quinta-feira, 2 de abril de 2015

Fábula do cão vadio *

Os humanos são, na verdade, muito estranhos!

 
João Luís Gonçalves
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Um pequeno cachorro vadio, após a morte da sua mãe, teve que procurar, sozinho, comida para sobreviver. A sua magreza não mentia a fome que passava. Alimentava-se, apenas, de restos de alimentos nas lixeiras, quando os encontrava. Ao aproximar-se das habitações, sempre que lhe cheirava a comida, muitas foram as vezes em que o cão foi corrido à pedrada. Ninguém queria um cão vadio, magro, sujo e, certamente, cheio de pulgas à sua porta.
Nova vida
Um dia, um senhor nobre e rico passeava de rede, transportado por moços, num caminho de pedra calçada nas suas terras de colonia. Esse nobre, que muito gostava de animais, reparou que o cão, apesar de vadio, era novo, de boa raça, tinha talho de crescer e seria ótimo para guardar a sua quinta e terras.
O senhor ordenou que um dos moços apanhasse o cão, levou-o consigo, mandou lavá-lo, deu-lhe boa comida, preparou uma bela e confortável casota na sua quinta onde o cão passou a viver.
O animal nunca mais passou fome, rapidamente recuperou as forcas, nada lhe faltava, vivia feliz a vigiar com afinco e dedicação a quinta do seu dono, que muito bem o estimava.
Certo dia, o cão, ainda se adaptava à nova vida, ouviu o ruído de alguém a tentar assaltar um muro da quinta. O animal correu, ladrou e atirou-se aos ladrões, os quais, assustados, recuaram de imediato para fora da propriedade.
Hipocrisia humana
Os ladrões, no entanto, não desistiram e tentaram aliciar o cão para que este se tornasse amigo e, assim, poderiam entrar na quinta e roubar à vontade. Para isso, os gatunos atiraram ao cão deliciosa comida e até guloseimas. Ao mesmo tempo, dirigiram-lhe palavras lisonjeiras: - Que bonito cãozinho! Queres passear connosco?
O cão, fiel ao seu dono, não se deixou levar pela bajulação dos ladrões. Pelo contrário, o animal reconheceu alguns dos bandidos. Estes, semanas antes, tinham-lhe atirado pedras, numa das vezes em que o cão, ainda vadio e esfomeado, procurava por comida junto a umas casas.
Durante a noite, enquanto contemplava as estrelas e a lua, o animal interrogava-se sobre a hipocrisia dos humanos e cantarolava:
ao cão pobre tudo falta,
de amigos não tem ninguém,
ao cão rico tudo sobra,
até lhe dão o que já tem!
sendo rico bem tratado,
com bolos aliciavam,
enquanto pobre faminto
só pedras me atiravam!

- Os seres humanos são, na verdade, muito estranhos! – pensava, perplexo, o cão vadio!