É possível o Cristianismo sem Igrejas?
O não respeito pela liberdade cristã é fruto de líderes que estão preocupados consigo mesmos
José Luís Rodrigues, Padre
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Uma questão complexa. Sobre a qual não encontramos
resposta fácil. Se dissermos que não, deparamo-nos com uma vasta maioria
que se afastou das igrejas e agora procura viver a sua fé sem qualquer
ligação a estruturas eclesiásticas e dizem-se satisfeitos, felizes com a
fé que professam desligada de estruturas eclesiásticas. Se dissermos
que sim, tornamos inútil uma imensa doutrina sobre as igrejas, que
remonta aos Evangelhos, às Epístolas de São Paulo, à vasta e riquíssima
doutrina dos Grandes Santos Padres da História do Cristianismo e toda a
riquíssima doutrina produzida pelos eminentes teólogos ligados às
igrejas cristãs.
Há uma desilusão com as estruturas eclesiásticas. As pessoas não entendem nada de nada das estruturas eclesiásticas e das suas denominações. A nomenclatura e estrutura das igrejas é totalmente anacrónica e as designações que se lhes aplica nada diz às mulheres e homens dos nossos tempos. Quantos são os que sabem o que é o Papa, os Bispos, os Padres (sem falar dos diversos títulos anacrónicos e injustamente atribuídos aos membros da hierarquia), os Concílios, os Sínodos, os Presbitérios, as Congregações, os Movimento e toda a nomenclatura que se apregoa na linguagem das igrejas que só serve para consumo interno? - Sem esquecer todos esses nomes que as igrejas utilizam como se toda a gente soubesse deste vocabulário.
As estruturas estão carregadas de regras ou estatutos rígidos que estão na cabeça dos líderes e quase sempre desconhecidos dos membros que compõem os diversos conjuntos. Por fim, resta o povo simples que é tratado como fiel, a quem é pedido que obedeça e dê esmolas silenciosamente. Nada tem a dizer da escolha dos membros que irão liderar as comunidades. Basta-lhes serem «ovelhas» que se deixam conduzir.
Outra grande desilusão é com as lideranças eclesiásticas. Esta desilusão acontece, porque as pessoas costumam encontrar igrejas paradoxais, isto é, opostas umas às outras. Em algumas, deparam-se com líderes das igrejas demasiadamente retóricos, carregados de regras absurdas que não levam a lado nenhum. Não cativam ninguém e especialmente os mais jovens. Alie-se a tudo isto a grande desilusão que as pessoas têm com líderes que abusaram de crianças, fizeram roubos e falcatruas além da falta de transparência quanto ao uso dos recursos financeiros, que pertencem a todos e não apenas a alguns privilegiados. Porque são chamados a serem Igreja todos os fiéis apenas em alguns aspectos e noutros não, por exemplo, neste das finanças e do património que ainda é muito vasto nas igrejas?
O principal mal que leva à debandada foi ou é a maldição do inferno e o poder pelo poder. O tempo dos pastores que amaldiçoam já devia ter passado, a humanidade de hoje está mais esclarecida, pensa pela sua própria cabeça e tem consciência do que é a liberdade e a autonomia. E mais se aprende que «O poder é a maior tentação, porque, como disse quem sabe - Henri Kissinger -, ele é o maior afrodisíaco: o gozo de subordinar e dobrar as vontades alheias à sua própria vontade, ao seu domínio. No limite, o desejo de ser Deus, concebido como Omnipotência. De facto, omnipotentes, seríamos imortais, pois mataríamos a morte (Anselmo Borges, DN - 3 de Março de 2012). E como lembrou há dias o cónego Rui Osório, já Santa Catarina de Sena prevenia: os servidores do Papa, umas vezes são "ninho de anjos"; outras, um "covil de víboras". Quem diz do Papa, diz para todo o género de autoridade na Igreja…
Neste esquecimento da fraternidade, principal razão de ser do Cristianismo, radica que os principais responsáveis pela debandada estão dentro das igrejas e não fora como tantas vezes se pensa e apregoa - o Papa Bento XVI já assumiu isso.
Por fim, a liberdade cristã que se recebe da Páscoa de Jesus Cristo, renova-nos na consciência de que somos mulheres e homens livres para viver no amor. Nada é mais contraditório no discurso e na linguagem das igrejas. O amor só vale se for descarnado e sem implicação concreta. O «amor a Deus» é que é, mas acima das nuvens. Porém, queremos crer que existem os que aprenderam a ser livres e que descobriram que a vida cristã é feita de liberdade em Cristo, e que Cristo é a regra e o padrão para todos; aqueles que aprendem que tudo lhes é lícito, mas nem tudo lhes convêm, e que aceitam submeter-se ao jugo de Cristo apenas, já não conseguem pôr o seu pescoço em cabrestos de homens. Aceitam o jugo de Cristo, não o de homens.
