Um grupo de personalidades da área
classicamente denominada «esquerda», encimado pelo Dr. Mário Soares e
com a participação, entre outros, do Professor Mário Ruivo, e do Dr.
José Medeiros Ferreira, tornaram público um manifesto, sobordinado ao
título «um novo rumo», sobre as incidências da actual crise
económico-social.
É positivo para o regime democrático português que os cidadãos
intervenham com seriedade. Ao menos isto, ainda não se retirou aos
Portugueses, embora tal Direito seja mais para uns e menos para outros.
Concordo que «não podemos assistir impávidos à escalada da anarquia
financeira internacional e ao desmantelamento dos Estados, que colocam
em causa a sobrevivência da União Europeia».
Também concordo que «a União Europeia acordou tarde para a resolução da
crise monetária, financeira e política em que está mergulhada. Porém,
sem a resolução dos problemas europeus – resolução federalista,
acrescento eu, pois outra não há, senão o salto em frente -
dificilmente Portugal e os outros Estados retomarão o caminho de
progresso e coesão social. É preciso encontrar um novo paradigma para a
União Europeia».
Também verdade, verdadinha, é que «as correntes trabalhistas,
socialistas e sociais-democratas adeptas da 3ª via, bem como a
democracia-cristã, foram colonizadas na viragem do século pelo
situacionismo neo-liberal».
Igualmente subscrevo que «num momento tão grave como este, é decisivo
promover a reconciliação dos cidadãos com a política, clarificar o papel
dos poderes públicos e do Estado que deverá estar ao serviço exclusivo
do interesse geral.
Os obscuros jogos do capital podem fazer desaparecer a própria
democracia, como reconheceu a Igreja. Com efeito, a destruição e o caos
que os mercados financeiros mundiais têm produzido nos últimos tempos
são inquietantes para a liberdade e a democracia. O recente recurso a
governos tecnocratas na Grécia e na Itália exemplifica os perigos que
alguns regimes democráticos podem correr na actual emergência. Ora a
União Europeia só se pode fazer e refazer assente na legitimidade e na
força da soberania popular e do regular funcionamento das instituições
democráticas».
Rejeitando, como rejeito, o liberalismo económico, mas também a
estatização socialista ou comunista, obviamente que não mais do que o
transcrito, posso subscrever neste oportuno documento.
Primeiro, porque o socialismo, e não apenas quando se travestiu da tal
pseudo-«terceira via», o socialismo, na Europa e bastante
em Portugal, tem também sérias responsabilidades no estado a que
chegámos. Não só pelas políticas demagógicas, feitas de promessas,
eleitoralismos e ilusões, que arruinaram financeiramente os Estados, mas
também pela cobertura e cumplicidade que o socialismo igualmente deu ao
desenvolvimento do capitalismo selvagem e ao império do dólar.
Voltar ao socialismo clássico, é um absurdo, não há condições para tal, o
mundo de facto mudou muito, sobretudo nas novas tecnologias e seus
impactos globalizantes.
Segundo, para além de eu defender o federalismo europeu como único salto
em frente possível, ao menos para acabar com a impotência, com a feira
de vaidades e com o cinismo onde cada Estado anda «à procura do seu»,
no que a Europa mergulhou, há que considerar que os grandes partidos
europeus, o Partido Popular Europeu e a Internacional Socialista, estão
velhos, ultrapassados pelas circunstâncias presentes e pelo cinzentismo
anti-dialéctico da sua prática consensualista.
Terceiro, o manifesto em apreço continua agarrado a preconceitos, como o
da ideia sem fundamento que só a «esquerda» clássica tem, ou ainda
terá, capacidade para a redenção da sociedade, ou que tem o monopólio da
justiça social e da democracia.
Daí o manifesto se marcar pelo seu dogmatismo contra as «privatizações»,
quando o que o mundo precisa é de pragmaticamente, caso a caso,
encontrar as melhores soluções para o Bem Comum.
Quarto, o manifesto encabeçado pelo Dr. Mário Soares esquece que muito
antes do esporádico e falhado aparecimento da tal «terceira via» da
«esquerda» convencional, de há muito existe uma outra Terceira Via que
os Estados europeus nunca de facto experimentaram na prática, que é o
Personalismo, nomeadamente o decorrente da Doutrina Social da Igreja
Católica.
Para mim, é este o caminho. E não o liberalismo presentemente imperante,
nem os estatismos socialista ou comunista. E muito menos as
extremas-direitas, que espreitam.
Quinto, directo ao que nos interessa. O manifesto pouco diz sobre
Portugal em concreto, e muito menos aponta soluções, a não ser, de novo,
um utópico, falhado, e desajustado regresso ao socialismo tradicional.
Quando a situação é mais preocupante do que parece.
Quando não vai ser possível, sempre, distrair a Opinião Pública portuguesa com «a Madeira» |
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