sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Apesar de tudo...ele tem razão!

Jardim diz que «já se reconhece isso até na conversa do homem da rua»
Não há vontade de ver Madeira e continente juntos
 
O presidente do Governo Regional voltou a assegurar, ontem, ao JM, que as negociações com o Governo da República, em torno do plano de resgate financeiro da Região, «têm decorrido muito bem». Falando à margem de um almoço que decorreu nas instalações do CEMA, entre membros do Governo e grupo parlamentar, Jardim sublinhou que não será necessária a sua intervenção, uma vez que «o secretário das Finanças tem conduzido muito bem essa matéria e tem a confiança toda do Governo».
Para mais, lembra que «não é o ministro das Finanças que está sentado à mesa, de maneira que cada parte tem as respectivas confianças para desenvolver o ajustamento financeiro».
Confrontando com a possibilidade de se estar a assistir a uma excessiva troca de palavras relativamente a esta questão, Alberto João Jardim limitou-se a dizer que «temos de fazer aquilo que tem de ser feito». E recordou que «a Região infraestruturou-se a tempo» ao contrário de outros que «gastaram o dinheiro em subsídio, transportes e coisas do género». Em consequência desse trabalho feito, «a Região tem de pagar a sua dívida, porque as dívidas são para se pagar». Na certeza, porém, de que a Madeira «não conta com o Estado para nada», nem para «pagar a dívida». Aliás, «o Estado nesta matéria assumiu apenas os encargos do continente», situação que, de resto, tem sido uma constante desde o início da Autonomia, observou.
«O Estado nunca investiu, praticamente, na Madeira. Nós aguentamos tudo sozinhos. Vamos continuar a aguentar tudo sozinhos, até o dia em que se chegue à conclusão de que não vale a pena estarmos na mesma Nação», disse, acrescentando que, todavia, há ainda muitas matérias que «estão no ar», que não são para resolver no âmbito do plano.

Muito rigorosos com o Estado

«A Região vai exigir o cumprimento da Constituição e do Estatuto Político Administrativo em matéria de saúde e de educação e cultura», voltou a recordar Jardim, frisando que todas estas questões só serão levantadas no próximo ano, por ocasião da Revisão da Lei das Finanças Regionais, que é imposta pela “troika”.
«O Estado tem sido muito rigoroso connosco. E nós vamos ser muito rigorosos com o Estado. E como se diz que Portugal ainda é um Estado democrático e de direito, espero não ser necessário recorrer às instâncias judiciais para recuperarmos os dinheiros que gastamos em Saúde e Educação – e que eram encargos da República – e para que, de futuro, fique estabelecido que a República tem de passar a cumprir a Constituição na Madeira. Quer dizer, não é só haver rigor com a Madeira. A Madeira também tem de exigir rigor por parte do Estado», prosseguiu.

Imposições da “troika”

Por outro lado, Jardim lamenta a posição das instâncias europeias face a toda esta questão. «Elas já estão metidas nisto através da “troika”. E muitas das imposições que a República fez à Madeira, foi a “troika” que impôs à República para que impusesse à Madeira. Esta é a verdade nua e crua», observou.

Não há vontade de viver juntos

De igual forma, o governante madeirense lamentou a forma como, hoje, se olha para a Madeira. «Toda a gente sabe os incidentes que decorreram ao longo destes anos e, principalmente, os que envolveram a última campanha eleitoral. Houve sempre uma desinformação no continente sobre a Madeira. Não há aqui qualquer confronto entre os continentais e os madeirenses. Houve, sim, gente que se movimentou no sentido de criar esta separação. Agora, quem fez isto vai assumir as consequências disso. Porque, já se reconhece isso até na conversa do homem da rua. Não há de facto, neste momento, um espírito de vontade de vivermos juntos, continente e Madeira», relevou.
Ao longo do almoço, que juntou cerca de 60 elementos entre Governo Regional e Grupo Parlamentar, Jardim não fez questão de deixar grandes mensagens, defendendo que «mensagens é uma coisa muito corriqueira e um pouco pires».