijou, abraçou, não sabia o que fazer, o médico começou a rir.

Os meses passaram rápido, ele tinha todo cuidado comigo, e quando nossa Melissa nasceu, parecia um menino junto como os gêmeos, ficaram no berçário chocando a menina. Deus seja louvado que me faz tão feliz........ Obrigada, Pai.

Jeannette Guarido Romanini