Quando o não respeito pela liberdade cristã não acontece, é fruto de líderes que estão preocupados, não com o bem-estar da igreja, mas consigo mesmos. Crentes maduros em Cristo possuem uma percepção da vida cristã mais elevada e estão cada vez mais a fugir das grandes prisões da fé. Daí que a aversão às igrejas tomou tal rumo que não sabemos onde vai parar. Que Jesus Cristo ressuscitado nos ajude! Boa Páscoa para todos.
Há uma desilusão com as estruturas eclesiásticas. As pessoas não entendem nada de nada das estruturas eclesiásticas e das suas denominações. A nomenclatura e estrutura das igrejas é totalmente anacrónica e as designações que se lhes aplica nada diz às mulheres e homens dos nossos tempos. Quantos são os que sabem o que é o Papa, os Bispos, os Padres (sem falar dos diversos títulos anacrónicos e injustamente atribuídos aos membros da hierarquia), os Concílios, os Sínodos, os Presbitérios, as Congregações, os Movimento e toda a nomenclatura que se apregoa na linguagem das igrejas que só serve para consumo interno? - Sem esquecer todos esses nomes que as igrejas utilizam como se toda a gente soubesse deste vocabulário.
As estruturas estão carregadas de regras ou estatutos rígidos que estão na cabeça dos líderes e quase sempre desconhecidos dos membros que compõem os diversos conjuntos. Por fim, resta o povo simples que é tratado como fiel, a quem é pedido que obedeça e dê esmolas silenciosamente. Nada tem a dizer da escolha dos membros que irão liderar as comunidades. Basta-lhes serem «ovelhas» que se deixam conduzir.
Outra grande desilusão é com as lideranças eclesiásticas. Esta desilusão acontece, porque as pessoas costumam encontrar igrejas paradoxais, isto é, opostas umas às outras. Em algumas, deparam-se com líderes das igrejas demasiadamente retóricos, carregados de regras absurdas que não levam a lado nenhum. Não cativam ninguém e especialmente os mais jovens. Alie-se a tudo isto a grande desilusão que as pessoas têm com líderes que abusaram de crianças, fizeram roubos e falcatruas além da falta de transparência quanto ao uso dos recursos financeiros, que pertencem a todos e não apenas a alguns privilegiados. Porque são chamados a serem Igreja todos os fiéis apenas em alguns aspectos e noutros não, por exemplo, neste das finanças e do património que ainda é muito vasto nas igrejas?
O principal mal que leva à debandada foi ou é a maldição do inferno e o poder pelo poder. O tempo dos pastores que amaldiçoam já devia ter passado, a humanidade de hoje está mais esclarecida, pensa pela sua própria cabeça e tem consciência do que é a liberdade e a autonomia. E mais se aprende que «O poder é a maior tentação, porque, como disse quem sabe - Henri Kissinger -, ele é o maior afrodisíaco: o gozo de subordinar e dobrar as vontades alheias à sua própria vontade, ao seu domínio. No limite, o desejo de ser Deus, concebido como Omnipotência. De facto, omnipotentes, seríamos imortais, pois mataríamos a morte (Anselmo Borges, DN - 3 de Março de 2012). E como lembrou há dias o cónego Rui Osório, já Santa Catarina de Sena prevenia: os servidores do Papa, umas vezes são "ninho de anjos"; outras, um "covil de víboras". Quem diz do Papa, diz para todo o género de autoridade na Igreja…
Neste esquecimento da fraternidade, principal razão de ser do Cristianismo, radica que os principais responsáveis pela debandada estão dentro das igrejas e não fora como tantas vezes se pensa e apregoa - o Papa Bento XVI já assumiu isso.
Por fim, a liberdade cristã que se recebe da Páscoa de Jesus Cristo, renova-nos na consciência de que somos mulheres e homens livres para viver no amor. Nada é mais contraditório no discurso e na linguagem das igrejas. O amor só vale se for descarnado e sem implicação concreta. O «amor a Deus» é que é, mas acima das nuvens. Porém, queremos crer que existem os que aprenderam a ser livres e que descobriram que a vida cristã é feita de liberdade em Cristo, e que Cristo é a regra e o padrão para todos; aqueles que aprendem que tudo lhes é lícito, mas nem tudo lhes convêm, e que aceitam submeter-se ao jugo de Cristo apenas, já não conseguem pôr o seu pescoço em cabrestos de homens. Aceitam o jugo de Cristo, não o de homens.
Quando o não respeito pela liberdade cristã não acontece, é fruto de líderes que estão preocupados, não com o bem-estar da igreja, mas consigo mesmos. Crentes maduros em Cristo possuem uma percepção da vida cristã mais elevada e estão cada vez mais a fugir das grandes prisões da fé. Daí que a aversão às igrejas tomou tal rumo que não sabemos onde vai parar. Que Jesus Cristo ressuscitado nos ajude! Boa Páscoa para todos.