segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Cisma à vista?

A Igreja Alemã está a refletir como poderá e deverá ser o seu Caminho Sinodal num próximo futuro. Não apenas ela, mas toda a Igreja Universal, incluindo a do Funchal, que já completou um relatório enviado para a Conferência Episcopal Portuguesa e, depois, para ser examinado em Roma. Será que o Caminho Sinodal Alemão será semeado de problemas e espinhos tão graves que, alguns julgam que ele está a mudar a face da Igreja e gere um cisma? É certo que desde o século XIX, as igrejas na Alemanha têm um Estatuto que lhes permite receber por via dos impostos do Estado, um valor pago por cada fiel registado na sua religião, que lhes tem permitido um funcionamento diferente dos outros países, como sucede em Portugal. O Bispo W. Kempf, que tomou parte no Concílio Vaticano II, ao voltar de uma das reuniões na Alemanha, veio escandalizado por alguns casos e pela forma como tinham decidido todos juntos. Um Sínodo em Wurzburg, entre 1971 e 75 apostou na criação de assistentes pastorais e paroquiais de leigos, homens e mulheres, para exercerem trabalhos pastorais em conjunto com os párocos e bispos. Os leigos estudaram Teologia para obterem a Licenciatura, além de três anos de formação prática nas paróquias ou dioceses, antes de iniciarem o seu trabalho, sem nunca distinguirem entre homens e mulheres. Infelizmente, alguns casos de abusos sexuais de clérigos e outros problemas, levaram a que milhares de fiéis deixaram de declarar pertencer à igreja Católica, o que provocou diminuição nas missas dominicais e no financiamento do Estado que, deixou de pagar os impostos referentes aos que deixaram a sua confissão religiosa. Este cenário aparece agora no Caminho Sinodal, onde se pede aos fiéis para não abandonarem a Igreja, tanto mais que o seu número diminuiu, como sucede também entre nós, mas por outros motivos. O Caminho Sinodal continua a ser percorrido. Um diácono português que vive na Alemanha desde 1991, com trabalho permanente, afirma: “Toda a vida fiz trabalho pastoral e preguei nas missas, preparei pessoas para casamentos e batizados... pelo que eu resolvi enveredar por esta vocação”. O Caminho Sinodal tem quatro temas principais: participação e separação de poderes na Igreja, moral sexual, forma de vida presbiteral, mulheres nos ministérios e ofícios da Igreja. Reúnem-se em pequenos grupos presenciais, na sala estão sentados pelo seu apelido, tem um bispo ao lado de um jovem, um tradicionalista ao lado de um progressista. Tudo é transparente, com transmissão direta das sessões, e muitos comunicados de imprensa. Na Alemanha cada paróquia, ou diocese, tem um conselho pastoral com leigos que aconselham e tomam decisões em conjunto com o pároco, vigário ou bispo, que não podem ir contra as decisões tomadas, a não ser uma decisão contrária ao magistério da Igreja. O que pode dividir as pessoas são questões pastorais, humanas e visões diferentes, nunca questões dogmáticas. Apesar destes princípios, diz-se “há questões que podem correr o perigo de um cisma”. Uma carta assinada por 70 bispos de todo o mundo, apresentou a situação alemã anormal, sobre a aceitação de casais homossexuais, o fim do celibato obrigatório, o papel das mulheres na Igreja, matérias que deveriam ser aprovadas em Roma. Alguns apelam para a obediência ao Papa, mas sugerindo uma maior abertura para aquilo que fazem agora, que não está contra o Direito canónico, ou seja, a permissão de “leis canónicas regionais,” que permitam uma situação diferente. Na Alemanha a Igreja tem perdido alguma importância, desceu o seu número para abaixo dos 50% nos últimos anos. O principal, dizem outros, é Jesus, se acreditamos que está vivo, o Senhor que celebramos na Páscoa, o Ressuscitado. Onde está Ele na Alemanha, pergunta uma teóloga: “Está nos refugiados, nos imigrantes, e até mesmo naqueles que não são cristãos, os que são descartados pela Igreja. Temos de descobrir Deus fora da Igreja”. Não devem esquecer que Jesus disse a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja...” Tive a missão de visitar centenas de vezes os nossos emigrantes na Alemanha, de orar com eles e alemães em conjunto, realizar procissões a Nossa Senhora de Fátima ou locais, de crismar, pregar retiros a religiosas, encontros com cardeais, bispos, párocos, para protegerem e darem trabalho a emigrantes, a participarem nas suas festas, aconselhar e pedir a religiosas para trabalharem em casas de terceira idade e hospitais na Alemanha. Desde jovem estudante passei férias a apreender alemão, recordo uma senhora idosa, doente e piedosa que me ensinou a rezar a Avé Maria na sua língua, que ainda a rezo algumas vezes, de passar férias nas paróquias, a celebrar e cantar missa em latim. Tive muitas famílias alemães amigas, recebi-as muitas vezes em Roma no Colégio Português, visitado várias vezes pelo Cardeal Ratzinger, recebi da diocese de Colónia, através de Mons. Michel, o suficiente para o quarto andar do Colégio Português, a oferta para as despesas totais da nova Cúria Diocesana do Funchal, e do Mosteiro, igreja e casa de oração para as Clarissas madeirenses na cidade de Nova Iguaçu, junto ao Rio de Janeiro. Tive ótimos professores alemães de Teologia e Sagrada Escritura em Roma, e alunos alemães em todas as universidades onde estudei. Confio e peço a Deus e à Virgem Maria para que o Caminho Sinodal ainda será ocasião de grande união com o Papa Francisco e um sinal de respeito e amor fraterno para com o grande Papa Emérito Bento XVI. Senhor congregai-nos e dai-nos a felicidade da União.