domingo, 5 de abril de 2015

A propósito da Revolta de Madeira de 1931

 
Paulo Miguel Rodrigues
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A Revolta da Madeira, iniciada na madrugada de 4 Abril de 1931, de que hoje se comemora o 81º aniversário, inseriu-se num período de forte contestação que se fez sentir no arquipélago no início da década de 30, que começara, em concreto, com a Revolta da Farinha (em Janeiro daquele ano) e depois se prolongou nos anos seguintes, até culminar na Revolta do Leite (meados de 1936). O movimento que se gerou no Funchal (e depois se estendeu aos Açores e à Guiné) teve múltiplas motivações - e nunca, saliente-se, um elemento determinante - podendo destacar-se desde os problemas e queixas a respeito dos abastecimentos, dos monopólios, da queda das exportações, do desemprego e da fome, até às reivindicações em defesa da ideia da especificidade madeirense, passando por questões financeiras, fiscais e tributárias, pela oposição política contra a Ditadura e contra o chamado poder central e até pela coincidência de então se encontrarem na Ilha militares e civis deportados, contrários ao novo sistema político que se estava a instituir. Tudo isto, que fique claro, caldeado e embalado por reivindicações autonomistas prementes, que não eram novas.
Na prática, a Revolta, impulsionada também pelos reflexos da crise internacional de 1929, surgiu como resposta à ditadura financeira, ao desejo manifesto de construir, a partir de Lisboa, uma nova unidade política e ocorreu num quadro específico de avanço no sentido da organização corporativa, tudo realizado sob a égide de Salazar, visando uma evidente subordinação aos ditames do Estado.
Assim, na sua versão madeirense, a crise aguda, por isso mesmo geral e resultado da correlação de vários factores, até se pode considerar que começou na suposta (porque armadilhada) concessão de mais autonomia (mas sem a necessária capacidade financeira) decretada em 1928, passou pela corrida aos depósitos bancários (que, entre outras coisas, levou à famosa falência da Casa Henrique Figueira da Silva) e atingiu o auge com a imposição do novo regime cerealífero.
Por último, numa perspectiva estritamente militar, a Revolta foi uma espécie de último esgar, relativamente organizado, contra a ampla unidade que Salazar já começara a construir, que aliás acabaria por lhe dar o suporte social do “Estado Novo” e permitir-lhe a reestruturação política do aparelho do Estado durante os anos 30.
O que aprendemos, se é que aprendemos alguma coisa…, com a revolta da Madeira de 1931, que durou até 2 de Maio? Desde logo, que a preservação da Memória é essencial para um efectivo exercício da cidadania, mas que tal só faz sentido se com isso soubermos crescer. Do mesmo modo que em 1931 o país, e a Madeira em particular, se preparava para entrar na 2ª República, hoje será importante ter presente que vivendo Portugal já uma 4ª República - mas sem que ainda disso muitos tenham consciência - é essencial tentar perceber se vai inserir a Madeira neste novo quadro político. Até porque se detectam vários paralelismos entre as duas épocas, que aqui não cabe desenvolver.
Enfim, felizmente que hoje já não temos dificuldades financeiras e problemas no sistema político, o desemprego é uma miragem, estamos bem servidos de transportes e abastecimentos, acabaram-se os monopólios, o problema fiscal já não existe e, claro, a credibilidade dos partidos e a confiança na elite política e na efectiva separação dos poderes nunca foi tão elevada… Vivemos hoje, portanto, no melhor dos mundos. Ai a História!
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Comentários

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updown
enquanto a Madeira fizer parte de Portugal, isto não vai melhorar, porque Portugal não vai permitir que a Madeira tenha qualquer tipo de vantagem que a torne sustentável... por exemplo: um regime fiscal próprio e suficientemente atrativo.
Isto é uma questão de ego colonial reprimido e ainda magoado pelos 200 anos de perdas sucessivas de colónias, riquezas, influência, prestigio e outras possessões. Não se esqueçam que os continentais não consideram que a Madeira faça parte integrante de Portugal, apenas acham que lhes pertence (ou seja é uma possessão e não uma parte do país).
já repararam nas campanhas publicitárias: "campanha valida para TODO o País (esta promoção não está disponível NAS ILHAS)" , nem sequer se dão ao trabalho de se referir ao nome dos arquipélagos (afinal de contas, as Berlenga também são ilhas), mas não é da Berlengas que eles se referem.
Muitos Madeirenses podem até se sentir absolutamente portugueses, mas Portugal não nos considera dessa forma.
Os transportes sao caros.....é alto....o desemprego ..a carga fiscal elevada....existe fome ....
Os monopolios continuam...
Ate votam os mortos ???
Ou...... até. os mortos estão nos cadernos...
E quem manda esta em Berlim...
Ou seja ..esta tudo igual ou pior ????
Os transportes sao caros.....é alto....o desemprego ..a carga fiscal elevada....existe fome ....
Os monopolios continuam...
Ate votam os mortos ???
Ou...... até. os mortos estão nos cadernos...
E quem manda esta em Berlim...
Ou seja ..esta tudo igual ou pior ????
Coloca o dedo na ferida. Receei, no inicio do texto, que enveredasse por louvaminhar o poder. Não faz deixa ao raciocínio do leitor questões bem pertinentes. Porém, a iliteracia reinante não faz prever grande adesão à causa. Isto é: pensar não é para a maioria