A propósito da Revolta de Madeira de 1931
Paulo Miguel Rodrigues
4 comentários
A Revolta da Madeira, iniciada na madrugada de 4 Abril de 1931, de que hoje se comemora o 81º aniversário, inseriu-se num período de forte contestação que se fez sentir no arquipélago no início da década de 30, que começara, em concreto, com a Revolta da Farinha (em Janeiro daquele ano) e depois se prolongou nos anos seguintes, até culminar na Revolta do Leite (meados de 1936). O movimento que se gerou no Funchal (e depois se estendeu aos Açores e à Guiné) teve múltiplas motivações - e nunca, saliente-se, um elemento determinante - podendo destacar-se desde os problemas e queixas a respeito dos abastecimentos, dos monopólios, da queda das exportações, do desemprego e da fome, até às reivindicações em defesa da ideia da especificidade madeirense, passando por questões financeiras, fiscais e tributárias, pela oposição política contra a Ditadura e contra o chamado poder central e até pela coincidência de então se encontrarem na Ilha militares e civis deportados, contrários ao novo sistema político que se estava a instituir. Tudo isto, que fique claro, caldeado e embalado por reivindicações autonomistas prementes, que não eram novas.
Na prática, a Revolta, impulsionada também pelos reflexos da crise internacional de 1929, surgiu como resposta à ditadura financeira, ao desejo manifesto de construir, a partir de Lisboa, uma nova unidade política e ocorreu num quadro específico de avanço no sentido da organização corporativa, tudo realizado sob a égide de Salazar, visando uma evidente subordinação aos ditames do Estado.
Assim, na sua versão madeirense, a crise aguda, por isso mesmo geral e resultado da correlação de vários factores, até se pode considerar que começou na suposta (porque armadilhada) concessão de mais autonomia (mas sem a necessária capacidade financeira) decretada em 1928, passou pela corrida aos depósitos bancários (que, entre outras coisas, levou à famosa falência da Casa Henrique Figueira da Silva) e atingiu o auge com a imposição do novo regime cerealífero.
Por último, numa perspectiva estritamente militar, a Revolta foi uma espécie de último esgar, relativamente organizado, contra a ampla unidade que Salazar já começara a construir, que aliás acabaria por lhe dar o suporte social do “Estado Novo” e permitir-lhe a reestruturação política do aparelho do Estado durante os anos 30.
O que aprendemos, se é que aprendemos alguma coisa…, com a revolta da Madeira de 1931, que durou até 2 de Maio? Desde logo, que a preservação da Memória é essencial para um efectivo exercício da cidadania, mas que tal só faz sentido se com isso soubermos crescer. Do mesmo modo que em 1931 o país, e a Madeira em particular, se preparava para entrar na 2ª República, hoje será importante ter presente que vivendo Portugal já uma 4ª República - mas sem que ainda disso muitos tenham consciência - é essencial tentar perceber se vai inserir a Madeira neste novo quadro político. Até porque se detectam vários paralelismos entre as duas épocas, que aqui não cabe desenvolver.
Enfim, felizmente que hoje já não temos dificuldades financeiras e problemas no sistema político, o desemprego é uma miragem, estamos bem servidos de transportes e abastecimentos, acabaram-se os monopólios, o problema fiscal já não existe e, claro, a credibilidade dos partidos e a confiança na elite política e na efectiva separação dos poderes nunca foi tão elevada… Vivemos hoje, portanto, no melhor dos mundos. Ai a História!
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Comentários
Este espaço é destinado à construçăo de ideias e à expressăo de opiniăo.
Pretende-se um fórum construtivo e de reflexăo, năo um cenário de ataques aos pensamentos contrários.
Pretende-se um fórum construtivo e de reflexăo, năo um cenário de ataques aos pensamentos contrários.
Pedro PL
enquanto a Madeira fizer parte de Portugal, isto não vai melhorar, porque Portugal não vai permitir que a Madeira tenha qualquer tipo de vantagem que a torne sustentável... por exemplo: um regime fiscal próprio e suficientemente atrativo.
Isto é uma questão de ego colonial reprimido e ainda magoado pelos 200 anos de perdas sucessivas de colónias, riquezas, influência, prestigio e outras possessões. Não se esqueçam que os continentais não consideram que a Madeira faça parte integrante de Portugal, apenas acham que lhes pertence (ou seja é uma possessão e não uma parte do país).
Isto é uma questão de ego colonial reprimido e ainda magoado pelos 200 anos de perdas sucessivas de colónias, riquezas, influência, prestigio e outras possessões. Não se esqueçam que os continentais não consideram que a Madeira faça parte integrante de Portugal, apenas acham que lhes pertence (ou seja é uma possessão e não uma parte do país).
já repararam nas campanhas publicitárias: "campanha valida para TODO o País (esta promoção não está disponível NAS ILHAS)" , nem sequer se dão ao trabalho de se referir ao nome dos arquipélagos (afinal de contas, as Berlenga também são ilhas), mas não é da Berlengas que eles se referem.
Muitos Madeirenses podem até se sentir absolutamente portugueses, mas Portugal não nos considera dessa forma.
Há 21 horas e 33 minutos.
Miguel Gouveia
Os transportes sao caros.....é alto....o desemprego ..a carga fiscal elevada....existe fome ....
Os monopolios continuam...
Ate votam os mortos ???
Ou...... até. os mortos estão nos cadernos...
E quem manda esta em Berlim...
Ou seja ..esta tudo igual ou pior ????
Os monopolios continuam...
Ate votam os mortos ???
Ou...... até. os mortos estão nos cadernos...
E quem manda esta em Berlim...
Ou seja ..esta tudo igual ou pior ????
Há 23 horas e 6 minutos.
Miguel Gouveia
Os transportes sao caros.....é alto....o desemprego ..a carga fiscal elevada....existe fome ....
Os monopolios continuam...
Ate votam os mortos ???
Ou...... até. os mortos estão nos cadernos...
E quem manda esta em Berlim...
Ou seja ..esta tudo igual ou pior ????
Os monopolios continuam...
Ate votam os mortos ???
Ou...... até. os mortos estão nos cadernos...
E quem manda esta em Berlim...
Ou seja ..esta tudo igual ou pior ????
Há 23 horas e 7 minutos.
Bem visto
Coloca o dedo na ferida. Receei, no inicio do texto, que enveredasse por louvaminhar o poder. Não faz deixa ao raciocínio do leitor questões bem pertinentes. Porém, a iliteracia reinante não faz prever grande adesão à causa. Isto é: pensar não é para a maioria
Há 1 dia e 5 horas.