segunda-feira, 16 de abril de 2012

nova ortografia - Os "contras" portugueses

Acordo ortográfico

Portugal e o ‘abrasileiramento’ do português

Por Hugo Souza

27/12/2009 | Enviar | Imprimir | Comentários: 15 | A A A
Na quarta-feira dia 16 de dezembro a ministra portuguesa da Educação, Isabel Alçada, fechou questão a respeito da aplicação nas escolas de Portugal das novas regras da língua portuguesa: não há prazo para que os “miúdos” tenham contato oficial, nas escolas do país, com a reforma na ortografia da “última flor do lácio”. Ao contrário do que estava previsto, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não entrará em vigor no sistema lusitano de ensino em 2010, e nada garante que o seja em 2011, 2012 ou 2013. Talvez em 2666, como chegou a ironizar o escritor português Pedro Mexia, aludindo ao título do romance póstumo do chileno Roberto Bolaños – cujos protagonistas, por sinal, são professores de literatura.
O adiamento foi anunciado pela ministra Isabel Alçada poucas semanas depois de sua colega da pasta da Cultura, Gabriela Canavilhas, ter garantido para janeiro a implementação do acordo ortográfico nas escolas portuguesas. A reviravolta toma ares de incongruência quando se observa que Portugal irá adotar no ano que vem novos programas de Língua Portuguesa para o ensino básico. Parece anedota, mas os novos programas para o ensino do idioma não abarcarão a nova ortografia. Foram várias as justificativas para a mudança de rumo, da falta de preparo dos professores de português – e de matemática, história, geografia, etc – até a advertência da ministra da Educação de que “não é preciso ansiedade”, passando pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros dizendo que as mudanças exigem “rigor, tempo e planeamento” – assim mesmo, sem o jota.
A certeza que fica é a de que os portugueses ainda estão reticentes quanto à adoção da unificação ortográfica, que muitos deles enxergam como uma espécie de “abrasileiramento” do idioma de Camões. O acordo acaba com 98% das diferenças existentes entre o português do Brasil e o português de Portugal, mas este percentual pode dar uma ideia errada acerca do alcance da reforma, uma vez que ela afeta apenas 0,43% do vocabulário brasileiro e 1,42% do português. É nesta diferença, entretanto, que reside a desconfiança. Um exemplo: em Portugal, não são poucos os que torcem o nariz para a eliminação das consoantes mudas de palavras como “acção” e “óptimo”.
Tão próximos, tão distantes
Adiamentos, atrasos e impasses têm marcado a história do acordo ortográfico, e ainda que não pareça, esta já é uma longa história. Levando-se em consideração o fato de que o acordo foi assinado em 1990 com previsão para entrar em vigor no dia 1º de janeiro de 1994, até que o adiamento da sua implementação nas escolas portuguesas nem soa tão grave assim. Isto sem contar que em 2007 as autoridades de Portugal chegaram a cogitar pedir um adiamento de dez anos para a entrada em vigor da unificação gráfica do idioma. Mais recentemente, a ratificação cabo-verdiana, por exemplo, estava prevista para maio deste ano, mas só foi acontecer no final de outubro.
E se hoje o trema do nosso teclado só serve para escrever palavras em alemão ou finlandês, por exemplo, é porque em julho de 2004 a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa aprovou um protocolo modificativo instituindo que o acordo ortográfico não precisava mais da ratificação de todos os membros da comunidade para entrar em vigor nos países que o aprovassem – como havia sido decidido originalmente –, desde que três nações que têm o Português como idioma oficial o fizessem.
Caso este protocolo modificativo não tivesse sido aprovado, ainda escreveríamos as paroxítonas “ideia”, “europeia” e “assembleia” com acentos agudos nos seus respectivos ditongos abertos. Isso porque Angola e Moçambique ainda não ratificaram o acordo, coisa que Guiné-Bissau só fez no fim de novembro deste ano, quando nós por aqui já dobrávamos esses e erres para compensar o desaparecimento do hífen em muitas locuções. Na verdade, as dificuldades para fazer valer o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa deixam uma outra certeza, além da desconfiança dos portugueses: não seria ele, o acordo, que iria selar o bom entendimento entre países historicamente tão próximos, e ao mesmo tempo tão distantes.
Em nossa opinião
Será uma pena se Portugal rejeitar o Acordo, que lá é visto por muitos como uma vitória de nosso país. A principal razão para o Acordo é permitir que a mesma edição de um livro seja aceita em todos os países, ao contrário do sistema atual em que cada país faz uma edição com a sua ortografia. As novas edições unificadas, muito mais numerosas, poderão trazer uma diminuição substancial nos preços dos livros.