sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um novo rumo


ALBERTO JOÃO JARDIM
«UM NOVO RUMO», MANIFESTO ENCABEÇADO PELO DR. MÁRIO SOARES
 

Um grupo de personalidades da área classicamente denominada «esquerda», encimado pelo Dr. Mário Soares e com a participação, entre outros, do Professor Mário Ruivo, e do Dr. José Medeiros Ferreira, tornaram público um manifesto, sobordinado ao título «um novo rumo», sobre as incidências da actual crise económico-social.
É positivo para o regime democrático português que os cidadãos intervenham com seriedade. Ao menos isto, ainda não se retirou aos Portugueses, embora tal Direito seja mais para uns e menos para outros.
Concordo que «não podemos assistir impávidos à escalada da anarquia financeira internacional e ao desmantelamento dos Estados, que colocam em causa a sobrevivência da União Europeia».
Também concordo que «a União Europeia acordou tarde para a resolução da crise monetária, financeira e política em que está mergulhada. Porém, sem a resolução dos problemas europeus – resolução federalista, acrescento eu, pois outra não há, senão o salto em frente - dificilmente Portugal e os outros Estados retomarão o caminho de progresso e coesão social. É preciso encontrar um novo paradigma para a União Europeia».
Também verdade, verdadinha, é que «as correntes trabalhistas, socialistas e sociais-democratas adeptas da 3ª via, bem como a democracia-cristã, foram colonizadas na viragem do século pelo situacionismo neo-liberal».
Igualmente subscrevo que «num momento tão grave como este, é decisivo promover a reconciliação dos cidadãos com a política, clarificar o papel dos poderes públicos e do Estado que deverá estar ao serviço exclusivo do interesse geral.
Os obscuros jogos do capital podem fazer desaparecer a própria democracia, como reconheceu a Igreja. Com efeito, a destruição e o caos que os mercados financeiros mundiais têm produzido nos últimos tempos são inquietantes para a liberdade e a democracia. O recente recurso a governos tecnocratas na Grécia e na Itália exemplifica os perigos que alguns regimes democráticos podem correr na actual emergência. Ora a União Europeia só se pode fazer e refazer assente na legitimidade e na força da soberania popular e do regular funcionamento das instituições democráticas».
Rejeitando, como rejeito, o liberalismo económico, mas também a estatização socialista ou comunista, obviamente que não mais do que o transcrito, posso subscrever neste oportuno documento.
Primeiro, porque o socialismo, e não apenas quando se travestiu da tal pseudo-«terceira via», o socialismo, na Europa e bastante em Portugal, tem também sérias responsabilidades no estado a que chegámos. Não só pelas políticas demagógicas, feitas de promessas, eleitoralismos e ilusões, que arruinaram financeiramente os Estados, mas também pela cobertura e cumplicidade que o socialismo igualmente deu ao desenvolvimento do capitalismo selvagem e ao império do dólar.
Voltar ao socialismo clássico, é um absurdo, não há condições para tal, o mundo de facto mudou muito, sobretudo nas novas tecnologias e seus impactos globalizantes.
Segundo, para além de eu defender o federalismo europeu como único salto em frente possível, ao menos para acabar com a impotência, com a feira de vaidades e com o cinismo onde cada Estado anda «à procura do seu», no que a Europa mergulhou, há que considerar que os grandes partidos europeus, o Partido Popular Europeu e a Internacional Socialista, estão velhos, ultrapassados pelas circunstâncias presentes e pelo cinzentismo anti-dialéctico da sua prática consensualista.
Terceiro, o manifesto em apreço continua agarrado a preconceitos, como o da ideia sem fundamento que só a «esquerda» clássica tem, ou ainda terá, capacidade para a redenção da sociedade, ou que tem o monopólio da justiça social e da democracia.
Daí o manifesto se marcar pelo seu dogmatismo contra as «privatizações», quando o que o mundo precisa é de pragmaticamente, caso a caso, encontrar as melhores soluções para o Bem Comum.
Quarto, o manifesto encabeçado pelo Dr. Mário Soares esquece que muito antes do esporádico e falhado aparecimento da tal «terceira via» da «esquerda» convencional, de há muito existe uma outra Terceira Via que os Estados europeus nunca de facto experimentaram na prática, que é o Personalismo, nomeadamente o decorrente da Doutrina Social da Igreja Católica.
Para mim, é este o caminho. E não o liberalismo presentemente imperante, nem os estatismos socialista ou comunista. E muito menos as extremas-direitas, que espreitam.
Quinto, directo ao que nos interessa. O manifesto pouco diz sobre Portugal em concreto, e muito menos aponta soluções, a não ser, de novo, um utópico, falhado, e desajustado regresso ao socialismo tradicional.
Quando a situação é mais preocupante do que parece.
Quando não vai ser possível, sempre, distrair a Opinião Pública portuguesa com «a Madeira»